Matéria sobre cooperativa de materiais recicláveis. Na foto. Mãe e filho.Luciana de Carvalho Pimentel e Tiago Pimentel Santos.  - fotos de Estefan Radovicz
Matéria sobre cooperativa de materiais recicláveis. Na foto. Mãe e filho.Luciana de Carvalho Pimentel e Tiago Pimentel Santos. fotos de Estefan Radovicz
Por Waleska Borges
Rio - Na montanha de material reciclável da cooperativa Coopideal, em Maria da Graça, na Zona Norte do Rio, Luciana Pimentel, de 42 anos, e o filho Tiago Pimentel, de 23, separam o lixo que chega da Comlurb. Os dois perderam seus empregos, ela como faxineira e ele num depósito de bebidas, e viram na reciclagem uma alternativa de trabalho. E não são os únicos. O setor vem atraindo cada vez mais trabalhadores desempregados nesses tempos de crise econômica.
Luiz Fernandes, diretor administrativo da Coopama, também em Maria da fotos de Estefan Radovicz Graça, é testemunha desse movimento. Ele conta ter se surpreendido depois de anunciar, em abril, numa rede social, que abriria vagas para um trabalho temporário de 25 dias, com salário de R$ 1.200.
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“Apareceram mais de 300 pessoas. Trabalhadores com diferentes tipos de profissão: pedreiros, motoristas, faxineiras e atendentes desempregados”, lembra Fernandes, acrescentando que, por mês, pelo menos 30 pessoas batem à porta da cooperativa pedindo emprego. Uma chance de trabalho A faxineira Luciana Pimentel conta que antes da reciclagem trabalhava como funcionária da limpeza dos Correios: “Não tenho muito estudo, agora encontrei emprego apenas na cooperativa. Estou aqui há um ano e oito meses. Meu filho Tiago chegou há oito meses”.
O pedreiro Luciano Dias, de 52 anos, trabalha na Coopideal há quatro anos. Ele afirma que não tem conseguido fazer obras para empresas nem particulares. “Antes da crise, todo fim de ano as pessoas queriam pintar a casa. Agora, as obras não aparecem”, lamenta.
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Presidente da Coopideal, Ana Nistaldo recebe, em média, 10 pedidos de emprego por semana. Já na cooperativa Coopfuturo, em Irajá, a presidente Evelin de Brito organiza pedidos de emprego diariamente. “O mercado está mais exigente. Quando não há qualificação fica mais difícil se recolocar nas suas próprias áreas”, avalia Mariza Baumbach, analista comportamental e especialista em carreiras.
A passos lentos Apesar do aumento na procura de vagas de trabalho em reciclagem de lixo, o setor ainda engatinha no  stado do Rio. Representantes das cooperativas dizem que a quantidade de lixo reciclável enviado pela Comlurb diminuiu, gerando uma capacidade ociosa de produção - eles asseguram poder reciclar até cinco vezes mais do que estão recebendo por dia (volume que fica em torno de uma tonelada).
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Os cooperativados ainda denunciam que alguns caminhões da Comlurb, que deveriam ser utilizados para
coleta seletiva, estão fazendo, na verdade, coleta de outros tipos de materiais, como refugo da poda de árvores, entulhos e até cabines de banheiro químico. Esses materiais, segundo eles, são pesados como se fossem coleta seletiva. A Comlurb nega o uso indevido dos caminhões e diz que eles são utilizados “em situações emergenciais, como na ocorrência de fenômenos climáticos extremos”.
Segundo a Comlurb, o sistema de coleta seletiva do município movimenta 7% da fração potencialmente reciclável dos resíduos domiciliares, o que representa, de acordo com a empresa, cerca de 4.000 toneladas por mês. Mas, de acordo com dados da Associação Brasileira de Empresas de Limpeza Pública e Resíduos Especiais (Abrelpe), o Município do Rio reaproveita apenas 2,72% de todo o lixo doméstico produzido na cidade, número menor do que a média nacional, que recicla 3% do que é coletado. Carlos Silva Filho, diretor-pre  sidente da Abrelpe, explica, ainda, que os números da reciclagem estão estagnados há uma década, tanto no Rio quanto no resto do país.
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Silva Filho atribui essa estagnação a dois principais fatores. O primeiro, de acordo com ele, é a tributação para produção com material reciclado - que é maior do que para a fabricação de produtos com material virgem. O segundo fator é que a logística para o uso dos reciclados não está organizada. Com isso, não existe estrutura suficiente para absorver os resíduos para reciclagem. 
Projeto de 2012 previa seis galpões, mas só há dois 
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A política de reciclagem no Rio não emperrou apenas na coleta seletiva. Projeto da época da Rio+20, de 2012, que pretendia dar novos rumos ao tratamento do lixo no município, também acabou, com o perdão do trocadilho, na lixeira.
Originalmente, o BNDES iria destinar R$ 50 milhões à prefeitura para construir seis galpões de reciclagem. No entanto, apenas dois deles (Irajá e Bangu) saíram do papel, sendo geridos por cooperativas.
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De acordo com a prefeitura, um estudo de viabilidade técnica concluiu que as centrais “somente seriam viáveis com a realização de investimentos não previstos naquele instrumento. Por isso, o financiamento repassado pelo BNDES serviu apenas para a construção de duas centrais de triagem”, informou a Comlurb, sem explicitar o valor efetivamente recebido do BNDES. Sobre os restante dos galpões previstos, a companhia, agora, alega que não havia necessidade das seis unidades. 
Como reciclar
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Fernanda Cubiaco, da consultoria Bota Pra Girar, uma empresa de impacto socioambiental, indica as melhores práticas para o descarte seletivo de lixo doméstico:
- Use sacolas retornáveis e recuse sacolas, mesmo que sejam de papel ou biodegradáveis. Evite produtos embalados sem necessidade (em bandejas de isopor e plástico filme).
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- Descarte em casa: separe resíduos orgânicos e resíduos recicláveis.
- Entenda por lixo tudo aquilo que deve ir para um aterro sanitário. Resíduos recicláveis devem ser encaminhados para reciclagem. São eles: embalagens feitas de papel, papelão, alumínio, plástico ou vidro. Eles devem ser descartados limpos, mas sem gastar muita água para isso.
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- Descarte óleo vegetal separadamente n u m a garrafa de plástico e entregue em pontos de coleta de óleo.
- O ideal é que os restos de alimentos, de folhas, caules e madeira sejam compostados ou coletados pela Ciclo Orgânico, que é a empresa que coleta os resíduos orgânicos.