- Luciano Belford / Agência O Dia
Luciano Belford / Agência O Dia
Por Bruna Fantti

Rio - Geisa Garibaldi, de 35 anos, carrega desde o batismo o sobrenome de uma revolucionária brasileira. Não à toa. Há cinco anos, ela provocou uma transformação em sua vida e na de outras mulheres negras: virou pedreira profissional e criou a Concreto Rosa, empresa de obras formada exclusivamente por profissionais femininas. Como Anita, que lutou na Revolução Farroupilha, Geisa também se identificou com a luta popular. Mas pela igualdade de gênero. Hoje, ela emprega sete mulheres e contrata candidatas pelo site da empresa: www.concretorosa.com.br.

"Nossas mulheres fazem desde serviços simples, como a instalação de chuveiros, até reformas mais complexas. O público prioritário é o de mulheres também", explica Geisa: "Nos conhecemos em coletivos, na militância LGBT. Todas sempre tiveram que correr atrás dos seus sonhos, vencer preconceitos e, com dificuldade, conseguiram se especializar".

Geisa também carrega uma história de superação. Aos 30 anos, insistiu muito para conseguir uma vaga no curso Mão na Massa, idealizado pela engenheira Deise Gravina, que oferecia especialização gratuita para canteiro de obras a mulheres de baixa renda. "No curso, eram mais de 400 inscritas para 70 vagas. Não passei no teste de primeira, mas ligava todos os dias até que consegui entrar pela desistência de uma candidata", lembra.

Nas aulas, Geisa conheceu Fernanda Cândida e, juntas, criaram a Concreto Rosa. Geisa conta como a empresa ganhou popularidade logo no início. "Começamos divulgando um conserto em uma pia e a instalação de uma prateleira. Quando vimos, já estávamos fazendo a reforma inteira de um banheiro", orgulha-se.

Mesmo com serviços diários, as mulheres enfrentam olhares desconfiados em sua rotina. "Isso ainda ocorre com frequência. É quando o porteiro nos encara diferente ao saber que iremos fazer uma obra. Certa vez, fui comprar um martelo e o vendedor disse 'Isso é para homem'. Respondi: 'Agora é de mulher'".

Arquitetas elaboram projetos

A Concreto Rosa também faz projetos arquitetônicos e, para isso, conta com duas arquitetas: Fernanda Alves e Emmily Leandro. "A gente idealiza a iluminação e até o material que pode ser utilizado, fazendo caber no bolso do cliente", diz Emmily, autora do projeto de uma cozinha pequena (fotos ao lado). Os preços são tabelados e passados para os clientes antes de cada obra. Pelos serviços de pintura, por exemplo, a Concreto Rosa cobra R$ 25 o metro quadrado.

O atendimento voltado prioritariamente para o público feminino tem uma explicação. "É comum pedreiros e eletricistas enganarem as clientes. Fazem orçamentos abusivos e ainda acontecem casos de assédio. Por isso, temos atenção especial para elas, mas também não deixamos de atender homens", ressalta Geisa.

 

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