Desastre relembrado na série 'Chernobyl' inspirou protocolos de segurança em Angra
Usina produz 40% da energia elétrica do Estado do Rio
Rio - Seja em reuniões corriqueiras ou em visitas inesperadas às salas de controle do complexo nuclear de Angra dos Reis, no Sul Fluminense, o engenheiro Jefferson Borges Araújo carrega um lema: 'Não pode gaguejar'. Chefe da Comissão Nacional de Energia Nuclear (CNEN) no município — órgão regulador da atividade no Brasil —, assim, de supetão, ele testa os conhecimentos dos operadores das usinas Angra 1 e Angra 2. A realidade é incomparável à retratada na minissérie 'Chernobyl', que recontou o maior desastre nuclear da história, em 1986, na Ucrânia Soviética. A tragédia foi resultado da falta de habilidade de técnicos envolvidos num teste de segurança e de falhas no projeto.
Uma simulação de queda de energia em Chernobyl provocou superaquecimento e explosão de um reator, matando 31 pessoas em semanas, a maioria no combate ao fogo. A fumaça tóxica se espalhou na Europa, e estima-se que milhares desenvolveram doenças, como o câncer. Os prejuízos foram agravados pela demora do governo em divulgar a gravidade do acidente. A produção do canal 'HBO' trouxe novamente à tona a preocupação com a produção de energia nuclear. Desde a catástrofe, no entanto, uma série de medidas foi implementada em Angra para evitar riscos de vazamento e de contaminação.
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Os engenheiros garantem, inclusive, que um evento como aquele é impossível no Rio de Janeiro, já que as tecnologias são distintas. Angra 1 entrou em operação comercial em 1985 e, Angra 2, em 2001. "Pela falta de conhecimento, o técnico (em Chernobyl) desligava o sistema de segurança. Quando ele viu que precisava atuar, tentou usar as barras de controle, que tinham um agravante: a ponta era de grafite, e o grafite ajuda a reação. Em vez de reduzir a potência, aumentava", explica Jefferson Araújo, da CNEN. "O acidente provocou uma enorme fogueira de grafite, que jogou para o ar cinzas radioativas. Um acidente desse tipo é impossível de ocorrer aqui, porque o nosso processo de fissão é controlado com água e não com grafite", ressalta o presidente da Eletronuclear, responsável pelas usinas brasileiras, Leonam dos Santos Guimarães.
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Araújo destaca que os reatores de Angra são protegidos com uma sucessão de barreiras que impedem a liberação de material radioativo para o meio ambiente. A primeira barreira são varetas que guardam as pastilhas de urânio utilizadas na produção de energia nuclear. A última contenção é uma estrutura de aço que envolve o reator. Abaixo dela ainda há uma camada de concreto de 70 centímetros de espessura. O espaço aéreo é fechado na região para evitar desastres. Aeronaves que desrespeitarem a norma podem ser interceptadas.
Outros eventos de grande magnitude também estimularam o desenvolvimento de novos protocolos, como os acidentes nucleares de Three Mile, nos Estados Unidos, em 1979, e Fukushima, no Japão, em 2011. Todos levaram a recomendações de melhorias nos procedimentos e tecnologias, inclusive em Angra. "Cada acidente é estudado para ver o que pode ser feito para evitar", comenta o chefe da CNEN.
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O complexo nuclear brasileiro é referência em plano de emergência. A cada dois anos é promovido em Angra dos Reis um exercício de evacuação para treinar agentes que atuariam diante de risco de liberação de material radioativo e voluntários que vivem nas redondezas. A próxima atividade será em outubro. O órgão regulador determina a remoção preventiva da população em um raio de no máximo 5 quilômetros, caso seja constatada a possibilidade de vazamento. Estudos apontam que não haveria chance de contaminação após esse limite territorial no pior dos cenários possíveis.
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Testes das sirenes são feitos todo dia 10 de cada mês, rigorosamente às 10h da manhã. A população local é avisada por meio de sistemas sonoros de que se trata de testes. Para não assustar motoristas que desconhecem a região, faixas são colocadas nas estradas avisando sobre a atividade.
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Obras em Angra 3 serão retomadas em 2020
A produção das duas usinas de Angra equivale a 40% da energia elétrica do Estado do Rio. Com a inauguração de Angra 3 - que está com obras interrompidas desde 2015 em função de indícios de corrupção investigados pela Lava Jato - a Eletronuclear estima que essa taxa subirá para 70%. Iniciada em 1984, a construção já tinha ficado duas décadas paralisada devido a dificuldades econômicas. O estágio físico da obra é de 67%.
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Na última semana, o ministro de Minas e Energia, Bento Albuquerque, informou que será definido, no fim de julho, modelo de parceria público-privada (PPP) para promover a conclusão das obras. "Um edital de chamada pública será lançado até o fim do ano. Ainda no primeiro semestre do ano que vem será escolhido o parceiro, para retomar as obras em 2020. O prazo de conclusão é 2026", aponta o presidente da Eletronuclear, Leonam dos Santos Guimarães. Equipamentos comprados para Angra 3 estão preservados em galpões no complexo nuclear, e alguns já são aproveitados nas outras usinas. Estima-se que o gasto para preservar as instalações supera R$ 10 milhões ao ano.
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