Vendedor ambulante e morador de Santa Cruz, Roberto Luís Bezerra sofre toda vez que precisa sair do bairro onde mora para ir até Campo Grande. É que o trajeto, que deveria durar pouco mais de 40 minutos, se torna uma via-crúcis por conta da precariedade dos ônibus. O sofrimento dele, por sinal, é vivido por muitos outros cariocas. A Secretaria Municipal de Transportes (SMTR) divulgou o Ranking Negativo de Linhas de Ônibus que circulam na cidade. E as empresas que atuam na Zona Oeste lideram as reclamações.
Segundo o levantamento da SMTR, foram avaliados itens como veículos depredados (bancos rasgados, vidros quebrados e mau estado da carroceria), conduta do motorista (que não para no ponto, dirige de forma desatenta e uso de celular na direção) e o serviço oferecido pelas empresas (escassez de ônibus e a retirada de linhas das ruas). Os dados são referentes aos meses de outubro, novembro e dezembro de 2019. Na liderança do ranking, o consórcio Santa Cruz, com o maior registro de reclamações no período.
De acordo com Roberto Luís Bezerra, seja nos dias de sol ou chuva, a viagem é sempre um problema. Nos dias quentes, o interior do micro-ônibus ganha o apelido de forninho. "Quando chove, os passageiros 'ganham' uma piscina, já que a maior parte das janelas enferrujadas que não fecham e a água invade o interior", revela. "É sempre doloroso ir a Campo Grande todas as semanas. Os ônibus são horríveis", completa.
Os passageiros também sofrem com o calor. Não por acaso, é o próprio motorista quem anuncia que o ar-condicionado está quebrado em um dos ônibus da linha 866 (Pedra de Guaratiba-Campo Grande). "Ou seja, a gente vai fazer a viagem no calor. Quem quiser ir está avisado e não pode reclamar", avisa ele, que pede anonimato.
Morador de Guaratiba, o pedreiro Genilson de Souza, reclama da qualidade dos serviços de ônibus na cidade. "A gente vai fazer o quê? Precisamos ir pra casa. Infelizmente, não fazem nada para melhorar o transporte público. E o motorista só avisou que o ônibus estava sem ar-condicionado porque tem a presença da equipe da imprensa aqui. Mas nem sempre é assim", disse ele.