devem voltar para casa. Esses primeiros fazem parte do grupo dos que praticaram atos considerados menos graves, como furto, receptação e tráfico sem uso de armas. Os outros 350 devem ser liberados em até duas semanas.
“Meu filho já teve várias oportunidades de fugir do Dom Bosco, mas não quis. Quando foi para a unidade, tinha levado seis tiros, mas mesmo assim apanhava dos agentes. Agora, ele aprendeu lá dentro a cortar cabelo e quer trabalhar com isso quando sair”, conta C.
De acordo com relatos de mães com filhos no sistema, as unidades têm problemas como falta de roupas de cama, uniforme e até espaço para dormir: “No João Bosco, eles dormem de valete (um com a cabeça no pé do outro)”, contou outra mãe.
Segundo a juíza Lúcia Glioche, titular da Vara de Execução de Medidas Socioeducativas, a unidade vai entrar em contato com as famílias dos adolescentes. A liberação só ocorrerá depois que o responsável comparecer ao local. A juíza explicou que os jovens cumprirão medida de liberdade assistida, para os
crimes considerados menos graves; ou internação domiciliar, para os atos criminais mais graves, como roubo de carga, a residências e no transporte público.
Ainda segundo a magistrada, as unidades socioeducativas do Rio não cumprem a tarefa de recuperar menores de idade.”Esse jovem não está sendo premiado com a decisão do ministro. Ele precisa responder pelo que fez, mas essas unidades, muitas vezes, oferecem condições indignas. O jovem entra lá para se aperfeiçoar na escola do crime. O Estado precisa arregaçar as mangas e construir novas unidades” , diz.
O defensor público Rodrigo Azambuja, coordenador de Defesa dos Direitos da Criança e do Adolescente, reforça as críticas às unidades do Degase. Ele não acredita na ressocialização dos jovens. “Eles não recebem atendimento socioeducativo quase nenhum. Como não tem agentes suficientes, muitas vezes,sequer são tirados do alojamento para irem à sala de aula. A chance desse menino não voltar a infracionar é quase zero”, diz Azambuja, que é a favor a decisão do ministro Fachin.
Em nota, o Degase reconheceu os problemas de infraestrutura “acumulados e gerados devido às más gestões anteriores”. Ainda conforme o órgão, todas as unidades têm colégio estadual, que recebe
também merenda da Secretaria de Educação, além de acompanhamento médico, psicológico e pedagógico, com atividades culturais, extracurriculares e esportivas. O Degase nega as denúncias dos pais dos internos à reportagem de O Dia, e afirma que todos os relatos de agressões são encaminhados à corregedoria, além de a unidade ser monitorada 24 horas.