O envazamento dos galões leva menos de três minutos: modernidade - Estefan Radovicz / Agencia O Dia
O envazamento dos galões leva menos de três minutos: modernidadeEstefan Radovicz / Agencia O Dia
Por Anderson Justino e Renan Schuindt

Quando começou a vender água mineral engarrafada, em 1909, na região que viria a se chamar Água Santa, na Zona Norte do Rio, o ex-escravo Domingos Camões não imaginava que sua descoberta pudesse se tornar uma das principais fontes de abastecimento da cidade. Localizada no pé da Serra dos Pretos Forros, a Água Mineral Santa Cruz virou negócio de família, em 1914, e, mais de 100 anos após sua fundação, os proprietários veem o movimento triplicar devido à crise da água da Cedae.

A descoberta do local ocorreu em 1888 e foi reconhecida como a segunda fonte hidromineral do estado. No terreno, duas construções chamam atenção: o antigo reservatório e o casarão, hoje utilizado para guardar objetos pessoais da família. 

O antigo casarão da fábrica original serve, hoje, para guardar objetos da família dos fundadores - fotos de Estefan Radovicz

O envasamento, modernizado, dura menos de três minutos entre checagem, limpeza, enchimento e rotulagem dos vasilhames. "Nosso movimento está três vezes maior. Tem gente de outros municípios vindo buscar", diz o gerente Anderson Guimarães.

Apesar de contar com uma equipe de 20 funcionários, o volume de trabalho levou o gestor a contratar outros dois novos profissionais. A disputa tem sido grande na busca por água mineral.

Vinte e dois funcionários trabalham na empresa. Dois deles foram contratados durante a crise da Cedae - Estefan Radovicz / Agencia O Dia

A todo momento é possível ver uma quantidade grande de caminhões, kombis e até motos que chegam para comprar os vasilhames. "Nós conseguimos envazar cerca de 1 mil garrafões por hora. O equivalente a 20 mil litros. Mesmo assim, ainda estamos longe de solucionar a demanda atual", diz Guimarães.

Matéria na fábrica engarrafadora de águas minerais, Santa Cruz, em Água Santa. Na foto, Tanques que estocam a água que chega da nascente da montanha próxima da fábrica. - Estefan Radovicz / Agencia O Dia

Comerciante de Jacarepaguá, Fernando Massulo é um dos que revendem a água da fonte. Ele se diz surpreso com o movimento. "Antes, a gente vendia entre 10 e 15 galões por dia. Hoje, nossa saída é de 150 unidades. Estou buscando aqui e em outra distribuidora, porque uma só não dá vazão", conta.

Fernando comemora a grande procura em seu mercadinho, em Jacarepaguá. Vendas aumentaram 10 vezes mais - Estefan Radovicz

Moradores criticam água da Cedae

Apesar da origem do nome do bairro da Água Santa estar ligado diretamente à história da fonte mineral, os moradores não estão nada contentes com a qualidade da água que tem chegado pelas torneiras, via Cedae. "Não percebi coloração, mas o cheiro ainda está forte. A gente está comprando água mineral para beber e para fazer a comida", diz Rose Dias, dona de um restaurante na região. 

MP: prazo se encerra hoje
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Termina nesta quarta-feira o prazo dado pelo MP-RJ para que a estatal se manifeste sobre a causa dos problemas no fornecimento de água na Região Metropolitana. Na quinta-feira, 23, o MP instaurou inquérito civil para apurar os prejuízos causados à população, com o fornecimento de água turva e com cheiro ruim.
 
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Companhia tem canal para contestar contas
Quase um mês após o início da crise da água da Cedae, as reclamações continuam. Ontem, um grupo de manifestantes se reuniu em frente à sede da estatal, no Centro do Rio, e cobrou respostas. Algumas pessoas ainda reclamam que estão recebendo em suas casas água com mau cheiro e cor turva.
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Além da qualidade da água, há reclamações, também, sobre a chegada das contas de fornecimento. No bairro Encantado, na Zona Norte do Rio de Janeiro, a dona de casa Marcela Gomes disse que sua conta teve um aumento de quase R$ 100.
A Cedae informou que as contestações devem ser feitas através do canal (0800) 031-6032 ou em qualquer loja física da companhia.
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A Associação Brasileira de Defesa do Consumidor (Proteste) orienta os consumidores cariocas que guardem provas para eventual ação coletiva contra a Cedae. "Guarde fotos da água com a cor turva; notas fiscais de compra de água; laudos médicos; recibos de remédios; protocolos de reclamação para a Cedae", orienta a Proteste.
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