Tenda Casa Pai João do Congo, em Nova Iguaçu - ARQUIVO PESSOAL
Tenda Casa Pai João do Congo, em Nova IguaçuARQUIVO PESSOAL
Por Yuri Eiras

Rio - O cheiro do cachimbo, o som dos atabaques, os pés descalços no chão. O contato físico, fundamental para os ritos da Umbanda, está suspenso. Em tempos de quarentena por conta do novo coronavírus, representantes dos terreiros e seguidores da religião de matriz africana têm encontrado dificuldades para manter em dia os compromissos e a conexão espiritual. Hoje, 13 de maio, é celebrado o Dia dos Pretos Velhos - e também os 132 anos da assinatura da Lei Áurea. Seria uma quarta-feira de festa nas casas dedicadas ao culto, mas que agora estão de portas fechadas.

"Terreiro de Umbanda trabalha muito com o tocar, o passo fluídico. Nesse período de pandemia, torna-se difícil trabalhar nesse sentido. A Umbanda sem assistência, sem a presença das pessoas buscando a caridade, é um trabalho totalmente diferente. Ontem (terça-feira), nós fizemos uma reza interna. Colocamos nossas velas para os Pretos Velhos, cantamos para eles, servimos a feijoada, mas fizemos algo totalmente fechado e respeitando as normas da Secretaria de Saúde: máscara no rosto, distanciamento dentro do salão, sem contato físico", contou Rodrigo Azevedo, dirigente da Tenda Espírita Pai João do Congo, em Nova Iguaçu.

"Confesso que para quem é umbandista está muito difícil. Quando a gente perde alguém para esse vírus, como foi meu caso de perder minha mãe muito rápido, a responsabilidade se torna maior, e o cuidado é triplicado", ressalta Azevedo, que perdeu a mãe recentemente para o novo coronavírus.

Na Tenda de Umbanda Casa São Miguel, em Magé, as conversas entre os dirigentes e os frequentadores têm sido por WhatsApp. "Desde o início da quarentena, nós fechamos as portas, cessamos os trabalhos e estamos aguardando as notícias de liberação total para voltar. O nosso contato por enquanto é só via grupo de WhatsApp. A maioria dos médiuns são de idade", explicou Silas de Oxum, representante da casa. "Nosso guia espiritual mandou colocar um copo d'água com sal grosso na entrada de nossas casas para proteção. Assim estamos fazendo desde o início da quarentena. Esperamos que acabe o mais rápido possível", disse.

Umbanda: Tenda Casa São Miguel, em Magé - ARQUIVO PESSOAL

Celebração em casa
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Com os terreiros de portas fechadas, a solução é cumprir os ritos dentro de casa, como fará Mariane Alves, que frequenta a Casa do Caboclo Sete Flechas. "Sempre fazíamos a festa de Preto Velho, com a famosa feijoada para eles, e tínhamos durante o mês de maiogiras especiaispara Preto Velho.Até pensamos em fazer quando o número de casos ainda era menor, acreditando que poderia dar uma melhorada. Mas por conta do aumento , preferimos evitar", conta Mariane. "Vou pegar as coisas da minha Vovó, seu cachimbo, lenço, arruda, pemba, e oferecer um bolo de fubá com um café feito na hora aqui de casa, mesmo", conta.
 
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