A camisa do Vasco colocada sobre o caixão foi a única maneira que o porteiro Avelino Fernandes Troina Neto, de 43 anos, conseguiu para homenagear e dar o último adeus ao pai, o aposentado Avelino Fernandes Troina Filho, de 74, morto no fim de semana em decorrência da covid-19. Durante o enterro, no cemitério do Catumbi, a dor da perda cedeu espaço para o desabafo de quem ficou por quase quatro horas tentando achar o corpo do pai num contêiner, ao lado do hospital de campanha no Maracanã.
"Meu pai foi tratado como gado. Ficou num espaço amontoado de corpos. Queriam me dar outro corpo no lugar do dele", denuncia Avelino Neto.
Familiares contam que o idoso faleceu na manhã de sábado, dia 16, mas o hospital só avisou um dia depois. "Eu saí do trabalho e fui ao hospital saber sobre ele. Me disseram para voltar para casa, porque era arriscado e entrariam em contato. Assim que cheguei em casa, recebi uma ligação pedindo para retornar com os documentos dele. Só então soube que meu pai estava morto, e que isso tinha ocorrido no dia anterior. Como perderam todos os contatos da família, não conseguiram avisar", diz o filho do aposentado.
Avelino estava internado desde 10 de maio, na UPA da Tijuca, onde ficou até o dia 15, quando foi transferido. "O que me deixa mais triste é saber que, se eu não fosse ao hospital para buscar informações sobre ele, nem saberia do falecimento. Provavelmente meu pai seria enterrado como indigente", desabafa. Em nota, a Secretaria Estadual de Saúde esclarece "que tem realizado vistorias diariamente para reparar falhas da OS contratada para gerir a unidade".