O ator global participou de rituais na Aldeia Morada Nova, do povo Shanenawa, no Acre. Ele saiu do isolamento ontem, onde ficava em uma casinha de madeira - fotos de Reprodução da Internet
O ator global participou de rituais na Aldeia Morada Nova, do povo Shanenawa, no Acre. Ele saiu do isolamento ontem, onde ficava em uma casinha de madeirafotos de Reprodução da Internet
Por GUSTAVO RIBEIRO

Rio - Enquanto milhares de foliões usavam a máscara de Fábio Assunção para simbolizar o uso de bebidas durante o Carnaval, o próprio artista buscava se afastar da dependência química em um retiro espiritual no Acre. O global passou o feriadão na Aldeia Morada Nova, do povo Shanenawa, no município de Feijó, a 300 km de Rio Branco. Segundo o site local ContilNet, o ator participou de rituais em que ingeriu a Ayahuasca, também conhecido como o chá do Santo Daime.

Trata-se de uma bebida alucinógena, autorizada para fins religiosos, feita com duas plantas amazônicas (o Cipó-mariri e o arbusto Chacrona) de uso comum entre povos indígenas e em diversas seitas. Os usuários acreditam que ela é capaz de curar doenças psíquicas, como a dependência química e a depressão, e físicas, como o câncer e a barriga d'água, além de gerar autoconhecimento. Já a comunidade médica alerta que não há embasamento científico para qualquer cura atribuída ao chá e que o uso fora de rituais religiosos oferece graves riscos à saúde.

Morador de Rio Branco, o biólogo Vanderson Brito, de 35 anos, ex-participante do 'BBB 19', que trabalha com educação indígena há dois anos, afirma que se "reencontrou" depois que começou a participar dos rituais. "O chá é usado como terapia espiritual. É um reencontro consigo. São experiências muito individuais, mas a finalidade é que a pessoa conheça a origem de todos os seus problemas, feridas e mágoas. A partir dali, inicia-se um processo de cura espiritual", diz.

Segundo Vanderson, as sessões são acompanhadas por líderes espirituais, que preparam o chá e o consagram com ensinamentos e cantorias. O rapé, pó amazônico alucinógeno, também é inalado por quem busca o tratamento com os indígenas. "O chá tem textura de mel, é grosso e da cor de café com leite. Durante a sessão, a pessoa toma dois dedinhos várias vezes ao longo da noite e as lideranças fazem cânticos para chamar os espíritos da natureza. Ela começa a ter visões. Os espíritos da floresta mostram caminhos percorridos que não foram bons e possíveis caminhos a serem seguidos", explica.

Gleive Fernandes da Silva, 32, também de Rio Branco, conheceu o vegetal em 2005, por meio do Centro Espírita (cristão) Beneficente União do Vegetal. Ele buscava uma saída para o vício em álcool, maconha e cocaína, que cultivou dos 16 aos 18 anos. O homem garante ter parado de usar drogas após 13 meses bebendo diariamente o chá e que está há 15 anos livre do vício. "Tive visões da minha mãe sofrendo por minha causa. Não sinto mais vontade de drogas", destaca, explicando que o tempo de tratamento varia por pessoa.

De acordo com o psiquiatra Jorge Jaber, é preciso cautela para ingerir a substância, contraindicada para pessoas com histórico de surto psicótico na família. "Essas alucinações podem desencadear um quadro alucinatório que passa após o efeito da substância, mas parte da população (1%) pode desencadear quadros psicóticos irreversíveis".

Fãs mandam mensagens de apoio nas redes sociais

Os fãs e admiradores de Fábio Assunção apoiaram o ator em sua decisão de buscar ajuda contra o vício na aldeia indígena. “Que seja tratado! Quem conhece o poder da medicina da floresta já sentiu a força que ela tem. Graças a Deus existe esse santo remédio para a alma. Quem não conhece nunca vai entender. As medicinas estão aí para todos, mas nem todos têm humildade pra conhecer e reconhecer a força de nossa cultura indígena das florestas”, escreveu uma internauta, ontem, no Facebook. “Ele está buscando a cura. Já é um dia de vitória”, escreveu outro.

O assunto também se tornou, ontem, um dos mais comentados do Twitter. Nos diversos comentários, muitos internautas brincaram com o meme ‘Ativando o modo Fábio Assunção’, por ser sexta-feira. No entanto, também se solidarizaram com a dependência química do artista global. “Que Deus te abençoe e proteja. Estou na torcida boa por você. Lembre-se sempre: querer é poder, e você pode, tudo de maravilhoso para sua vida”, comentou uma mulher. “Chegou a hora das piadas terminarem e levarmos esse assunto a sério. Torço para que Fábio consiga a cura e libertação desse vício e possa seguir com seus trabalhos na TV”, comentou um fã.

Sem celular e internet

Fábio Assunção deixou o Acre na madrugada de ontem, após quatro dias na tribo. De acordo com o biolólogo Vanderson Brito, que escreve um livro sobre medicina tradicional indígena, o artista ficou abrigado em uma casinha de madeira simples com uma espécie de cantina e banheiro. O local tem estrutura básica, como energia elétrica gerada por motor. Mas ele ficou totalmente isolado do mundo externo, sem sinal de celular ou internet.

Curiosidades

Uso religioso

O uso da ayahuasca é legalizado e regulado no país desde 2004. É permitido só em rituais religiosos. A resolução número 5 do Conselho Nacional de Políticas sobre Drogas (CONAD) reconhece a legitimidade, juridicamente, do uso religioso da ayahuasca.

Não é droga

A ayahuasca não é uma droga. É uma erva medicinal usada em rituais. As comunidades religiosas que a usam são sincréticas, unindo ícones do xamanismo indígena, do kardecismo, do catolicismo, da umbanda e de religiões orientais.

Significado

Na linguagem quíchua (família de línguas indígenas da América do Sul), ‘aya’ significa espírito ou ancestral. E ‘huasca’ significa vinho ou chá. Os métodos de preparo variam conforme o grupo.

*Colaborou Leonardo Rocha

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