Miracema deserta à noite: ultimamente a população já não sente tanta segurança pelas ruas - Reprodução/Whatsapp do meia hora
Miracema deserta à noite: ultimamente a população já não sente tanta segurança pelas ruasReprodução/Whatsapp do meia hora
Por Thuany Dossares

A estratégia do tráfico de drogas para manter os lucros com as atividades criminosas, fugindo da mira de investigações e operações policiais, foi deixar as grandes comunidades da Região Metropolitana e se mudar para o interior do estado. Cidades do Noroeste Fluminense registraram um aumento nos índices de apreensão de drogas e de pessoas autuadas por posse de entorpecentes e entraram para a rota do tráfico da região, incluindo os estados de Minas Gerais e Espírito Santo.

No Município de Itaperuna, o maior da região, os registros de apreensão de drogas cresceram mais de 70% de 2018 para 2019, segundo o Instituto de Segurança Pública (ISP). No ano passado, a delegacia da cidade contabilizou 1.032 ocorrências desse tipo, quando em 2018 haviam sido anotados 596 casos. Quando se tratam de pessoas apreendidas com posse de material entorpecente, esse número dobra na cidade. Em 2019 foram 831 registros na delegacia, contra 403 no ano anterior.

O cientista político Warllon de Souza Barcellos aponta que Itaperuna é uma cidade universitária e tem o maior número de habitantes da região, cerca de 103 mil, de acordo com a estimativa do IBGE.

O aumento nas apreensões de drogas também aconteceu em Porciúncula, com índices superiores a 50%. Em 2019, a 139ª DP, no município, fez 206 registros, quando no ano anterior houve 136 apreensões. A quantidade de usuários conduzidos para a delegacia também cresceu de um ano para o outro, saindo de 99 para 132 pessoas.

 

Chegada do tráfico fez aumentar a violência e sensação de insegurança
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Miracema, no Noroeste Fluminense, foi um dos municípios escolhidos por criminosos que apostaram nessa migração, principalmente após a criação das Unidades de Polícia Pacificadora (UPP). Embora os dados a respeito de tráfico de drogas não tenham crescido em Miracema, segundo o ISP, a influência do crime na cidade se refletiu nos dados de violência.
A cidade tem apresentado aumento em casos de letalidade violenta, como observado pelo ISP. Um estudo feito pelo sociólogo David de Mello Neto, da Fundação Getúlio Vargas (FGV), também aponta que a cidade foi a que teve o maior crescimento nos índices de morte por violência, entre 2003 e 2018, com um aumento médio de 7% ao ano.
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Até o dia 15 de janeiro deste ano, a delegacia de Miracema (137ª DP) já teve dois registros de ocorrência, ambos por assassinato. No ano passado, o município anotou 13 homicídios, quatro a mais do que em 2018. O número pode parecer pequeno, se comparado com a capital carioca, mas para Miracema, que tem uma população de pouco mais de 27 mil pessoas, esses registros representam 41 homicídios para cada 100 mil habitantes.
"Nove homicídios não são nada no Rio, mas numa cidade como Miracema, 10 homicídios são um estrago na sensação de segurança", afirma o sociólogo.
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Pedido explícito de ajuda
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A cidade de Miracema passou a ser apelidada de 'Miraína' ou 'Miraconha' pela população, como afirma o cientista político Warllon de Souza Barcellos, em seu estudo sobre violência urbana. O especialista aponta que um dos atrativos para os criminosos é a proximidade do município com Minas Gerais e com a cidade de Itaperuna, gerando, assim, uma rota do tráfico de drogas no interior.
O policiamento no município é realizado pela Polícia Militar, com bases destacadas de policiamento ostensivo do 36º BPM (Santo Antônio de Pádua) e do Batalhão de Polícia Rodoviária. No entanto, a prefeitura afirma que a vigilância na região é insuficiente.
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"Em que pese a Constituição Federal destinar a responsabilidade pela segurança pública aos estados, vê-se que o município de Miracema conta com o mínimo de órgãos de proteção no combate à violência. Não restou outra alternativa senão solicitar auxílio ao governo do Estado do Rio de Janeiro", declarou a prefeitura.
A PM informou que, desde o início do ano, o 36º BPM tem intensificado o policiamento ostensivo no interior do estado, visando, entre outras estratégias, o combate ao crime organizado, ao tráfico de drogas e às diversas modalidades de roubo.
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