Segundo Simone Gleide, 47 anos, profissional de um hospital público em Niterói, o medo tem sido um sentimento constante a cada plantão. "Saio de casa com receio, já me afastei, pois me infectei trabalhando e faço plantões dobrados em razão daqueles que se afastam por terem se contaminado. É o amor pela nossa profissão que nos faz sair de casa. A gente cuida do amor de alguém, que não pode ter visita, já que é uma doença do isolamento. Nos tornamos amigos, pois a gente não perde a sensibilidade", desabafa ela.
Na casa de Elaine Costa, 46, e Daniel Souza, 41, os riscos são em dobro. O casal de enfermeiros se desdobra entre plantões no Hospital Universitário Clementino Fraga Filho e os cuidados para eles e os filhos se manterem bem. "Temos dois filhos e a sensação é de insegurança de levar o vírus. Mas sinto orgulho em exercer essa profissão. Espero um maior reconhecimento, que não se limite a tapinha nas costas e venha em forma de boas condições de trabalho e salários dignos", pede ela.
Para Alice Bilangeri, 29, que trabalha na rede privada, a pandemia do coronavírus tornou mais visível a luta da categoria por melhores condições. "Buscamos reconhecimento profissional, remuneração e cargas horárias adequadas. Abdicamos por muita coisa para exercer a profissão que a gente ama", afirma ela, que está longe do filho de 1 ano há dois meses — o contato é feito apenas por chamada de vídeo.
Além do Dia da Enfermagem, de hoje até o dia 20 deste mês se comemora ainda a semana da enfermagem, com último dia Nacional do Técnico e Auxiliar de Enfermagem. "A gente já manifestava uma situação deficitária para os profissionais, mas com o coronavírus se agravou. Há falta de EPIs, sobrecarga de trabalho e exposição. Há dois dias perdi minha prima, técnica de enfermagem", lembra Glauber Amancio, conselheiro do Coren-RJ.