Paracambi sofre com saneamento básico incompleto, esgoto sem tratamento
Na segunda parte da série sobre a poluição que atinge o Rio Guandu, a precariedade do saneamento na Região Metropolitana
Por Bernardo Costa
Não se vê esgoto a céu aberto no bairro Ponte Coberta, em Paracambi. Porém, a infraestrutura de saneamento básico é incompleta, e as galerias subterrâneas deságuam no córrego que margeia as casas na parte baixa. Destino final: as águas do Rio Guandu. Ponte Coberta é uma das 40 áreas que estão recebendo visitas de técnicos do projeto 'Saneamento Rural', que, coordenados pelo Comitê Guandu-RJ, irão elaborar planos de obras para tratamento de esgoto dessas regiões, onde estão os afluentes que formam o Rio Guandu.
Na praça de Ponte Coberta, a rede de coleta subterrânea passa ao lado do muro da escola. A diretora da unidade, Inaércia Carvalho de Souza, de 62 anos, conta que as obras foram feitas na época da reinauguração do colégio, em 1989. "Funciona bem, nunca vi o esgoto dar retorno aqui, nem quando chove", conta.
O material, no entanto, é despejado in natura no curso d'água a alguns metros de distância. Ele fica nos fundos da casa de Martha Rodrigues, de 59 anos. Além do mau cheiro, mosquitos e ratos trazem problemas para a moradora. "O esgoto todo das ruas lá de cima passa por aqui e vai para o Guandu. Quando chove, o córrego enche e entra nas nossas casas. É perigoso, fico com medo", diz Martha.
Engenheiro ambiental da Profill, empresa contratada para realizar o diagnóstico nas áreas rurais, Filipe Teske conta que não foi possível confirmar infraestrutura para tratamento de esgoto em Ponte Coberta. "A solução é incompleta. Há a coleta, mas o caminho natural de descarte acaba sendo o córrego, que vai impactar na água do Guandu", diz.
Segundo a Prefeitura de Paracambi, as obras em Ponte Coberta não contemplaram tratamento de esgoto por se tratar de área rural. "O programa de melhoria só atendia a malha urbana. Assim que o edital foi aberto também para a área rural, a prefeitura solicitou ao Comitê Guandu que o programa de saneamento rural atendesse a localidade", disse a prefeitura, por e-mail.
Obras causam danos na rede de coleta
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Na Estrada Eduardo Pereira Dias Jr., a passagem de máquinas para a construção da linha de transmissão de energia Xingu-Rio, em Paracambi, danificou a infraestrutura de coleta no local. Segundo moradores, o alargamento da via provocou mudança de posição na galeria subterrânea. Com isso, as casas que ficam acima perderam a ligação com a rede.
"O esgoto está sendo despejado de qualquer jeito no morro, o que está contribuindo para a erosão e colocando as casas em risco", diz Aílton Antunes, de 61 anos.
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Uma casa que está em risco é a do gari Isaías Nascimento, de 47 anos. O imóvel foi interditado pela Prefeitura de Paracambi, que está pagando aluguel social ao morador desde abril de 2019. O prazo termina em março. "Alargaram a rua para a passagem de transformadores, mas não fizeram a contenção. Minha casa é própria e ganho um salário mínimo apenas. Não sei para onde ir com minha família", disse.
A Prefeitura de Paracambi informou que acompanha a situação de Isaías, e que avalia prorrogar o pagamento do Aluguel-Social. Sobre as obras de contenção na Estrada Eduardo Pereira Dias Jr., o órgão disse que as intervenções são de responsabilidade da empresa State Grid Brazil Holding, que construiu a linha de transmissão de energia Xingu-Rio.
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Procurada, a empresa disse que todas as compensações já foram realizadas. E listou ações de preservação ambiental no Parque Natural Municipal do Curió e na Apa do Rio Guandu, mas não incluiu obras de recuperação da Estrada Eduardo Pereira Dias Jr.
'Quase 100% das áreas não têm solução adequada'
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O projeto Saneamento Rural já visitou 11 municípios. O engenheiro ambiental Filipe Teske, da Profill, é um dos técnicos que estão participando das vistorias.
Qual é o cenário que estão encontrando?
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De uma forma geral, estamos verificando que quase 100% das áreas não têm uma solução de tratamento de esgoto implantada. Já o abastecimento de água para consumo humano varia: há locais atendidos pela Cedae e outros em que moradores usam poços artesianos ou poços-cacimba, escavados de forma manual.
Quando não há tratamento de esgoto, qual é a solução?
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Fossa rudimentar, com buracos no chão. O dano é que acaba contaminando o solo e o lençol freático.
Em que fase está o projeto?
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Estamos na terceira rodada de visitas para diagnóstico. Quando terminarmos essa etapa, vamos elaborar os relatórios com planos de obras para as prefeituras.