Projeto Estante Mágica: criancas cadeirantes escrevem seus primeiros livros. Na foto: Thaina, Thainny, Lara, Graziele,Joao Vitor, Gabriel Sales Foto: Ricardo Cassiano - Ricardo Cassiano
Projeto Estante Mágica: criancas cadeirantes escrevem seus primeiros livros. Na foto: Thaina, Thainny, Lara, Graziele,Joao Vitor, Gabriel Sales Foto: Ricardo CassianoRicardo Cassiano
Por Waleska Borges

Rio - 'Era uma vez uma menina que tinha câncer'. É assim que começa a história de uma garotinha que ficou careca e sofria bullying na escola. Já em 'A vida de Jubliscleuzo', o personagem principal que é cadeirante vai à escola e precisa ser ajudado por colegas. Ele não conseguia subir ao quarto andar por falta de acesso. Essas histórias e outras dezenas de "Era uma vez" foram contadas em 80 livros escritos por crianças cadeirantes e não cadeirantes do Instituto Irajá.

Os alunos, da pré-escola ao quinto ano do ensino fundamental, narram dificuldades, experiências e todo o aprendizado do convívio diário com as 15 crianças cadeirantes da alfabetização especial. Os temas que passaram pela mobilidade urbana até o dia a dia no ambiente escolar foram escritos de maneira espontânea pelos pequenos. A escola, uma instituição privada no bairro do Irajá, tem uma turma especial em parceria com a ONG One By One.

Em um dos encontros da produção dos livros, definidos como 'mágicos' pela gestora pedagógica do colégio, Anna Paula Araújo, a pequena Lara Evangelista, de 7 anos, conheceu a cadeirante Taynna Vitória, de 14 anos. Segundo Anna, Lara fazia as ilustrações do seu livro quando viu Taynna, que não fala, sendo ajudada a escrever sua história.

"Taynna mostrou, apontando, que o que ela mais gostava era da sua cadeira de rodas. Nessa hora, Lara olhou sem entender. Foi então que ela percebeu que com a cadeira de rodas Taynna consegue ir para todos os lugares", lembra Anna.

Lara, enfeitando seus cabelos encaracolados com um belo laço, confessou que se sentiu surpresa. Autora do livro da menina careca, ela já sofreu bullynig por causa de seu cabelo: "Todas as pessoas merecem respeito. Não é legal rir delas", disse.

Para a mãe de Taynna, Lucimar Gomes, foi gratificante ver a filha participar do projeto: "Cada vitória dela é como se nós duas estivéssemos recebendo um troféu e uma medalha".

A empatia também levou os não cadeirantes a escreverem sobre os problemas vivenciados pelos novos amigos. Foi assim com Gabriel Salles e João Vítor de Souza, ambos de 9 anos. Os dois contaram em seus livros as dificuldades dos cadeirantes. "Se tivessem mais rampas nas ruas, seria mais fácil para eles", avaliou Gabriel.

O tema do projeto foi 'Transformando minha cidade num lugar melhor para todos'. E toda a magia aconteceu: "O livro autoral deu a cada aluno a oportunidade de transformar um sentimento em história e, assim, poder compartilhá-lo, ampliando o seu alcance e seu poder de sensibilizar e mobilizar as pessoas à sua volta".

 

Lançamento dos livros teve tapete vermelho
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Os livros dos alunos foram lançados, na semana passada, em uma tarde de autógrafos dentro de shopping na Zona Norte do Rio. Os autores mirins foram lançados com toda pompa. Emocionada, Thainny Silva, de 14 anos, cadeirante, fez questão de passar sozinha pelo tapete vermelho enquanto seu nome era anunciado.
"Fiquei muito ansiosa" lembra Thainny, que está sempre acompanhada da mãe, Elisangela Silva, de 37 anos: "Às vezes, a gente perde a esperança, mas vem alguém e dá um empurrãozinho. Foi assim com o livro".
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E já tem até autor da turma da alfabetização especial querendo seguir carreira. Entre eles, Ingrid de Paula, de 23. "Quero escrever outros livros. Gostei muito". Os pais também ficaram muito felizes. Vestida com a camisa com o apelido da filha Ana Júlia, de 10 anos, Tania Maria, de 48, dá o recado: "A minha alegria é pequena perto da minha filha. É muito orgulho".
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Mais de 500 mil obras produzidas
Pela plataforma, mais de meio milhão de crianças de mais de quatro mil escolas já escreveram, cada uma, seus próprios livros.
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Os projetos pedagógicos da Estante Mágica são implementados sem custos pelas escolas. O processo é simples: o colégio se cadastra na plataforma e escolhe a proposta de conteúdo que quer adotar em sala de aula. A partir daí, cada aluno cria sua própria história, com textos e desenhos. Os pais são convidados a escrever uma pequena biografia dos filhos, incluídas nas publicações. Toda a produção vai resultar em um e-book gratuito.
A família que desejar o livro impresso pode encomendá-lo. E é da venda desses livros que vem toda a receita da Estante Mágica. O encerramento da atividade se dá com uma sessão de autógrafos, organizada pela escola, na qual os pequenos escritores recebem amigos e familiares.
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