Menino foi morto a tiros durante operação policial. Estava dentro da casa da tia, no Complexo do Salgueiro, com os primos 
 - Arquivo Pessoal
Menino foi morto a tiros durante operação policial. Estava dentro da casa da tia, no Complexo do Salgueiro, com os primos Arquivo Pessoal
Por Thuany Dossares
Rio - O socorro de João Pedro Mattos Pinto, de 14 anos, para a base do Serviço Aeropolicial (SAER) da Polícia Civil, na Lagoa, Zona Sul do Rio, após o adolescente ter sido baleado durante uma operação policial no Complexo do Salgueiro, em São Gonçalo, ainda não está esclarecido para a Defensoria Pública do Rio. O órgão de defesa, que representa a família da vítima, informou que o Ministério Público (MP/RJ) apura não só os crimes de natureza criminal, mas também irregularidades administrativas que podem ter sido cometidas por agentes da Coordenadoria de Recursos Especiais (Core).
"O socorro dele ainda não está suficientemente esclarecido. A gente não sabe se ele estava vivo, não sabe porque ele foi levado para um local tão distante. Segundo o delegado alegou, existiria um protocolo para levar para aquela base aérea da Lagoa, até quando um policial fosse ferido, já que lá fica próximo ao Hospital Miguel Couto. Mas esse protocolo de fato existe? Está escrito? Onde? Nada disso foi apresentado para a gente. Assim como o porque na demora da comunicação aos pais do João Pedro, porque não permitiram ninguém acompanhar ele", explicou o defensor público Daniel Lozoya.
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A base aérea para onde João Pedro foi socorrido fica a mais de 40 km de distância do local da ocorrência, em São Gonçalo. No município da Região Metropolitana, existe o Hospital Estadual Alberto Torres, que fica a cerca de 15 km da localidade da Praia da Luz, no Complexo do Salgueiro, e conta com um heliporto. Entretanto, segundo o delegado Allan Duarte, titular da Delegacia de Homicídios de Niterói, Itaboraí e São Gonçalo (DHNISG) , o ponto de pouso de aeronaves da unidade de saúde não suporta o tamanho do helicóptero da Core.
Contudo, a Defensoria Pública também questiona a remoção de João Pedro e se ele realmente estava vivo ainda quando foi socorrido. Segundo o órgão, essas questões podem configurar fraude processual.
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"Tem um elemento objetivo, que já indicia de forma muito forte, que o João não estava vivo, quando ele foi retirado do local. Ele foi atingido por um tiro de fuzil, projétil calibre 5.56. Uma arma longa, com potencial de destruição enorme e, como a própria Polícia Civil já divulgou, esse projétil atingiu o João perfurando órgãos vitais como coração e pulmão. Isso já é um elemento a ser considerado para questionar a remoção do João do local. Muito provavelmente ele não sobreviveu mais do que alguns segundos depois de ser baleado. Nos causa perplexidade essa vitima ter sido removida", declarou a defensora Livia Casseres.
Além do inquérito para investigar de onde partiu o disparo que atingiu João Pedro, o Ministério Público do Rio também está apurando possíveis improbidades administrativas na conduta dos policiais civis, de acordo com os defensores públicos.
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"Existe no MP um inquérito civil, que visa apurar também irregularidades na condução dessa operação. Como a quebra da cadeia de custódia na apreensão dos explosivos, a situação do suposto socorro do João Pedro. Então existe uma série de condutas, para além da questão criminal penal", finalizou Lozoya.
O Ministério Público Federal (MPF) também está acompanhando o caso e apurando a logística da operação, que foi organizada pela Polícia Federal.