Carro onde estava o músico Evaldo Rosa foi atingido por 80 tiros - Reprodu
Carro onde estava o músico Evaldo Rosa foi atingido por 80 tirosReprodu
Por Beatriz Perez
Rio - A defesa da família do vigilante e músico Evaldo Rosa, morto após ter o carro fuzilado por militares em Guadalupe, Zona Norte do Rio, acionou a Justiça Federal do Rio nesta terça-feira para cobrar indenização da União. Entre as reivindicações estão pensão, danos morais, danos estéticos e tratamento médico e psicológico.   
Uma das ações, de autoria do núcleo familiar de Evaldo, pede que a viúva, Luciana dos Santos, e o filho do casal, Davi, recebam imediatamente pensão mensal de cinco salários mínimos. "O valor é o equivalente ao que Evaldo recebia por mês. Queremos que seja pago até o período de sobrevida provável dele, de 78 anos", diz o advogado responsável pelo caso, João Tancredo.
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"Pede-se mais, que a União seja condenada a pagar a verba de sepultamento e que seja obrigada a pagar uma sepultura perpétua para ele próximo à moradia da família", acrescenta.
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A defesa também cobra pagamento de mil salários mínimos para a viúva e ao filho, além de tratamento psicológico e psiquiátrico aos dois. "A verba de danos morais à Luciana e ao Davi são por dois motivos: pela morte do Evaldo e porque eles estavam no carro e também poderiam ter morrido", explica Tancredo.  
Já a segunda ação tem como autores o padrasto da viúva, Sérgio Gonçalves de Araújo, e a amiga da família Michele da Silva Leite Neves. Ambos estavam dentro do carro alvejado pelos militares. Eles cobram pagamento de dano moral de 500 salários mínimos e tratamento psicológico. Além disso, a defesa também requer pagamento de 300 salários a Sérgio por ter sido baleado e sofrido danos estéticos. Sérgio pensão por ter ficado com limitações físicas e pelo tempo que precisou ficar sem trabalhar.
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Os familiares do catador Luciano Macedo, que também morreu por ter sido baleado na ação, são assistidos pelo mesmo escritório da família de Evaldo. No entanto, para preservar a saúde da viúva de Luciano, Dayana Horrara da Silva Fernandes, seus familiares decidiram esperar mais algumas semanas para ingressar com ação. Dayana está grávida e tinha seis meses de gestação quando seu marido foi morto.
O advogado João Tancredo diz que além da reparação pelos danos causados por agentes do Estado, as ações também pretendem pressionar as instituições para que casos como este não se repitam. "A Justiça tem o dever de dar um recado claro: o Estado precisa pagar caro pelas vidas que ceifa, os militares não podem normalizar o assassinato de cidadãos brasileiros como se fossem inimigos de guerra. Esse caso deve servir para as instituições mudarem radicalmente sua atuação”, destaca.
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Entenda o caso
A ação militar no dia 7 de abril neste ano matou o músico Evaldo Rosa e o catador Luciano Macedo no bairro de Guadalupe, na Vila Militar, Zona Norte. Os militares abriram fogo contra o veículo e disseram ter confundido a família com criminosos. Laudos produzidos durante a investigação do caso confirmam que foram efetuados 257 disparos contra o veículo. 
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Evaldo estava com a família, indo a um chá de bebê, quando se deparou, por volta das 14h30, com uma patrulha do Exército. Em seguida, o veículo foi atingido por tiros. O músico morreu e o sogro dele, Sérgio Gonçalves, ficou ferido. Os demais ocupantes, a esposa de Evaldo, Luciana dos Santos, o filho de 7 anos e a amiga do casal, Michele da Silva Leite, não foram atingidos. O catador Luciano foi baleado quando tentava ajudar Evaldo e sua família. Ele faleceu no hospital.
A Justiça Militar terminou de ouvir em junho testemunhas de defesa dos militares do Exército envolvidos no caso. Foram ouvidas 11 testemunhas, quase todas militares. As testemunhas de acusação, incluindo a família alvejada, foram ouvidas em maio. A próxima fase do inquérito será em agosto, quando novas testemunhas de defesa serão ouvidas. A expectativa da promotoria é encerrar o caso ainda este ano.