Rio - A determinação da Justiça de expedir mandado de prisão por associação para o tráfico contra Rennan da Silva Santos, conhecido como DJ Rennan da Penha, idealizador do Baile da Gaiola, causa polêmica sobre a possibilidade de crimes ocorrerem em alguns bailes. Há um mês, uma operação da Polícia Militar para colocar fim ao evento deixou pelo menos quatro moradores feridos. O palco do confronto foi montado com tenda de circo e caixas de som em uma festa que chegou a receber um público de cerca de 30 mil pessoas.
Na decisão de expedir o mandado de prisão, publicada na quarta-feira (20), uma testemunha aponta Rennan como ‘DJ dos bandidos’. Além dele, outras dez pessoas envolvidas na organização do maior baile do Rio foram denunciadas por suposto envolvimento com o tráfico. A ação da PM no baile realizado desde 2015 divide opiniões. Para os profissionais ligados ao gênero musical, as ações criminalizam um movimento cultural.
Para a PM, a festa não segue normas do estado que regulamentam a realização de eventos com concentração de pessoas. No meio discussão, os jovens da região, que carecem de espaços de lazer e entretenimento nas regiões afastadas dos grandes centros. Na Penha, moradores comentam que, desde a operação de fevereiro para impedir o Baile da Gaiola, que era realizado na Rua Aimoré, a Polícia Militar proibiu qualquer baile funk na região.
Questionada, a corporação informou que impede eventos em desacordo com o decreto nº 44.617. Dentre os dispositivos da Lei, está a necessidade de autorização prévia da Polícia Militar, Polícia Civil e Corpo de Bombeiros, o que, segundo a PM, não aconteceu em relação ao Baile da Gaiola.
Outro confronto
Segundo moradores, também houve confronto no último baile na Penha, na Rua Cajá, na madrugada do dia 10. A PM interveio. Houve confronto e ao menos duas pessoas foram baleadas. "Acho que imaginaram que apenas o Baile da Gaiola estava vetado. Mas não. A proibição é geral. Desde então, mais nenhum baile aconteceu", comentou um estudante de 19 anos.
Um morador de 61 anos se disse a favor do fim dos bailes funks no bairro. "Era muito barulho. Os eventos só acabavam lá por volta de 13h do dia seguinte", argumentou. Ele diz que não frequentava o Baile da Gaiola. Mas, como morador da região, conta que, apesar da presença de pessoas armadas em meio à multidão, nunca tinha havido problemas na festa.
Organizador rebate
Organizador do evento, Leandro Raimundo diz que pretende recorrer às autoridades para o retorno do Baile da Gaiola à Vila Cruzeiro. Ele rebate qualquer interferência de traficantes de drogas no evento. "O tráfico não tem nada a ver com o Baile da Gaiola que acontecia dentro da comunidade. Tanto que hoje fazemos o evento em diversas casas de show no Brasil e no mundo. Já estivemos nos Estados Unidos e estamos buscando a expansão para a Europa", argumenta o organizador do evento.
'Querem marginalizar o ritmo'
A MC Rebecca, famosa pelo proibidão ‘Cai de Boca’, lamenta a decisão de acabar com o baile. "Fico triste. Porque tentam, de todas as formas, tirar a nossa cultura, querendo marginalizar o nosso ritmo. Baile funk é um lugar que as pessoas vão para se divertir. É o país querendo esconder a sua própria raiz. Infelizmente, não temos o que fazer a não ser aceitar", lamenta.
Para o MC Leonardo, um dos fundadores da Apafunk, associação do gênero musical, as alegações de venda de drogas e presença de armas é uma desculpa do poder público para criminalizar o funk carioca. "Não é só no baile da favela que o morador vai encontrar o fuzil, mas isso acontece o tempo inteiro. Quando ele vai levar o filho na creche ou comprar o pão na padaria. É hipocrisia culpar o funk", critica o MC Leonardo.
Um dos criadores do evento ‘Eu Amo Baile Funk’, o DJ Grandmaster Raphael contextualiza o histórico de proibições dos bailes na cidade. "Isso começou no início dos anos 1990, quando proibiram os eventos que eram realizados em clubes. Foi quando os bailes subiram as favelas e passaram a descrever a realidade desses locais. Não é a música que causa a violência", argumentou o DJ.
Colaboraram Fábia Oliveira a Ana Mello (estagiária)