Localizado a poucos metros da Praça Saens Peña, o Tijuca Tênis Clube, fundado em 1915, é considerado um patrimônio dos moradores do bairro  - fotos de Estefan Radovicz
Localizado a poucos metros da Praça Saens Peña, o Tijuca Tênis Clube, fundado em 1915, é considerado um patrimônio dos moradores do bairro fotos de Estefan Radovicz
Por Luana Dandara

Rio - Com mais de cem anos de história, o Tijuca Tênis Clube (TTC) passará, hoje, por um veredito que pode impactar nos rumos do complexo poliesportivo. Os membros do Conselho Deliberativo decidirão se a proposta de transformar os 48 mil m² em um shopping seguirá para votação dos sócios. O clube, na Praça Saens Peña, é uma importante área de lazer para os tijucanos. A proposta dividiu os moradores do bairro e chegou até o Ministério Público, que ajuizou uma ação contra o TTC e a prefeitura por danos ambientais e ao patrimônio histórico.

"Reuniremos o conselho para detalhamento do empreendimento e votação. Com a decisão, vamos encaminhar ou não a proposta para o quadro social votar a concessão do clube para a construção do shopping", afirma o presidente do Conselho, Paulo Cinelli. "O projeto é para o clube não perder nada. Seriam dois anos de obras, com a construção de estacionamento, cinema, restaurantes e lojas. É uma grande construção", acrescenta.

Segundo ele, as quatro piscinas do clube seriam mantidas, enquanto as nove quadras de tênis e parte das seis quadras esportivas seriam construídas em andares superiores dentro do shopping. O projeto é da BRMalls, também dona do Shopping Tijuca e Norte Shopping, entre outros, que já pagou R$ 3 milhões ao clube para ter exclusividade no empreendimento. Atualmente, há 10 mil sócios do TTC, sendo 3,5 mil sócios-proprietários, que têm direito ao voto.

O Ministério Público Estadual (MPRJ) divulgou ontem que ajuizou uma ação civil pública para impedir o clube de construir qualquer projeto empreendimento imobiliário no local, com a fixação de multa diária de, no mínimo, R$ 50 mil. O órgão destaca que o Tijuca Tênis Clube possui notório valor social, ambiental e na drenagem das proximidades. As obras impactariam ainda, conforme o MPRJ, nas duas estátuas tombadas no jardim do clube. O processo segue para a Justiça.

Manifestação

Hoje, às 18h, cerca de 200 pessoas contra a construção farão uma manifestação na porta do TTC. Um dos organizadores do protesto 'Shopping Não', que preferiu não se identificar, reclama que o processo de concessão não tem sido transparente. "As pessoas que são sócias e frequentadoras ficarão sem opção de lazer e de esporte na região. O clube tem uma história que seria destruída. Só quero salvar o lugar que amo", pondera.

Empresa nega intervenção

Em nota, a brMalls informou que "não está realizando qualquer intervenção no terreno do Tijuca Tênis Clube, conforme veiculado pela imprensa nesta terça-feira. A empresa esclarece que realiza apenas um estudo (não vinculante) para revitalizar e modernizar as instalações atuais, com a construção um centro comercial em parte do espaço.

"A brMalls ressalta que caso os estudos evoluam, sempre observará a legislação aplicável e instancias de aprovação competentes da Cia, dos órgãos públicos e do Tijuca Tenis Clube", finaliza o documento.

Ligação afetiva com clube atravessa gerações de tijucanos

O Tijuca Tênis Clube é palco de importantes competições esportivas. No último domingo, por exemplo, o Campeonato Carioca de Vôlei foi disputado lá. 

Bicampeã olímpica, a jogadora de vôlei Thaísa Daher, de 32 anos, lembra com carinho das suas partidas no clube, onde iniciou a carreira. "Foi lá que eu despertei minha paixão pelo esporte, onde me cuidaram, me ensinaram, me apoiaram. Foi lá que comecei a acreditar em mim", conta ela, que desaprova a descaracterização do TTC. "Acho terrível, triste demais! Parte meu coração".

Bicampeã olímpica, a jogadora de vôlei Thaísa Daher começou a carreira de sucesso no TTC - Reprodução/Instagram

Sócia do clube há sete anos, Priscila Pinheiro, 38, também criticou a proposta. "Eu frequento todos os fins de semana com meus filhos. Usamos a piscina, o parquinho, vamos ao teatro... não tem como ser a favor. É o único lugar para as mães trazerem os pequenos", diz ela. "É um espaço muito importante para o bairro e já foi reduzido. A Tijuca não comporta mais shoppings, é um despropósito essa obra. Meus filhos e netos aprenderam a andar aqui", completa a aposentada Regina Célia, 69.

<aspas>Eu frequento todos os fins de semana. É o único lugar para as mães trazerem os pequenos<aspas>, diz a sócia Priscila Pinheiro, com o filho Bento - Estefan Radovicz / Ag

Por sua vez, a moradora Carolina Forain, 36, acredita que o empreendimento movimentaria os arredores. "O bairro está em crise, então seria uma forma de continuar o clube. Gosto dos eventos ali", opina ela.

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