Crivella diz que se referiu à minoria - Arquivo / Agência O Dia
Crivella diz que se referiu à minoriaArquivo / Agência O Dia
Por O Dia

Rio - A Secretaria estadual da Polícia Militar repudiou as declarações do prefeito Marcelo Crivella de que PMs são corruptos e sobem o morro para "pegar o arrego". A fala do gestor do município do Rio aconteceu em uma reunião com servidores, nesta segunda-feira, na qual declarou que o Rio está "uma esculhambação completa". Em nota, ele disse que as frases foram "descontextualizadas".

"Lamentável e inacreditável que o Prefeito do Município do Rio de Janeiro – uma cidade com problemas tão sérios a resolver - seja capaz de proferir declarações tão absurdas durante uma reunião pública. Desprovido de senso de justiça e conhecimento dos fatos, Crivella ofendeu de forma cruel uma legião de 45 mil policiais militares. São homens e mulheres honrados que diariamente enfrentam a criminalidade para defender a sociedade. Muitos, como mostram as estatísticas, perderam suas vidas", diz parte da nota enviada pela corporação, assinada pelo secretário da PM, coronel Rogério Figueiredo de Lacerda.

Segundo reportagem de O Globo, o discurso de Crivella contra a PM foi diante de uma plateia de cerca de 80 pessoas, a maioria servidores, na Divisão de Hortos da Fundação Parques e Jardins, na Taquara. Ainda de acordo com o jornal, os assessores proibiram gravações durante a fala do prefeito.

"Por que esses meninos (do tráfico) são tão valentes? É porque, quando o político rouba e fica rico, o comandante do batalhão também quer ficar rico. O coronel quer ficar rico. O tenente, o sargento querem ficar ricos. Aí, eles sobem o morro para pegar o arrego. O arrego é o troco da cocaína", disse Crivella à plateia.

Em nota, a Prefeitura do Rio criticou a reportagem que traz as declarações e disse que Crivella não generalizou, mas falou que a "corrupção que devastou nosso Estado não se restringiu à Polícia, mas alcançou vários setores e Instituições", trazendo em seguida a fala dita pelo gestor municipal.

"O mau exemplo dos políticos contaminava policiais, coronel, tenente, soldado, mas, graças a Deus, uma minoria. Como contaminava procurador geral, conselheiros de contas, engenheiros de obras e até secretários de saúde e diretores de hospitais", aponta a nota da prefeitura.

A prefeitura alega que não houve em nenhum momento ataque à instituição Polícia Militar e sim "a minoria  de maus profissionais que macularam a imagem da instituição centenária e que tem em sua história uma extensa lista de bons serviços prestados à sociedade". 

"O prefeito lembra que quando o ex-ministro da Justiça generalizou sua critica à Policia Militar do Rio de Janeiro foi ele quem se levantou em defesa da instituição em diversas ocasiões, inclusive em solenidade na Marinha com a presença do então Presidente da República Michel Temer e o próprio ministro", defende o texto.

Para o coronel Fernando Belo, da Associação dos Oficiais Militares do Estado do Rio de Janeiro, Crivella deveria se preocupar mais com a situação da cidade do que com as ações da Polícia Militar. "A frase do prefeito atingiu toda a classe policial militar e é tão verdadeira quanto a declaração que ele já fez, afirmando que a população estava muito satisfeita e feliz com o transporte público no Rio. Ele deveria cuidar dos buracos da cidade", ironizou o coronel.

Witzel critica 'declaração leviana'

Sem citar o prefeito, o governador do Rio, Wilson Witzel, criticou declarações que classificou de levianas sobre a PM do Rio. No vídeo, postado em sua rede social, Witzel manifestou "integral confiança no trabalho da Polícia Militar". 

"Não acredito e não aceito qualquer tipo de declaração leviana que coloque em dúvida a integridade moral da atuação dos nossos comandantes, oficiais e praças. Os resultados estão mostrando que não temos relação com nenhuma organização criminosa. Tráfico de drogas, milícias, todos estão sendo combatidos com rigor. Manifesto meu repúdio a declarações em sentido contrário. Tem o meu apoio, minha confiança e nossa força policial merece respeito. Força e honra. Muito obrigado!", defende em vídeo.

Críticas também ao Carnaval e VLT Carioca

No mesmo discurso, Crivella voltou a atacar a festa mais popular do Rio: o carnaval. Ele associou a folia com a corrupção e disse que os custos para o município foi de R$ 70 milhões e a prefeitura "ganha uma banana". Dados da própria Riotur mostram que, em quatro dias de carnaval, o comércio, hotelaria e serviços faturaram R$ 3,78 bilhões.

Houve também críticas ao VLT Carioca, transporte sob trilhos que liga vários pontos na Região Central do Rio. O prefeito disse que o serviço é uma "porcaria" e que teria que investir R$ 18 milhões no modal. "Tenho 1.500 escolas precisando de reforma. Isso é maluquice. Quanto custou aquela porcaria? Um bilhão".

No seu posicionamento, a prefeitura diz que não criticou o serviço do VLT e sim a responsabilidade atribuída ao município de ter que garantir demanda para o serviço, que foi classificada como uma "porcaria".

"Isso porque erros nos Estudos de Viabilidade Econômica definiram um público mínimo de usuários da ordem de 260 mil passageiros/mês, mas o público atual não passa dos 80 mil usuários diários. Isso leva a um desequilíbrio econômico anual da ordem de R$ 200 milhões, que pelo contrato assinado deve ser coberto pelo Tesouro Municipal. Como o prazo da concessão é de 25 anos, o custo total chega a 5 bilhões a serem sangrados do Tesouro Municipal. Crivella reafirma que esses recursos farão muita falta para cuidar da cidade e nas áreas de saúde e educação", diz a nota.

Procurado pelo DIA, o VLT lamentou que o "prefeito use de seu discurso político para desqualificar um projeto que faz parte da revitalização da região central da cidade". "O sistema conecta todos os modais e transporta, com qualidade e segurança, mais de 80 mil trabalhadores diariamente", disse a concessionária.

"A Prefeitura do Rio assinou um contrato com a concessionária, no qual as obrigações de implantação, operação e manutenção vêm sendo cumpridas pelo VLT, que hoje conta com 92% de aprovação de seus usuários, segundo pesquisa realizada pelo Instituto Datafolha. Já o descumprimento das contrapartidas contratuais previstas pela Prefeitura gera insegurança jurídica para investimentos na cidade. O prefeito, inclusive, erra ao associar pagamentos à concessionária exclusivamente ao número de passageiros. Dos 18 milhões aos quais ele se refere, metade é parcela fixa do investimento e o restante a diferença do numero de passageiros. Cabe esclarecer que a dívida atual se refere aos investimentos realizados antecipadamente pelo VLT para a construção das três linhas", concluiu.

A Liga Independente das Escolas de Samba do Grupo Especial (Liesa), falou que, "no momento", não se posicionaria sobre as falas do prefeito. 

A gestão municipal também contestou a informação de que o evento com os servidores tenha ocorrido fora da agenda oficial, como mencionado na reportagem de O Globo, afirmando que o mesmo estava registrado no portal da Prefeitura do Rio. O texto não fala sobre as declarações do prefeito em relação aos gastos com o carnaval. 

Leia a íntegra da nota da Secretaria da Polícia Militar

"Lamentável e inacreditável que o Prefeito do Município do Rio de Janeiro – uma cidade com problemas tão sérios a resolver - seja capaz de proferir declarações tão absurdas durante uma reunião pública.

Desprovido de senso de justiça e conhecimento dos fatos, o Sr. Marcelo Crivella ofendeu de forma cruel uma legião de 45 mil policiais militares. São homens e mulheres honrados que diariamente enfrentam a criminalidade para defender a sociedade. Muitos, como mostram as estatísticas, perderam suas vidas.

A Polícia Militar tem por tradição o compromisso de combater de forma intransigente os desvios de conduta de alguns de seus membros que optam por se aliar ao crime. São exceções e não regra.

Não há instituição tão rigorosa com os malfeitos do que a Polícia Militar. Se todas as instituições públicas tivessem o mesmo compromisso histórico, nosso país estaria hoje em outro patamar.

Em nome da Corporação, registro meu veemente repúdio às declarações do Prefeito do Rio de Janeiro."

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