Quando começou a vender água mineral engarrafada, em 1909, na região que viria a se chamar Água Santa, na Zona Norte do Rio, o ex-escravo Domingos Camões não imaginava que sua descoberta pudesse se tornar uma das principais fontes de abastecimento da cidade. Localizada no pé da Serra dos Pretos Forros, a Água Mineral Santa Cruz virou negócio de família, em 1914, e, mais de 100 anos após sua fundação, os proprietários veem o movimento triplicar devido à crise da água da Cedae.
A descoberta do local ocorreu em 1888 e foi reconhecida como a segunda fonte hidromineral do estado. No terreno, duas construções chamam atenção: o antigo reservatório e o casarão, hoje utilizado para guardar objetos pessoais da família.
O envasamento, modernizado, dura menos de três minutos entre checagem, limpeza, enchimento e rotulagem dos vasilhames. "Nosso movimento está três vezes maior. Tem gente de outros municípios vindo buscar", diz o gerente Anderson Guimarães.
Apesar de contar com uma equipe de 20 funcionários, o volume de trabalho levou o gestor a contratar outros dois novos profissionais. A disputa tem sido grande na busca por água mineral.
A todo momento é possível ver uma quantidade grande de caminhões, kombis e até motos que chegam para comprar os vasilhames. "Nós conseguimos envazar cerca de 1 mil garrafões por hora. O equivalente a 20 mil litros. Mesmo assim, ainda estamos longe de solucionar a demanda atual", diz Guimarães.
Comerciante de Jacarepaguá, Fernando Massulo é um dos que revendem a água da fonte. Ele se diz surpreso com o movimento. "Antes, a gente vendia entre 10 e 15 galões por dia. Hoje, nossa saída é de 150 unidades. Estou buscando aqui e em outra distribuidora, porque uma só não dá vazão", conta.
Moradores criticam água da Cedae
Apesar da origem do nome do bairro da Água Santa estar ligado diretamente à história da fonte mineral, os moradores não estão nada contentes com a qualidade da água que tem chegado pelas torneiras, via Cedae. "Não percebi coloração, mas o cheiro ainda está forte. A gente está comprando água mineral para beber e para fazer a comida", diz Rose Dias, dona de um restaurante na região.