Esposa de Celsinho da Vila Vintém (ao centro) chega à Cidade da Polícia. Ela foi presa dentro de casa - Ricardo Cassiano/Agência O Dia
Esposa de Celsinho da Vila Vintém (ao centro) chega à Cidade da Polícia. Ela foi presa dentro de casaRicardo Cassiano/Agência O Dia
Por Thuany Dossares
Rio - Policiais da Delegacia de Combate às Drogas (DCOD) prenderam, na manhã desta segunda-feira, a mulher do traficante Celso Luís Rodrigues, conhecido como Celsinho da Vila Vintém, de 58 anos. Deise Mara de Souza Rodrigues, a Deise da Vila Vintém, 56, foi capturada dentro de casa na comunidade que fica entre Realengo e Padre Miguel, na Zona Oeste do Rio.
Deise é suspeita de permitir que traficantes da Vila Vintém executassem e ocultassem o corpo de Júlio Cesar da Silva Dias, de 18 anos, em fevereiro de 2015. A mãe do jovem chegou a ir 28 vezes na comunidade para tentar ter notícias de seu filho, mas nunca teve respostas sobre seu paradeiro.
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De acordo com as investigações da Delegacia de Descoberta de Paradeiros (DDPA), Júlio Cesar, que era funcionário de um bar e morador de Padre Miguel, foi a um baile funk na Vila Vintém com mais três amigos. Chegando lá, o rapaz viu sua moto, que havia sido roubada há uma semana, sendo pilotada por um traficante. Segundo a apuração policial, a vítima teria discutido com o criminoso por querer sua moto de volta.
Deise Mara de Souza Rodrigues - Ricardo Cassiano/Agência O Dia
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"O Júlio Cesar era trabalhador, trabalhava num bar e estava morando com o pai fora da favela, não tinha nenhum envolvimento com o tráfico de drogas. Era Carnaval e ele foi no baile com os amigos. Ao ver sua moto, ele foi ao encontro desse traficante para tentar reavê-la. Segundo testemunhas, ele iniciou uma discussão com traficantes e chegou a subir na moto para sair da favela com ela. Foi então que ele levou um tiro de fuzil pelas costas. Um dos amigos dele, inclusive, foi obrigado a pegar o corpo dele e colocá-lo na mala de um carro, sob a ameaça de que se não fizesse aquilo teria o mesmo fim", explicou a delegada Elen Souto, titular da DDPA.

Segundo a apuração policial, Júlio César foi levado para uma localidade da Vila Vintém conhecida como Campo do Cruzeiro e teve seu corpo carbonizado. Até hoje, os restos mortais do jovem não foram encontrados.
As investigações da Polícia Civil apontam que o Campo do Cruzeiro é um ponto muito usado pelos traficantes para a incineração de seus desafetos e que entre 2010 e 2015 dezenas de pessoas foram carbonizadas naquela localidade.
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O crime foi registrado inicialmente na 34ª DP (Bangu), mas foi transferido para a Delegacia de Descoberta de Paradeiros.
Júlio César da Silva Dias foi morto em fevereiro de 2015 - Divulgação / Polícia Civil
Deise Mara assumiu o controle do tráfico da Vintém

A mãe de Júlio César chegou a ir 28 vezes na comunidade para tentar remover os restos mortais do filho para enterrá-lo, mas nunca lhe permitiram ter acesso à localidade do Campo do Cruzeiro.

Numa das idas ao local, a mulher chegou a ser levada por um traficante para conversar pessoalmente com Deise, o que para polícia, reforça a ideia de que ela é quem controla as ações criminosas na Vila Vintém, na ausência de seu marido.

"A informação que nós temos é que desde a prisão do Celso, a Deise é a 'frente' da comunidade. Em relação aos crimes dolosos contra a vida, nenhum deles é cometido dentro da Vila Vintém sem a autorização de seu dono, que no caso é a Deise Mara", esclareceu Elen Souto.

Operação organizada só para prender a mulher de Celsinho da Vila Vintém
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Agentes da Delegacia de Combate às Drogas (DCOD) receberam informações a respeito da localização de Deise Mara e organizaram uma operação. Para prendê-la, eles tiveram que usar um veículo blindado da Polícia Civil para entrar na Vila Vintém. Segundo o delegado Reginaldo Félix, titular da DCOD, a esposa da Celsinho estava em casa e não resistiu à prisão.

O veículo também foi usado para que ela fosse retirada da região. Foi dentro dele que a mulher chegou na Cidade da Polícia, no Jacaré, na Zona Norte, acompanhada de três familiares, incluindo sua filha e um advogado.

De acordo com o Departamento Geral de Polícia Especializada (DGPE), Delmir Gouvea, em sede policial, Deise contou que visitou o marido na prisão, neste domingo. Contra ela, havia um mandado de prisão preventiva em aberto, expedido no final de julho, pelo homicídio qualificado e ocultação de cadáver de Júlio César da Silva Dias, praticado em fevereiro de 2015.


Outros homicídios
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Deise e o marido são apontados também como os mandantes dos assassinatos de Renato Cardoso Quezado e Leandro Rodrigues de Almeida, que era sobrinho de Celsinho, em maio de 2010. Renato e Leandro queriam tirar Celsinho do poder. Por isso, foram alvos do chefão do tráfico na Zona Oeste.
Marido e esposa são apontados como traficantes de alta periculosidade.Da prisão, Celsinho teria ameaçado de morte seus comparsas para que eles respeitassem Deise.
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Na Vila Vintém, os dois teriam uma loja de material de construção, vendendo fiado para alguns moradores. No entanto, é comum um carro de som percorrer a comunidade lembrando às pessoas de pagar pelo material adquirido. "Evite constrangimentos" são algumas das palavras que saem do veículo.
Veja o momento em que Deise chega à Cidade da Polícia!
A.D.A.
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Preso pela primeira vez no início da década de 1990, Celsinho da Vila Vintém foi um dos fundadores da facção Amigos dos Amigos (A.D.A.) de dentro da cadeia. Desde 2002, ele cumpre pena de mais de 30 anos de prisão por tráfico de drogas, homicídio, corrupção, sequestro, cárcere privado e ocultação de cadáver.
O traficante já passou por vários presídios federais do país. Desde 2017, ele está no Complexo de Gericinó, em Bangu.