Incêndio em 2011 destruiu barracões da Portela, Ilha e Grande Rio - Arquivo
Incêndio em 2011 destruiu barracões da Portela, Ilha e Grande RioArquivo
Por *Luana Dandara

Oito anos depois de um incêndio de grandes proporções, que atingiu três barracões de agremiações do Carnaval, a Cidade do Samba, na Gamboa, encontra-se novamente em situação de risco e em clima de tensão. O local está interditado pelo Corpo de Bombeiros desde dezembro de 2018, mas os funcionários das escolas continuam trabalhando a todo vapor.

A medida da corporação se baseia na ausência de um projeto de segurança contra incêndio. Conforme alerta o jurista Manoel Peixinho, essa situação pode resultar no fechamento do complexo a qualquer momento pela Justiça.
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O Ministério Público entrou com uma ação civil em fevereiro deste ano, às vésperas do Carnaval, para o fechamento da Cidade do Samba. "Na época, o juiz não negou nem deferiu a liminar, que pode ser concedida a qualquer tempo. Em junho, o MP entrou com um recurso que pede urgência ao Tribunal de Justiça para apreciar a interdição, mas o processo se arrasta", diz o especialista.

Enquanto dura esse imbróglio, outros incêndios graves ocorreram no Rio, o que só faz aumentar o medo de uma nova tragédia. Entre os marcantes está o recente caso da boate Quatro por Quatro, que matou quatro bombeiros.

Segundo Manoel Peixinho, o que ocorre é um jogo de empurra entre a prefeitura, dona do imóvel, e a Liga Independente das Escolas de Samba do Rio (Liesa), utilitária do local. Presidente da Liga, Jorge Castanheira reconhece que há a necessidade da reformulação da rede de incêndio para novas normas dos Bombeiros, mas enfatiza que é responsabilidade do poder municipal.

"A Liga é apenas permissionária, não é nossa competência. É preciso que a prefeitura realize essa obra. O que a gente podia fazer para diminuir qualquer risco foi feito", afirma Castanheira.
 
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Nos autos do processo constam, de fato, oito medidas tomadas pela Liga, no fim do ano passado, como compra de carro-pipa, contratação de brigadistas e revisão dos extintores.

Em nota, a Riotur informou, inicialmente, que atua apenas como fiscalizadora do termo de permissão de uso do local pela Liesa, e que não tem responsabilidade sobre manutenção do espaço. Questionada, contudo, de que não se trata de manutenção, mas sim de substituição do sistema de incêndio, a pasta preferiu não comentar "até que o mérito da ação seja julgado pela Justiça".

'A gente nunca está preparado', diz funcionário

O clima nos barracões é de medo por conta do risco de fogo. Quem atesta isso é o funcionário de uma das agremiações, que preferiu não se identificar. De acordo com ele, mesmo após melhorias na rede de prevenção de incêndios na Cidade do Samba, não há nenhum treinamento para as pessoas que trabalham no local.

"A verdade é que a gente nunca está preparado. Com essa onda de incêndios, precisávamos de treinamento, saber o que fazer em caso de fogo. Os materiais inflamáveis estão começando a chegar e os barracões já estarão a todo vapor", conta.

Ele confirma, porém, que desde o fim de 2018 houve mudanças. "Agora tem mais bombeiros civis e equipamentos de proteção. Anteriormente, mesmo após o fogo de 2011, nenhuma escola tentava mudar a realidade de um possível risco".

Jorge Castanheira, presidente da Liesa, sugere que pode ser feita "nova força-tarefa com o Corpo de Bombeiros", já que as peças de material inflamável começaram a entrar nos barracões para a confecção do Carnaval 2020. A última vistoria foi realizada em janeiro pela corporação.

Incêndios em 2011 e 2016 no local

De acordo com o Corpo de Bombeiros, a apresentação do projeto de segurança é o primeiro passo para a regularização de qualquer edificação, caso da Cidade do Samba Joãosinho Trinta. "Este projeto é feito por um arquiteto contratado pelo administrador do local e tem como base a planta arquitetônica. Nele constam toda a disposição, quantitativo e tipos dos dispositivos de segurança condizentes com a estrutura de acordo com a legislação vigente", informou a corporação.

Inaugurado em 2006, o complexo abriga a confecção de fantasias e carros alegóricos dos barracões das escolas do Grupo Especial. Após um grande incêndio em 2011, outra ocorrência, em 2016, atingiu o barracão número 7, mas não deixou feridos. Um ano depois, um funcionário da São Clemente morreu eletrocutado. Ele trabalhava na construção de uma alegoria no local.

A série de incêndios que ocorreram no Rio, desde o ano passado, mostra que o carioca, infelizmente, ainda não aprendeu com suas tragédias. Na sexta-feira, quatro bombeiros morreram ao tentar combater o fogo na Whiskeria Quatro por Quatro, no Centro. Antes disso, nem é preciso fazer esforço para recordar: houve o incêndio do Museu Nacional, no Hospital Municipal Lourenço Jorge, Ninho do Urubu e no Hospital Badim.
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Colaborou Waleska Borges
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