Roupas e acessórios da Galo Solto, dos sócios Drayson Menezzes e Orlando Caldeira (de saia vermelha) - Estefan Radovicz / Agência O Dia
Roupas e acessórios da Galo Solto, dos sócios Drayson Menezzes e Orlando Caldeira (de saia vermelha)Estefan Radovicz / Agência O Dia
Por *Julia Noia

Rio - Uma peça que acompanha a história da humanidade. De proteção para homens e mulheres há milênios, passando por vestimenta de nobres e guerreiros. Os séculos passam, ela se reinventa. Às vezes, só cobrindo as mulheres. Nas últimas décadas, ganhando passarelas e contornos de homens que respiram a arte e a moda. Mais uma vez, as saias masculinas tentam ganhar de forma definiva as ruas: a marca Galo Solto oferece saias aos homens que querem sair do lugar-comum de calças e bermudões.

Criada pelo casal de atores Drayson Menezzes e Orlando Caldeira, a grife oferece roupas com aspectos modernos e adaptadas às necessidades dos homens. Eles contam que essas peças surgiram primeiro como figurino de teatro. Hoje, os atores não abrem mão da saia no cotidiano e comemoram os dois anos da marca pioneira no Rio.

Há um ano, eles são parceiros do Afrocriadores, primeiro coletivo de moda negra do Brasil, que possui uma loja em Copacabana, e onde a Galo provoca com o slogan "Saias masculinas para quem pensa fora da caixa".

Com bolsos grandes, modelo sem marcar a silhueta e corte para poder se sentar com as pernas abertas, a ideia é agradar não só os moderninhos. Os idealizadores da grife também querem conquistar os consumidores mais tradicionais e construir uma modelagem que seja bem recebida pelos homens em geral.

O artista Rodrigo Nepomuceno, de 34 anos, abraçou a saia há alguns anos e acredita que ela dá uma imensa sensação de liberdade, apesar de perceber olhares atravessados nas ruas. "Existe um preconceito com relação ao uso da saia, e percebo a reprovação de alguns", afirmou.

Há os simpatizantes, como o músico Vanderlei Machado, de 39 anos, que não tem saias no guarda-roupa, mas encara a peça com naturalidade. Ele critica, porém, o que chama de sociedade hipócrita. "Na época de Cristo, todo mundo usava. Não vejo por que tanta implicância", declarou Vanderlei.

Na Escócia, a saia masculina nunca saiu de moda

Muitas sociedades viram a peça no corpo masculino com tranquilidade. "Desde os sumérios, a saia tem servido aos homens. E até hoje a Escócia faz a festa na cara da sociedade careta", lembra Silvio Duarte, estilista e professor de Moda na Universidade Estácio de Sá.
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Na Antiguidade, a distinção era que homens utilizavam saias mais curtas, enquanto mulheres vestiam modelos longos. No entanto, em grande parte do mundo a peça caiu em desuso pelos homens.
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"A gente vive num país muito quente, e um vestuário como esse não é só confortável, é uma peça coringa. Infelizmente, o brasileiro ainda é muito resistente. Azar dos homens, sorte das mulheres", provoca Silvio Duarte.
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Ousadia para quebrar tabus sociais
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Apesar da resistência dos tradicionalistas, a saia para homens está ganhando as ruas e quebrando tabus. Mas engana-se quem pensa que só agora existem as críticas.

Em meados dos anos 1950, a Avenida Paulista, coração de São Paulo, se alvoroçou ao ver passar Flávio de Carvalho, um dos mais influentes do modernismo, com uma estilosa saia. Foi um protesto contra o preconceito que as mulheres de minissaia sofriam então.

E o debate continua, como lembra o estilista Silvio Duarte: "É um tema que tem gerado muita discussão, sobretudo ligada a questões de liberdade e gênero, como há pouco tempo ocorreu com alunos do Colégio Pedro II, aqui no Rio".
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*Estagiária sob supervisão de Alexandre Machado
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