Barracão da Porto da Pedra e da Acadêmicos de Santa Cruz: sem dinheiro, escolas da Série A se afundam em incertezas para o Carnaval - Ricardo Cassiano
Barracão da Porto da Pedra e da Acadêmicos de Santa Cruz: sem dinheiro, escolas da Série A se afundam em incertezas para o CarnavalRicardo Cassiano
Por Luana Dandara

Em um amplo galpão na Zona Portuária, montanhas de lixo se misturam a materiais coloridos e esculturas deterioradas pelo tempo. As telhas praticamente não existem, e filhotes de cachorros brincam com baratas entre poças de água parada. A menos de cem dias do Carnaval, essa é a realidade do barracão de três escolas da Série A: Porto da Pedra, Acadêmicos de Santa Cruz e Acadêmicos de Vigário Geral, que terão que construir ali suas alegorias para brilhar na Marquês de Sapucaí.

"Sem um espaço digno e nem dinheiro, as dificuldades se tornam muito maiores. E a chuva ainda danificou o pouco que conseguimos de doações de materiais", lamenta Cahê Rodrigues, carnavalesco da Santa Cruz.

Júnior Cabeça no barracão da Porto da Pedra: cenário de abandono - fotos: Ricardo Cassiano

RIOTUR BUSCA PATROCÍNIO

Apesar de ter confirmado que não fará repasse financeiro às escolas, a prefeitura informou que a Riotur busca patrocínio privado para auxiliá-las na realização dos desfiles. Enquanto o dinheiro não vem, as agremiações caminham para o suspiro derradeiro. Na terça-feira, a Renascer de Jacarepaguá anunciou a paralisação das atividades por falta de verbas.

Água parada e lixo no barracão da Renascer de Jacarepaguá - Ricardo Cassiano/Agencia O Dia

"Se não tiver dinheiro, vou enrolar a bandeira. São 20 alas para desfilar e até agora não temos nenhuma pronta, só ferragens. Nem quando perdi o barracão em um incêndio passei por tanta crise", conta a vice-presidente da Renascer, Tatiana Mello. No barracão, não há luz e nem água, apenas chacis do último desfile e materiais doados por agremiações do Especial. 

Diretor de Carnaval da Porto da Pedra, Júnior Cabeça afirma que a realização da Série A corre riscos. "Hoje, sem subvenção ou patrocínio, não tem como ter desfile. Quem nos vê na Sapucaí nem imagina esse sufoco todo que passamos", desabafa. Ele lembra que o grupo de acesso já chegou a receber R$ 1 milhão por escola, em 2016 e 2017. Nesse último Carnaval, o valor foi de de R$ 250 mil por escola.

 

Indefinição sobre a cobrança de ingressos
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Presidente da Liga da Escolas de Samba do Rio (Lierj), Wallace Palhares cogitou não cobrar ingressos e abrir os portões da Sapucaí. Mas, diante do quadro atual, acredita que não será possível abrir mão dessa fonte de renda.
Transmissora dos desfiles, a TV Globo não respondeu se existe a possibilidade de aumentar o valor do contrato para a Série A no próximo ano. Pelo vínculo em vigor, cada escola recebe R$ 150 mil.
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Estado tenta apoio para as escolas
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Há três meses, Ruan Lira, secretário estadual de Cultura e Economia Criativa, visitou os barracões da Série A e prometeu apoio. "Constatamos uma situação muito complicada. A estrutura física está totalmente inadequada, o que traz riscos para os trabalhadores do Carnaval", comentou Lira.
De acordo com o secretário, o governo do estado está disposto a ajudar a Lierj. "Disponibilizamos estrutura jurídica e administrativa para buscar a regularização dos barracões", afirma.
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A ajuda financeira, porém, depende da adesão de empresas privadas por meio da Lei do ICMS. "Primeiro, a Lierj tem que protocolar um projeto nos moldes da Lei de Incentivo à Cultura. O outro passo é a carta de patrocínio do setor privado para dar andamento. Estamos convocando as empresas para tentar ajudar", diz Ruan.
Até que haja uma solução, as escolas seguem em situação precária. "Nosso Carnaval, que gera receita e emprego, está sendo tratado com descaso. É triste, pois sustentamos nossas famílias com ele", lamenta Gabriel Macedo, torcedor e funcionário da Renascer de Jacarepaguá.
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