Os geneticistas Harrison Westgarth (à esq.) e Fábio Monteiro analisam os efeitos dos vírus da dengue e mayaro em células animais, no Laboratório de Virologia Molecular da UFRJ, no Fundão
 - fotos Estefan Radovicz
Os geneticistas Harrison Westgarth (à esq.) e Fábio Monteiro analisam os efeitos dos vírus da dengue e mayaro em células animais, no Laboratório de Virologia Molecular da UFRJ, no Fundão fotos Estefan Radovicz
Por Bernardo Costa
Os pesquisadores da UFRJ lançam um alerta para este verão: a provável infecção simultânea pelos vírus da dengue e mayaro por intermédio do Aedes aegypti. A hipótese, se comprovada cientificamente, será a confirmação de mais uma enfermidade transmitida pelo mosquito em áreas urbanas do Rio, além da dengue, zika echikungunya. As pesquisas estão em andamento no Laboratório de Virologia Molecular da universidade, no Fundão.
A descoberta da circulação de mayaro no Rio foi anunciada pelos pesquisadores da UFRJ em maio, com a confirmação de três pessoas infectadas em Niterói. Caso o vírus, que circula na Amazônia e em áreas silvestres do Centro-Oeste e tem os mosquitos Haemagogus e Sabethes como vetor, esteja sendo transmitido pelo Aedes aegypti, os cientistas irão comprovar a associação entre dengue e mayaro e a dupla infecção nas cidades.
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"O que temos por enquanto são fortes indícios de que isso esteja acontecendo. Em Goiânia, houve uma epidemia de mayaro em 2016. E constatamos, em parceria com a Universidade Federal de Goiás (UFG), que 90% das pessoas infectadas com mayaro tinham dengue também. É muito pouco provável que elas tenham sido picadas por diferentes mosquitos", explica o virologista Rodrigo Brindeiro.
A suspeita de dupla infecção é reforçada pelo fato de as três pessoas que tiveram mayaro em Niterói não terem circulado em áreas silvestres. "A hipótese que tentamos confirmar é se o vírus da dengue abre caminho para a infecção por mayaro no Aedes aegypti. Estamos analisando mosquitos de Goiás e há indícios de que eles estejam infectados por ambos os vírus", diz o cientista.
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Pesquisador analisa amostras de mosquitos vindos de Goiás - Estefan Radovicz / Agencia O Dia
Pesquisas para kit de diagnóstico
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Os sintomas do vírus mayaro são semelhantes aos da chikungunya: febre, dor de cabeça, náusea, vômito e dores intensas nas articulações que podem durar até três anos. Segundo o cientista Rodrigo Brindeiro, o índice de indeterminação para chikungunya gira em torno de 25%, mais alto do que para dengue e zika: cerca de 5%. Para Brindeiro, pode ser que boa parte dos casos notificados como chikungunya seja, na verdade, infecção por mayaro.
"Por isso estamos empenhados em desenvolver um kit para diagnóstico preciso para mayaro, que ainda não existe no Brasil", diz Brindeiro.
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Outra frente de pesquisas na UFRJ é o impacto em células animais da dupla infecção por mayaro e dengue. Um dos pesquisadores envolvidos no estudo é o americano Harrison Westgarth: "Escolhi vir ao Brasil fazer mestrado e fico feliz em poder estudar algo tão importante para a sociedade".
Cientistas investigam como se dá a associação entre os vírus da dengue e mayaro no organismo do mosquito Aedes aegypti - Estefan Radovicz / Agencia O Dia
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Dengue tipo 2: alerta para os municípios
A Secretaria de Estado de Saúde (SES) disparou um alerta, no início do mês, para os 92 municípios do Rio: a reentrada do Tipo 2 do vírus da dengue, que não circulava no estado desde 2008, pode provocar um surto de casos neste verão.
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"São 11 anos sem contato da população com esse vírus. Todos que nasceram depois de 2008 ou que não foram infectados à época correm risco, pois não criaram imunidade contra a dengue tipo 2", alerta o médico Alexandre Chieppe, da SES.
De acordo com Chieppe, a reentrada do vírus da dengue tipo 2 é o que explica o aumento dos casos da doença este ano no Rio. Segundo dados da SES, de janeiro a 12 de novembro foram notificados 31.828 casos de dengue. Em 2018, foram 13.788. Já os casos de chikungunya — foram 84.614 este ano e 37.768 em 2018 — podem crescer ainda mais. "Isso porque o vírus é novo e teve o primeiro grande surto no ano passado", diz.
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Segundo o médico, 80% dos focos do mosquito estão dentro das casas. Chieppe orienta que o morador dedique 10 minutos por semana para vistoriar caixas d'água, tonéis, vasos de plantas, calhas, garrafas, lixo e bandejas de ar-condicionado para evitar água parada e a proliferação do mosquito Aedes aegypti.