Moradores de rua, largados ao relento, passam fome, frio, pegam chuva, dormem em ‘cama de pedra’, e nada se faz - Armando Paiva/ Agência O Dia
Moradores de rua, largados ao relento, passam fome, frio, pegam chuva, dormem em ‘cama de pedra’, e nada se fazArmando Paiva/ Agência O Dia
Por Antonio Puga

Rio - Abrigados debaixo de marquises, pontos de ônibus e estações de BRT ou espalhados nas calçadas da cidade, milhares de moradores de rua denunciam o abandono ao qual estão relegados. Não faltam relatos de abandono durante o governo de um prefeito que prometeu "cuidar das pessoas" durante sua campanha eleitoral. Diferente da promessa, cariocas sentem na pele o descaso do poder público, como mostra o quarto capítulo da série "Rio da esculhambação".

Ao longo da Avenida Brasil, a maior via da cidade, moradores de rua e usuários de drogas disputam espaço em meio às obras do corredor expresso de ônibus BRT Transbrasil. Na Zona Sul, não é diferente. Em Ipanema, moradores de rua circulam pelas ruas do bairro, sem destino certo. 

Na Praça General Osório, em Ipanema, população dorme na calçada - Luciano Belford / Agência O Dia

A aposentada Vanda Teixeira da Silva, de 83 anos, conta que o acolhimento da prefeitura é inexistente ali. "São muitos moradores de rua. É o que mais tem aqui e nunca vi ninguém da prefeitura tentando ajudar", denuncia.

O cenário não é diferente na Zona Norte, nas proximidades da Paróquia de São Cristóvão, no bairro de mesmo nome. Ali, diversas famílias disputam espaço debaixo das marquises de prédios em dias de chuva.

Abrigo

Quando o proposta é trocar a rua por um abrigo, a resposta negativa é inevitável. "O abrigo só facilita a vida de quem não tem todos os documentos. Mas para viver não dá. É sujo e até perigoso", rechaça Monique da Silva, de 26 anos, que vive na rua com o marido e dois filhos. "A prefeitura não costuma aparecer por aqui".

Na região central da cidade, ocorre a mesma coisa. Ao longo da Avenida Presidente Vargas, moradores de rua estão espalhados desde a Candelária até a Cidade Nova, nas proximidades da sede administrativa da prefeitura. Várias famílias também são encontradas nas ruas do Riachuelo, Frei Caneca, Mem de Sá e Rua de Santana. 

Marquise da estação Maracanã do metrô serve de abrigo - Márcio Mercante / Agência O Dia

Em Santa Cruz, na Zona Oeste, a Praça Dona Dadá é o refúgio de moradores de rua durante a noite, quando chove ou durante a distribuição de comida ou roupas fornecidas por igrejas da região. Da prefeitura, não vem nada.

Mineiro de Juiz de Fora, João Carlos vive naquela região na companhia de um amigo. "Estou aqui há quatro anos. Tenho comida dada pelas pessoas das igrejas, assim como as roupas que eles distribuem", conta.

O cenário é o mesmo em Campo Grande. Abandonada, a estação de BRT Cândido Magalhães é usada por várias pessoas. Localizado na Avenida Cesário de Melo, uma das principais do bairro, o lugar abriga mais de 10 moradores de rua.

Questionada sobre o número de moradores de rua da cidade, a prefeitura não soube informar. Em nota, alega que fará um levantamento. Não há, no entanto, previsão para o trabalho começar.

Prefeitura diz que faz ações

Na Secretaria Municipal de Assistência Social e Direitos Humanos (SMASDH) afirmou que desenvolve ações com pessoas em situação de rua diariamente e faz abordagens em diversos locais. "Os assistentes sociais só podem agir conforme o desejo do cidadão que está nas ruas, assim como é proibido o acolhimento compulsório", ressaltou a pasta. Também é oferecido tratamento ao usuário de drogas e álcool e assistência psicológica, se ele concordar, além de apoio a operações da Secretaria de Ordem Pública, acrescentou.

*Estagiária sob supervisão de Herculano Barreto Filho

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