"Em 2014, seis anos atrás, fiz a pior escolha da minha vida e estou aqui para falar sobre ela com toda culpa que carrego. Entrei na universidade me autodeclarando 'parda'. Sim, isso é horrível e não tem um dia que não pense nisso. Há muito tempo guardo essa vergonha dentro de mim e por mais que me sinta triste que o episódio mais sujo da minha vida esteja se tornando público, no fundo sempre soube que esse dia iria chegar", disse Larissa em um trecho do texto.
O pedido de desculpas da produtora de conteúdo, no entanto, aconteceu após a repercussão de uma publicação dela sobre o movimento antirracista #VidasNegrasImportam — ato em resposta ao racismo e à violência policial praticada pelo Estado, nas periferias do Brasil e no mundo, contra a população preta, que segue acontecendo e aumentando nos últimos tempos mesmo em meio à uma pandemia.
Uma internauta escreveu no Twitter: "Não sei porque não fizeram isso antes, mas está aí. tem gente postando coisa sobre racismo hoje que nunca deu a mínima pra isso. essa influenciadora digital, por exemplo, entrou na UFRJ fraudando cotas e nunca sofreu NADA em relação à isso. quem quiser checar". Na publicação, havia ainda links para os ingressantes cotistas da UFRJ em "2014.2", em que constava a matrícula de Larissa.não sei pq não fizeram isso antes, mas ta aí. tem gente postando coisa sobre racismo hoje que nunca deu a mínima pra isso. essa influenciadora digital, por exemplo, entrou na UFRJ fraudando cotas e nunca sofreu NADA em relação à isso. quem quiser checar: https://t.co/NBHhNC9V8x pic.twitter.com/6j57W4rW5X
— mari (@marimaginaria) June 2, 2020
Ainda segundo a publicação de Larissa Busch, ela abandonou a graduação na UFRJ dois anos depois "por não conseguir carregar o peso da culpa". Ao O DIA, colegas de turma da influenciadora disseram, porém, que ela deixou o curso por querer se concentrar na produção de conteúdo para as redes sociais.
Antes de qualquer coisa, eu quero pedir desculpas para as pessoas que realmente deveriam preencher a vaga. Quero pedir perdão também para todas as pessoas negras e minorias que lutaram/lutam para que um sistema como as cotas, que busca justiça social, tenha sido criado. Eu me sinto muito envergonhada, mas estou aqui para assumir o meu erro. Se não puderem me perdoar, entendo perfeitamente. O erro foi grande e eu eu sei. Queria também me desculpar à todas as pessoas próximas, amigos e família, à quem nunca contei isso antes.
Por mais absurdo que pareça, aos 18 anos, eu achava que minha ancestralidade negra me justificativa parda. Acreditava que ter uma bisavó negra me tornava não-branca. Eu estava errada. Minha ancestralidade NÃO me torna parda. Eu sou uma mulher branca e tive muitos privilégios por isso.
Dois anos depois, em 2016 abandonei o curso, justamente por não conseguir carregar o peso dessa culpa. Eu não me formei na universidade, abri mão do diploma porque sabia que não merecia estar ali. Claro, isso não exime o meu erro e NÃO quero receber palmas por isso.
Essa é a minha parte mais feia, imoral e suja. E agora vocês estão encarando ela.
A Larissa de 6 anos atrás já aprendeu muito nos últimos anos e eu estou disposta a seguir aprendendo. Estou disposta a abrir mão dos meus privilégios e continuar lutando pelas causas que acredito mesmo sabendo que dos erros irreparáveis que cometi. Mesmo sabendo que a internet não perdoa, espero continuar aprendendo com esse erro, agora público.