Dentro do ônibus, no Centro do Rio, a estudante Angélica Farias, 22 anos, procurava na bolsa algo para abanar o rosto. Numa tarde em que os termômetros marcavam mais de 30 graus, a falta de ar-condicionado no veículo da linha 390 (Curicica-Candelária) era uma dificuldade a mais na rotina dos usuários. Enquanto o processo que determina a climatização integral da frota do Rio se arrasta na Justiça desde 2013, boa parte dos cidadãos continua sofrendo com as altas temperaturas no transporte público.
"É horrível! A gente paga passagem cara e ainda tem que andar em ônibus cheio e sem ar-condicionado. Todo dia é este inferno. Os passageiros ficam estressados e começam a brigar entre si por qualquer motivo. Todo mundo fica uma pilha de nervos", relata Angélica.
De autoria do Ministério Público estadual (MP-RJ), o processo que tramita na Justiça determinou, em fevereiro de 2014, a instalação dos aparelhos de refrigeração em 100% da frota como medida compensatória aos transtornos causados à população com as obras do Porto Maravilha. O primeiro prazo para a climatização de todos os ônibus expirou no fim de 2016, sem que a meta fosse alcançada. A atual data-limite, estabelecida em decisão de novembro de 2018, é 30 de setembro deste ano.
Tanto a prefeitura quanto o Rio Ônibus, sindicato que representa as concessionárias, alegam que estão trabalhando para cumprir o prazo. Porém, a atuação de um interventor independente, que seria responsável por estabelecer ações para o processo, ainda não teve início. A determinação da intervenção consta na mesma decisão de 2018, e foi reafirmada pela Justiça em maio do ano passado.
Para a caixa de supermercado Márcia Nunes, de 29 anos, o sofrimento dentro dos ônibus sem ar, especialmente no verão, humilha as pessoas: "É sempre assim, todos os dias; a gente sofre e o calor dentro do ônibus aumenta ainda mais o nosso cansaço. Gostaria de saber onde está escrito que o povo tem que sofrer", disse Márcia, a bordo de um 'quentão' da linha Troncal 2.
Além dos passageiros, os profissionais também sofrem: "Se é ruim para o cidadão, para nós é em dobro. Ficamos ao lado do motor, o que esquenta ainda mais. Vejo muitos passageiros passarem mal", contou um motorista que não quis se identificar.
O Ministério Público informou que entrou com recurso, em dezembro do ano passado, "de modo que a climatização integral não ultrapasse setembro, data estipulada pela prefeitura" .