Em 2019, 16% das informações passadas para o Disque Denúncia eram sobre grupos paramilitares  - ARTE O DIA
Em 2019, 16% das informações passadas para o Disque Denúncia eram sobre grupos paramilitares ARTE O DIA
Por Bruna Fantti

As denúncias contra milícias bateram recorde no ano de 2019 na cidade do Rio. E localidades da Zona Oeste lideram o ranking de ligações. É o que aponta levantamento feito pelo Disque Denúncia a pedido de O DIA.

No ano passado, de um total de 45.531 ligações, 7.601 (16%) faziam referências aos grupos paramilitares. "São denúncias desde a localização de procurados a extorsões", afirmou o coordenador do programa, Zeca Borges.

No ranking geral de delitos denunciados ao telefone 2253-1177, a milícia saltou do quarto lugar em 2018, com 6.356 registros, para o segundo crime mais denunciado no Rio em 2019. O tráfico de drogas continua sendo o líder em denúncias, com 10.676 (23%) dos telefonemas ano passado.

Em 2019, o bairro de Jacarepaguá foi o líder em denúncias contra a milícia, com 1.282 ligações — Taquara (226) e Praça Seca (376). Muitas delas faziam referências aos milicianos que agiam na Favela da Muzema, onde, em abril, dois prédios construídos por paramilitares desabaram, deixando 24 mortos. Em seguida, ainda na Zona Oeste, os campeões de denúncias de atuação de milicianos são Campo Grande, com 503 registros, e Santa Cruz, com 401. 

MILICIA - ARTE O DIA

De acordo com o promotor Luiz Ayres, que atua com investigações na área criminal, milicianos mudaram a forma de matar nos últimos anos. "Quando os grupos surgiram, eles deixavam os mortos pela rua, como uma forma de recado. Mas isso deixava rastros para a investigação. Agora, eles desaparecem com os corpos", disse.

Segundo o Instituto de Segurança Pública (ISP), a Zona Oeste possui, no Estado do Rio, duas das cinco delegacias que mais registraram desaparecidos em 2019: Taquara (139) e Campo Grande (151). No período, o Gaeco, o grupo do Ministério Público, denunciou 1.060 pessoas e prendeu 336 milicianos.

 

Cuidado nas recompensas
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Numa estação de metrô, um homem segurava um envelope pardo. Quando avistou outro com blusa roxa e boné verde, se aproximou e disse: "A águia pousou". E escutou como resposta: "A mamãe perdoa". Senha e contrassenha conferiram e o envelope, que continha R$ 50 mil em dinheiro, foi entregue. Digno de filmes, o esquema garante o anonimato do denunciante e é rotina no Disque Denúncia.
Assim foi realizado o pagamento de R$ 50 mil, o maior já pago, para quem denunciou o traficante Celso Pimenta, em 2015. O criminoso foi morto ao reagir.
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A realidade, porém, mudou. Agora, o Disque Denúncia só paga quando o criminoso é preso. Um aviso no site do programa alerta. "As recompensas só serão pagas em operações em que não ocorram violência". A mudança ocorreu em abril de 2019, quando uma lei permitiu o pagamento a policiais que efetuassem prisões como recompensa.
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Comandante da maior milícia do Rio
O miliciano Wellington da Silva Braga, o Ecko ou Didi, é considerado o líder da antiga milícia denominada Liga da Justiça, que age em várias regiões da Zona Oeste do Rio de Janeiro e Baixada Fluminense. Com 12 anotações criminais, Ecko é considerado foragido da Justiça e contra ele há um mandado de prisão pelo crime de homicídio.
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A ascensão de Ecko ao comando da maior milícia do Estado ocorreu por conta da morte de seu irmão Carlos Alexandre Braga, o Carlinhos Três Pontes em abril de 2017. Segundo policiais, ele é usuário de cocaína e obtém renda não somente com a extorsão a comerciantes e moradores, mas também com lucros do tráfico de drogas.
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