Por Gabriel Sobreira

O Brasil é atualmente o epicentro da covid-19 no mundo, com uma morte a cada minuto. Para piorar nossa preocupante realidade, falta transparência na divulgação dos dados oficiais da doença. Desde quarta-feira, o Ministério da Saúde tem liberado os números de casos e de óbitos do novo coronavírus somente depois das 22h. A decisão teria partido do próprio presidente Jair Bolsonaro, como forma de evitar que os índices fossem veiculados nos telejornais noturnos. Ontem, segundo levantamento do G1, com base nas informações das secretarias estaduais de Saúde, foram registradas 35.033 vítimas fatais, com um total de 643.766 casos.

Segundo o infectologista Alberto Chebabo, a divulgação é um dever do Ministério da Saúde, que deve ser transparente. "O atraso na liberação demonstra desorganização ou é proposital, para reduzir o impacto da divulgação pela imprensa, já que, muito tarde da noite, diversos meios de comunicação não conseguem divulgar os dados nos telejornais ou mesmo na mídia impressa. Atraso é um desserviço à população", apregoa Chebabo, diretor-médico do Hospital Universitário Clementino Fraga Filho.

Opinião semelhante tem a geriatra e psiquiatra Roberta França. Segundo ela, na gestão do ex-ministro Luiz Henrique Mandetta, os boletins saíam na coletiva de imprensa, à tarde. Depois, com o então ministro Nelson Teich, eram divulgados no fim da tarde, início da noite. "A medida mostra mais uma tentativa do governo de mascarar os números reais, confundir a população. Quando você divulga à noite, de madrugada, parece uma tentativa de quanto menos pessoas tiverem acesso, melhor. Afinal, menores são as chances das pessoas se revoltarem, questionarem. Porque antes era feita de uma forma muito mais clara, direta", lembra.

Para a pesquisadora Chrystina Barros, do Centro de Estudos em Gestão de Serviços de Saúde, da UFRJ, a falta das coletivas de imprensa é um ponto crucial. "Nelas, tiravam-se dúvidas, era possível o debate e entender até mesmo a dificuldade de informações. Esse é o ponto que nós mais perdemos na medida que deixou de ter um fórum, com pessoas técnicas e qualificadas, que não só tiravam as dúvidas, como davam encaminhamentos e diretrizes. Perdemos muito da discussão e orientações técnicas, com transparência e clareza", avalia.

O Ministério da Saúde, comandado há 23 dias pelo general Eduardo Pazuello, que só na última quarta-feira foi nomeado ministro interino, não se pronunciou sobre o assunto.

Bolsonaro mandou atrasar divulgação de boletim, diz jornal
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O presidente da República, Jair Bolsonaro (sem partido), mandou atrasar a divulgação do balanço diário de casos confirmados e de mortos por coronavírus para que as informações não chegassem a telejornais noturnos, como o Jornal Nacional, da Globo. As informações são do jornal Correio Braziliense.
Segundo a publicação, o ex-ministro da Saúde Luiz Henrique Mandetta se recusou a atrasar a divulgação dos números, fato este que contribuiu para seu atrito com Bolsonaro. De acordo com o jornal, a ordem definitiva do presidente é para que o balanço só seja divulgado às 22h, depois que os principais telejornais já foram encerrados. Ainda segundo o jornal, a estratégia seria criar uma falsa sensação de segurança na população, para que a economia possa ser integralmente retomada independente do grande aumento de mortes por coronavírus no país.
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A repercussão foi imediata. O ministro Gilmar Mendes, do Supremo Tribunal Federal (STF), usou sua conta oficial no Twitter para criticar a estratégia de atrasar os dados de divulgação dos boletins diários do Ministério da Saúde. 
"Na pandemia, a divulgação de dados oficiais envolve, além do dever de prestar contas, uma questão de saúde pública. Dados do @minsaude são fundamentais às respostas à #COVID19 e devem estar abertos ao público, aos gestores e, portanto, à imprensa de forma consistente e ordenada", escreveu Mendes.
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Em dois dias seguidos, RJ tem mais de 300 mortes por covid-19
A Secretaria de Estado de Saúde informou, nesta quinta-feira, os dados mais recentes do novo coronavírus no Rio de Janeiro. Pelo segundo dia seguido, o estado teve mais de 300 mortes registradas - foram 317 nesta quinta e 324 na quarta.
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É importante lembrar que os casos e óbitos registrados não aconteceram nas últimas 24 horas, essa sim foi a data do registro no sistema.O estado agora tem 6.327 óbitos e 60.932 casos confirmados.de covid-19.
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