Ex-capitão do Bope Adriano Magalhães da Nóbrega, apontado como chefe do Escritório do Crime, milícia investigada pelas mortes de Marielle Franco e Anderson Gomes - Reprodução
Ex-capitão do Bope Adriano Magalhães da Nóbrega, apontado como chefe do Escritório do Crime, milícia investigada pelas mortes de Marielle Franco e Anderson GomesReprodução
Por Beatriz Perez e Bruna Fantti
Rio - O advogado do ex-capitão do Bope Adriano da Nóbrega disse que vai comunicar as corregedorias das Polícias Civis do Rio de Janeiro e da Bahia, além do Ministério Público dos dois estados para que as circunstâncias da morte de seu cliente sejam apuradas. Acusado de chefiar um dos principais grupos paramilitares no Rio, Adriano foi morto na manhã de domingo após ser cercado pela polícia na zona rural do município de Esplanada, na Bahia.
O subsecretário de inteligência da Secretaria de Polícia Civil do Rio (Sepol), Luiz Lima, informou que a Polícia Civil do Rio de Janeiro levou cerca de 96 horas (quatro dias) entre a localização e abordagem a Adriano. O miliciano estava foragido há mais de um ano.

Segundo o Ministério Público do Rio, o miliciano comandava o "Escritório do Crime", grupo de matadores suspeito de ligação com as mortes da vereadora Marielle Franco e do motorista Anderson Gomes, em março de 2018. Suspeito de vários homicídios, Adriano da Nóbrega era um dos criminosos mais procurados no estado, com alerta vermelho na Interpol.
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Identidade falsa usada pelo ex-capitão Adriano apreendida na Bahia reprodução
Ex-capitão do Bope Adriano Magalhães da Nóbrega, apontado como chefe do Escritório do Crime, milícia investigada pelas mortes de Marielle Franco e Anderson Gomes Divulgação
Armas encontradas com miliciano Adriano da Nóbrega, morto pela polícia da Bahia Divulgação
"É um dever moral e profissional comunicar as autoridades para apurar se houve excesso por parte da ação da polícia nesta operação, já que tive acesso a uma hipótese (de queima de arquivo) tanto por parte de Adriano quanto de sua viúva", diz Paulo Emílio Cata Pretta. 

O advogado conta que Adriano da Nóbrega o ligou na semana passada e relatou medo de ser assassinado pela polícia. "Em princípio, eu disse para que ele se entregasse. Mas, ele estava convicto de que se fosse pego seria morto. Procurei demovê-lo de continuar foragido porque estava confiante da absolvição dele na investigação da Operação Intocáveis", diz a defesa.
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Cata Pretta diz que aquela foi a primeira vez que o cliente o telefonou. Segundo a defesa, o ex-capitão do Bope não entrava em contato justamente por estar foragido. 
Agora, o advogado trabalha na liberação do corpo, que está na Bahia, para que seja feito o translado para o Rio de Janeiro. A expectativa é de que a liberação ocorra nesta segunda-feira.
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Apenas em seguida, Catta Preta diz que comunicará as autoridades sobre as suspeitas relatadas pelo cliente de ser alvo de "queima de arquivo". A defesa, no entanto, disse desconhecer o motivo ou o âmbito da investigação pela qual Adriano temia ser assassinado.
A Secretaria de Segurança Pública da Bahia informa que o corpo de Adriano da Nóbrega está no IML de Alagoinhas (BA). A pasta acrescenta que a Corregedoria apura todos os confrontos com morte de criminosos
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A Secretaria de Estado de Polícia Civil (Sepol) informa que não foi aberta investigação na Corregedoria Geral de Polícia para apurar a ação que resultou na morte de Adriano Magalhães da Nóbrega, o capitão Adriano. "Cabe ressaltar que a Sepol atuou na parte de inteligência. A parte operacional foi realizada pela Secretaria de Segurança da Bahia", diz em nota.
Morte de Adriano ocorreu 96 horas após localização
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O subsecretário de inteligência da Secretaria de Polícia Civil do Rio (Sepol), Luiz Lima, informou que a Polícia Civil do Rio de Janeiro levou cerca de 96 horas entre a localização e captura de Adriano. O miliciano estava foragido há mais de um ano.
Segundo a polícia, ele reagiu após ser cercado por agentes do setor de inteligência da Polícia Civil do Rio e policiais do Bope da Bahia. 
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Lima não divulgou quantos agentes do Rio participaram do cerco. " A Subsecretaria de Inteligência (Ssinte) da Sepol chegou até o local através de análises e ações de inteligência, não havendo participação de elementos externos à atividade de inteligência", acrescentou.
A Polícia Civil disse que Nóbrega foi localizado no Estado da Bahia no fim do ano de 2019.
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Perguntado se a Polícia identificou agentes públicos na rede de colaboradores de Adriano da Nóbrega, Lima disse que "como há investigação em curso, mais detalhes não podem ser divulgados para não prejudicar o andamento da apuração".
Na semana passada, a polícia realizou uma operação para prender o ex-militar na Costa do Sauípe, no litoral baiano. Adriano teria alugado uma casa de luxo para festejar seu aniversário. Ao perceber a chegada dos policiais, ele conseguiu fugir. Mas, de acordo com
a polícia, deixou para trás uma identidade falsa, com o nome de Marco Antonio Linos Negreiros.
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Para o subsecretário de inteligência da Secretaria de Polícia Civil do Rio, o documento falso encontrado, "como todo e qualquer meio de prova, auxilia em qualquer apuração, mas não foi determinante para a sua localização". O documento está em posse do Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco) do Ministério Público do Rio. 
Condecorado por bons serviços
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Como PM, Nóbrega possuía currículo invejável. Era atirador de elite do Bope e, por duas vezes, foi condecorado com honrarias de louvor e congratulações por serviços prestados à corporação. Uma das homenagens foi feita por Flávio Bolsonaro, em 2003, quando era
deputado estadual. Em 2018, a mãe e a ex-mulher do miliciano foram empregadas no gabinete de Flávio Bolsonaro na Alerj. 
O ex-policial acumulou cargo de segurança da empresária Shanna Harrouche Garcia, filha do bicheiro Maninho. Adriano chegou a ser acusado de matar um pecuarista a mando de Shanna. No dia do julgamento, a testemunha voltou atrás e o caso foi arquivado.