Empolgados, idosos de abrigo público relembram histórias da infância, fazem e ganham carinhos de pets terapeutas
 - fotos Gilvan de Souza
Empolgados, idosos de abrigo público relembram histórias da infância, fazem e ganham carinhos de pets terapeutas fotos Gilvan de Souza
Por Waleska Borges
Rio - Flávio Martins, de 68 anos, não tem a perna direita. Já o vira-latas Rock, de 10, não tem a pata esquerda. As semelhanças, porém, não param por aí. Flávio está em um asilo. E Rock, num abrigo. Ao se encontrarem, o cãozinho e o senhor trocam afetos e até experiências."Ele perdeu a pata e está andando. Também vou superar essa", reflete Flávio, um dos 38 idosos que vivem na Unidade de Reinserção Social (URS) Maria Bazani, no Recreio. Eles recebem, constantemente, visitas de pets terapeutas. 
Ao chegar ao asilo, os pets do Instituto Pata Real, ONG que resgata, esteriliza e realiza campanhas de adoção com cães e gatos abandonados, causam alvoroço na calmaria do lugar. De cadeira de rodas, Flávio - que está há pouco mais de três anos no local desde que perdeu a perna - estica o pescoço para ver se o seu amigo Rock é um dos visitantes. "É ele mesmo. Já me conhece", constatou ao ver o cão.
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Quem também se anima é a dona de casa vera da Silva, de 74, que ao saber da visita dos bichinhos, trocou o vestido, passou maquiagem e caprichou no penteado. Há um ano no asilo, ao ver a vira-latas Mel, a senhora lembra empolgada da sua infância. "Quando eu era garota, com uns cinco anos, tive uma cachorrinha que a chamava de Gibi", contou Vera, que não largou mais a coleira de Mel.
Os encontros emocionados vão se multiplicando. Cada um do seu jeito e no seu tempo. Como no caso do uruguaio Rubi Raúl, de 75 anos. O senhor, que é introspectivo e de poucas palavras, aconchega no colo a filhote gatinha Cristal. Raúl gosta tanto que não quer largar a pequena.
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Quem também dá colo, desta vez, ao cãozinho Munssum, é Marcos Araújo, de 67, que perdeu uma visão e quase não enxerga de outra. "Um dia, quando sair daqui, vou querer ter um cachorro brincalhão", sonha o senhor, que não tem parentes e está no asilo há quase três anos. Outro que se empolgou foi o recém chegado Adevair Nascimento, de 77, há duas semanas no aliso. "Gosto de cachorro e gata. É muito bom ver esses bichinhos aqui".

Visitas ajudam nas questões emocional, física e social
As visitas dos pets têm efeito positivo nas áreas da saúde emocional, física, social e cognitiva dos idosos. A constatação é da diretora da URS e psicóloga, Mônica Cavalcanti. Segundo ela, o apoio dos animais fortaleceu vínculos afetivos, melhorando a qualidade de vida dos senhores e senhoras.

"A presença dos pets soma muito para a qualidade de vida dos idosos, que encontram um momento de descontração, felicidade, relaxamento e, consequentemente, a diminuição do sentimento de solidão, ansiedade e depressão, além de transtornos psicossociais", explicou a diretora.
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Ainda conforme Mônica, o apoio dos animais fortaleceu vínculos afetivos, o que melhorou a rotina desse grupo social."As visitas também ajudam evitar que se isolem, bem como trabalham suas questões afetuosas", avaliou a diretora.
Segundo Mônica, atualmente, na URS, há 38 idosos, 29 homens e nove mulheres, acima dos 60 anos de idade.Eles se encontram em situação de vulnerabilidade social, vindos das ruas e sem vínculos familiares.

Voluntárias se emocionam nas visitas
Aproximação com idosos é facilitada pela presença dos animais no asilo
Os pets são levados até aos idosos pelas mãos de voluntários da ONG Pata Real. Os bichinhos, entre 50 e 100 cães e gatos, vivem em um sítio e estão disponíveis para adoção. Muitos deles foram resgatados ou doados.
Pela primeira vez no abrigo, na semana passada, a Policial Militar Érika Andrade, de 38, não conteve as lágrimas ao ver a aproximação dos pets e os idosos. "Estão tentando devolver a eles (os animais) todo amor que nos dão, sem julgamentos", explicou a voluntária.
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Já experiente nos encontros, a estudante de Direito Ana Júlia Fernandes, de 19 anos, acumula relatos de felicidade dos internos. "Os pets fazem um trabalho sensacional com os idosos", frisa. Já a estudante de economia Beatriz Bittencourt, de 18 anos, voluntária do Leos (segmento jovem do Lions), que teve a ideia de levar os animais para o abrigo, conta que a presença dos animais facilitou a aproximação das voluntárias com os idosos. "Muitos querem passar as mãos nos animais", disse.