Por RENAN SCHUINDT
Rio - Ainda criança, Claudia Rocha já demonstrava sinais de ansiedade. Com sete anos, às vésperas de passar por uma cirurgia, a menina vivenciou sua primeira crise. Apesar dos indícios do transtorno, o tratamento somente foi iniciado quase vinte anos depois, quando ela mesmo passou a ter conhecimento sobre a doença. O drama dela faz parte de uma estatística preocupante, que coloca o Brasil no topo do ranking dos países que mais sofrem com a ansiedade. Dados da Organização Mundial da Saúde (OMS) revelam que 9,3% da população convive com o problema — o equivalente a 18,6 milhões de brasileiros.
Embora o levantamento da OMS não dê detalhes sobre as causas da ansiedade na população brasileira, o psiquiatra Higor Caldato, da UFRJ, assegura que diversos fatores podem contribuir para tal condição. "Desemprego ou excesso de trabalho, problemas familiares e medo da violência, certamente estão associados às crises de ansiedade", explica.
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Dificuldade para dormir, dor no peito e tensão muscular são alguns dos sintomas ainda pouco associados ao problema. "Há também os mais clássicos, como irritabilidade, nervosismo, problemas de concentração, descontrole sobre os pensamentos, dificuldade de esquecer o objeto de preocupação, além de tremores nas mãos ou em outras partes do corpo", enumera a psicóloga Amanda Santana.
Ainda de acordo com a psicóloga, algumas situações no ambiente corporativo também podem levar à ansiedade. "Prazos curtos, cumprimento de metas muitas vezes irreais, desorganização e sobrecarga, podem ser elementos motivadores, que, em excesso, transformam-se em distúrbio", observa Amanda Santana.
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Foram justamente as mãos trêmulas que fizeram Claudia Rocha, hoje com 44 anos, perceber o problema e buscar ajuda médica. "Era o aniversário de um ano do meu filho. A festa estava cheia e eu tinha muitas coisas para resolver. Acabei passando mal e tivemos que encerrar a comemoração antes. Tudo porque estava no meio de uma crise de ansiedade", lembra. Foram cinco anos de tratamento, entre medicamentos e métodos alternativos. "Além dos remédios, o médico me indicou a auriculoterapia (especialidade da acupuntura). Só vi benefícios. Aprendi a respirar melhor, a acalmar o corpo e a mente. Nem sempre é possível manter o equilíbrio, mas, hoje, é muito mais fácil", conclui.
Já Kelly Muhd revela que sua maior luta ainda é contra a ansiedade. Em 2016, após uma depressão, passou a comer compulsivamente. O resultado: chegou a pesar 150 quilos. Não à toa, buscou a cirurgia bariátrica. Decidida a não fazer uso de ansiolíticos ou antidepressivos para controlar a ansiedade, iniciou terapia com o auxílio de uma psicóloga. "Uma vez por semana tenho sessão. Leva um tempo até você acreditar novamente em si. Mas as sessões me ajudam a controlar determinadas atitudes que evitam uma nova crise", avalia.
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APOIO DE FAMILIARES

Ainda de acordo com o psiquiatra da UFRJ, a família é um dos principais pilares para quem sofre com a ansiedade, por isso, é importante oferecer apoio. "Durante as crises, é muito comum familiares acharem que se trata de algo exagero. Mas não é. Nessas horas, todo apoio é bem-vindo", explica.  Além do apoio familiar, outras medidas podem ajudar a aliviar a ansiedade. "Após buscar ajuda profissional, o ideal é dar início à atividades que sejam prazerosas. Praticar atividades físicas é uma das recomendações". Para o diagnóstico correto, o especialista reforça. "Cada caso é único. Apenas o médico pode avaliar e recomendar o tratamento", finaliza.