Uma ex-funcionária conta que no início sua experiência com a marca foi muito feliz, no entanto, com o passar dos dias começou a vivenciar humilhações que outros empregados da marca sofriam e depois ela passou a sofrer nas mãos da chefe. "Quando viam pelas câmeras que ela estava chegando, todos ficavam nervosos. Eu ficava com as mãos trêmulas", diz.
"No inverno daquele ano tive pneumonia aguda, ela com raiva me colocou dentro de um estoque todo empoeirado, para seu sozinha dobrar todas as roupas, contar as peças e registrar as mesmas. O estoque não tinha ventilação, era abafado. Fiquei com dificuldades para respirar e fraca, quase desmaiei", relembra.
De acordo com a ex-funcionária, ela foi contratada para trabalhar no escritório, entretanto, no período que estava doente foi transferida para o estoque. "Ela sabia que eu não reclamaria, pois necessitava do emprego, pois pagava aluguel e meu pai estava desempregado. Então a situação estava muito difícil. Ela falava que: 'você não presta pra nada', 'não me interessa pra que te contratei, você vai fazer o quê eu mando', 'você não é ninguém'. Algumas vezes jogava a roupa que ela estivesse nas mãos em cima da minha mesa enquanto eu trabalhava, ou em cima de mim enquanto almoçava, ou quando me encontrava no corredor. Cristiane falava: 'dobra isso que estou mandando' , ou, 'dobra isso agora'".
E a ex-funcionária ressalta que o antigo emprego deixou muitos traumas: "Quando fala em reunião, no trabalho, fico trêmula e suando frio, minhas mãos ficam geladas. O mesmo acontece quando os meus patrões chegam, eles são bons pra mim, mas é uma das aflições que carrego".
'Trabalhava no escritório, mas no aviso prévio me colocaram para passar roupa'
Uma outra história ouvida pela reportagem é de uma de jovem negra que diz ter sofrido racismo na empresa. "Eu fui muito humilhada e maltratada. Com certeza, foi o pior lugar que trabalhei. Eu chorava diariamente, emagreci horrores ao ponto da minha mãe pedir para eu sair da empresa, porque meu final de semana era ficar trancada dentro de quarto, mas eu fui levando. Até o dia em que eu estava fazendo o balanço do estoque e ela acusou que eu tinha retirado uma peça", lembra.
"Eu disse que não tinha mexido e ela falou que eu tinha mexido sim. Ao berros, ela mandou eu levantar da cadeira para irmos ao estoque. Quando chegamos lá, as peças estavam exatamente do jeito que deixamos. Chorei muito e fiz minha carta de demissão. Cris, no entanto, pediu para eu cumprir o aviso prévio", afirma a ex-funcionária.
'Comecei a tomar ansiolítico e antidepressivos por causa dos assédios'
Uma ex-colaboradora da Carmel diz, que durante o período em que trabalhou na marca, testemunhou e viveu assédio moral. Como consequência, ela afirma carregar transtornos psicológicos até hoje. "A Cristiane [dona da empresa] é uma pessoa soberba que faz questão de maltratar todos que são subordinados a ela. É uma pessoa que te desrespeita, te xinga e te humilha sem peso na consciência. Aguentei o que aguentei pois precisava do dinheiro. Fui agredida psicologicamente, verbalmente e quase fisicamente na frente de outras pessoas."
"Ela ameaçava me mandar embora todo dia, me xingava e gritava comigo. Uma vez me disse que não sabia porque ainda pagava meu salário. Por conta dessas situações, passei a precisar tomar ansiolítico e antidepressivos", lamenta a ex-funcionária.
A jovem acredita que ter sofrido humilhações por ser pobre também e pelo local em que morava. "Não consigo pensar na ideia de voltar para aquele lugar, só de ouvir a voz daquela mulher eu me sinto mal", conclui.
'Ela atirou o celular na minha direção'
A ex-funcionária classifica a ex-chefe como uma pessoa difícil. "Ao contrário do que acontecia com as meninas, que era recorrente os abusos, comigo foi só uma vez. Ela jogou um celular na minha direção, eu logo pedi para que me demitissem. Na ocasião, cheguei a ir à delegacia, mas lá me disseram que não podiam fazer nada", afirma.
"Desde deste dia, a gente não se falou mais. Não quis mais falar com a Cris, eu cumpri meu aviso e no dia da minha saída, ela veio me dar um abraço e se desculpar pelo que tinha acontecido. Eu disse que estava muito chateada e que abraço eu não queria", finaliza.
O posicionamento da Carmel Rio na íntegra:
Nós, da Carmel, prezamos pelo bem estar de todos os nossos colaboradores, seja na fábrica ou loja, e lamentamos que qualquer pessoa tenha se sentido ofendida por qualquer razão. Negamos os relatos e para reforçar o compromisso com nossos valores, nos colocamos à disposição para ouvir nossos funcionários atuais e ex-funcionários e vamos lançar um novo canal de comunicação, para que isso fique ainda mais claro. Mais do que à disposição, nós queremos ouvir.
Todo marketing estratégico da Carmel hoje, sim, está buscando informações e fazendo um planejamento para trabalhar com consultorias. Entendemos que esse não é nosso lugar de fala e estamos abertos a aprender e levar mais informação sobre o tema, utilizando nosso alcance para algo positivo.
Acreditamos que a cultura do cancelamento não é saudável porque não resolve o problema. Não queremos deixar de estar presentes como marca, construímos um público e acreditamos que podemos de fato sermos mais eficientes com relação a esse tema e a tantos outros importantes.
A cultura do cancelamento não transforma marcas e pessoas em agentes de mudança. Achamos muito mais eficiente aprender com isso e nos tornarmos esse agente, com relação a temas que são importantes diante de tantas questões estruturais que ainda carregamos na sociedade.
Como marca, queremos ser melhores a cada dia para nossos clientes mas, principalmente, para nossos funcionários que fazem tudo isso acontecer. Vamos ouvi-los e aprender juntos.