"Capitão Adriano", como era conhecido, foi baleado depois que a polícia invadiu o sítio onde ele estava escondido. Segundo a PM, houve troca de tiros. A família de Nóbrega, no entanto, diz que ele foi executado.
A Justiça da Bahia autorizou na noite de terça-feira, a realização do novo exame. O pedido havia sido feito pelo Ministério Público da Bahia e também pela família de Nóbrega. Na decisão, o juiz Augusto Yuzo Jouti determina que o exame seja feito por peritos do IML do Rio, onde o corpo está desde o último domingo. De acordo com a decisão, no entanto, a família e o MP da Bahia podem indicar peritos independentes para acompanhar o exame.
O objetivo do novo exame é determinar a distância aproximada entre os policiais e Adriano, o trajeto percorrido pelas balas no interior do corpo do ex-PM e o calibre das armas usadas. Será possível averiguar também se houve tortura, como foi alegado pelo senador Flavio Bolsonaro (sem partido-RJ).
Segundo os promotores, tais questões não foram devidamente esclarecidas na primeira necropsia, feita no IML de Alagoinha, cidade vizinha à Esplanada. Com esses esclarecimentos, acreditam, será possível determinar se houve, de fato, uma troca de tiros ou uma execução.
A Secretaria de Segurança da Bahia informou que estão pendentes ainda os resultados de exames importantes feitos no Estado. São eles o residuográfico (que determina se Nóbrega, de fato, fez algum disparo de arma de fogo), o das marcas de bala no escudo usado pela PM na invasão do sítio (o que poderia indicar uma reação) e o da perícia da casa onde ele foi alvejado.
Adriano da Nóbrega é investigado no Rio por sua participação no Escritório do Crime, o braço armado da milícia. O MP também apura a ligação do ex-oficial com o esquema de rachadinha (repasse dos salários ao parlamentar) no gabinete do então deputado estadual Flávio Bolsonaro. A mãe de Nóbrega, Raimunda Veras Magalhães, e a ex-mulher Danielle Mendonça, trabalharam no gabinete. O então deputado estadual também assinou projeto que resultou na concessão ao ex-policial da Medalha Tiradentes, mais elevada homenagem do Legislativo fluminense. Na ocasião, Adriano da Nóbrega estava preso, respondendo a processo por assassinato, acusação de que, posteriormente, se livrou.
Nóbrega estava foragido havia cerca de um ano, quando foi localizado na Bahia. O corpo foi trazido para o Rio de Janeiro na terça-feira à noite, em voo comercial. A mãe do ex-oficial pretendia cremá-lo já na manhã de quarta-feira, no Memorial do Carmo, no Caju, mas foi impedida pela Justiça.
Na madrugada de quarta-feira, a juíza Maria Izabel Pena Pieranti, do Plantão Judiciário, sustentou que o pleito da família não atendia aos requisitos da lei. O requerimento, segundo ela, não estava acompanhado de documentos imprescindíveis, como a guia de remoção do cadáver e o registro de ocorrência. Além disso, alegou, a morte não se deu por causas naturais: "acaso fosse deferida a cremação, (...) inviabilizadas estariam eventuais providências a serem levadas a efeito pela autoridade policial".
Na tarde de quarta-feira, o juiz Gustavo Gomes Kalil, da 4ª Vara Criminal do Rio, proferiu uma nova decisão contra a cremação, desta vez no processo referente à Operação Intocáveis, do Ministério Público do Rio. A ação apura a participação de Nóbrega no Escritório do Crime.
Na quinta-feira pela manhã, a viúva do ex-capitão, Julia Emília Mello Lotufo, pediu a realização de uma perícia particular no corpo. Como o advogado, ela acredita que o marido pode ter sido executado e não quer enterrar o corpo sem tirar isso a limpo. A Justiça do Rio negou o pedido.