Mangueira: escola se destacou recontando a história de personagens brasileiros - Gabriel Nascimento /Riotur
Mangueira: escola se destacou recontando a história de personagens brasileirosGabriel Nascimento /Riotur
Por Maria Luisa de Melo

Rio - A vitória da Mangueira com enredo que exaltou importantes personagens negros da História do Brasil foi comemorada por lideranças do movimento negro brasileiro. Entre os personagens elevados à condição de protagonista durante o desfile estiveram Dandara, líder quilombola esposa de Zumbi dos Palmares; Luis Gama, advogado abolicionista, e Luisa Mahin, ativista participante da revolta dos Malês.

Para Catarina de Paula, de 75 anos, diretora do Instituto Palmares de Direitos Humanos (IPDH), a conquista é "imensurável". A instituição é referência em memória e cultura negra no país.

"O mais importante foi a verdadeira história chegar à grande população. Nas universidades, já sabemos como tudo, de fato, aconteceu. Mas, com o samba da Mangueira, a população pobre, do morro, cantou e refletiu sobre sua própria história e condição. Isso é algo que reforça muito a nossa luta. Foi um fato inédito para nós", destacou.

Ainda na avaliação de Catarina, havia uma necessidade urgente de um enredo se posicionar desta forma diante do atual cenário político brasileiro.

"Nos sentimos muito ameaçados neste momento pelo qual passa país. Precisamos reagir e a Mangueira foi muito corajosa. Não podemos retroceder em nenhuma das nossas poucas vitórias, como a nossa entrada nas universidades", disse ela, referindo-se à reserva de vagas para negros no Ensino Superior. As cotas raciais foram duramente criticadas pelo presidente Jair Bolsonaro durante sua campanha.

Integrante do coletivo Odarah, Fabíola Oliveira, de 35 anos, defende que a abordagem e a vitória mangueirense serviram para a população perceber as "violências do racismo estrutural".

"Muitos pretos e pretas não entendem porque o negro tem o pior atendimento de saúde nem porque estão sempre na linha de tiro ", disse ela, referindo-se ao fato de os negros serem vítimas de 77% dos homicídios em território nacional. "Mas o samba parece ter voltado à sua origem mais crítica. Fez o povo dançar e pular, mas também questionar sua realidade e origem. Foi um enredo que não retratou o negro como indolente e açoitado. Mas sim como um lutador pela sua própria emancipação".

Morador do Morro do Borel e pesquisador de relações étnicos-raciais do Cefet RJ, Diego Santos destacou que um dos principais ganhos do desfile da Verde e Rosa foi resgatar a autoestima da população negra.

"O que aconteceu na Sapucaí foi um marco histórico. É impossível pensar que a transformação do Brasil não passe pela valorização de seu próprio povo, que é negro. A vitória da Mangueira nos aponta para os anos que virão, de muita resistência. Acendeu a esperança de que o mundo pode ser mais justo e igualitário", destacou o jovem, que já integrou o Conselho Nacional de Juventude da Campanha Jovem Negro Vivo.

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