Aline Lugon e Mariana fizeram o teste do pezinho em suas filhas, mas não receberam o resultado. Elas se sentem prejudicadas, sem saber as chances dos bebês terem seis tipos de doenças - Luciano Belford/Agência O Dia
Aline Lugon e Mariana fizeram o teste do pezinho em suas filhas, mas não receberam o resultado. Elas se sentem prejudicadas, sem saber as chances dos bebês terem seis tipos de doençasLuciano Belford/Agência O Dia
Por O Dia

Rio - Aline Lugon, Laryssa Evangelista e Mariana Leplan não se conhecem, mas dividem uma mesma preocupação. São mães de bebês que fizeram o teste do pezinho na Clínica da Família Jammil Haddad, em Paciência, na Zona Oeste da cidade, mas até agora não receberam o resultado. Ao questionarem a clínica sobre o desaparecimento dos exames, escutam que houve "problemas técnicos".

As falhas comprovam o que O DIA denunciou ontem. Uma mudança no tipo de sistema usado para lançamento dos exames realizados nas clínicas da família vêm comprometendo o acompanhamento clínico dos pacientes. No mês de outubro do ano passado, a clínica Jammil Haddad registrou 170 mil exames a mais do que havia, de fato, realizado. A Prefeitura admitiu o erro.

Sem o resultado do teste do pezinho, as mães e os médicos não sabem se os bebês têm chances de ter seis tipos raros de doenças (fenilcetonúria, hipotireoidismo congênito, doença falciforme, fibrose cística, deficiência de biotinidase e hiperplasia adrenal congênita).

Enquanto as mães da Zona Oeste enfrentam o desespero do sumiço de exames, famílias que procuram as clínicas com sistema que vem sendo substituído não passam pelo problema. Isso porque o funcionamento acontece de outra forma em três das dez áreas e subáreas de planejamento do município. Hoje, a Subsecretaria de Atenção Primária utiliza o novo método — a plataforma do e-SUS (prontuário eletrônico) — em 45% das clínicas de família e centros municipais de saúde. O percentual deve crescer para 70% até o final do ano.

Segundo especialistas, o método anterior permitia uma maior individualização dos dados dos pacientes, como nome e contato. O atual só indica o número de procedimentos realizados por unidade.

Na Clínica da Família Rinaldo de Lamare, na Rocinha, uma das que funcionam com sistema que vinha sendo utilizado, pais de bebês garantem que nunca tiveram problema na realização do teste do pezinho. Classificam o atendimento como bom, apesar da crise financeira do município. O ajudante de cozinha William Luiz da Costa, 34 anos, e a vendedora Aline da Silva de Oliveira, 26, fizeram o exame nas duas filhas e receberam rapidamente o resultado.

Já as mães que frequentam a clínica de Paciência, classificaram o sumiço dos exames como "descaso". "Se existe um exame e uma campanha para que ele seja feito, não podem sumir com o resultado. É um documento importante para a vida da minha filha", reclamou Aline Lugon Pimentel, 29 anos. Com a filha, Raffaela, de 6 meses, no colo, ela conta que vai pessoalmente à clínica há seis meses, sem sucesso.

"Eu pergunto e me dizem que procuraram o resultado e não encontraram. Antes diziam que não estava pronto. Como estou cobrando sempre, mudaram a justificativa", se queixa.

A prefeitura negou que a diferença no funcionamento tenha "impacto sobre a oferta ou produção de serviços". E que os resultados ficam prontos em uma semana, "para retirada na própria unidade". Informou que a clínica Jamil Haddad tem nove exames pendentes de resultados, "todos dentro do prazo regular de entrega".

Crivella criou novas clínicas e demitiu profissionais

Inauguradas na gestão do prefeito Marcelo Crivella, em 2017, nove clínicas da família sofreram corte de profissionais menos de dois anos depois de abertas. A baixa no número de profissionais afeta a população, que reclama do péssimo atendimento.

Uma das afetadas foi a Clínica da Família Rômulo Carlos Teixeira, em Realengo, entregue à população em setembro de 2017, com oito equipes de saúde da família. Há dois meses, com o corte, o número caiu para seis. Cada equipe deveria contar com um médico responsável, mas só quatro profissionais foram encontrados na unidade.

"Esperei 6 horas por atendimento", reclamou a gestante Danielle Ferreira. Outras oito passaram pelo menos processo. Duas na Maré, duas em Paciência, uma em Jacarepaguá, uma no Grajaú, uma em Campo Grande, e outra no Irajá. 

Câmara fará requerimento de informações à Prefeitura

Membro titular da Comissão de Saúde da Câmara Municipal, o vereador Paulo Pinheiro (Psol) fará um requerimento de informações à Secretaria de Saúde hoje para solicitar explicações sobre o que aconteceu com o sistema. O prazo para resposta é de 30 dias, prorrogáveis por mais 30. Além disso, ele afirmou que fará os questionamentos pessoalmente à equipe da pasta no dia 28 deste mês, quando será realizada a prestação de contas quadrimestral da prefeitura.

"Não dá para entender o que aconteceu. Não é possível que a secretaria faça qualquer tipo de exame como esse e não dê o resultado para quem fez o procedimento, e a secretaria tem cópia desse resultado. Então vamos fazer um requerimento de informações para que a secretaria possa explicar o que foi que aconteceu. Houve fraude? Houve erro? E como ela pode nos provar que isso aconteceu dessa maneira?", contestou Paulo Pinheiro.

O vereador voltou a afirmar que não é possível apontar se houve fraude ou se foi apenas um erro. "Eu não posso emitir esse pensamento sem ouvir a secretaria. Se eles cobraram 172 mil (testes do pezinho), têm que explicar por que foi cobrado e qual foi o erro cometido", ponderou.

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