Por Danillo Pedrosa

Generoso ou contraventor? Carismático ou malandro? Para os banguenses, está mais para herói. Para as autoridades, foi criminoso. Entre milhares de adjetivos, fato é que o polêmico Castor de Andrade é uma das figuras mais emblemáticas da Zona Oeste e do Rio de Janeiro, tanto que foi escolhido para ser enredo da Unidos de Bangu para o carnaval de 2021. 

 Desenvolvido pelo carnavalesco Clécio Régis, o tema 'Deu Castor na cabeça' vai contar na Marquês de Sapucaí a história do folclórico personagem que o bicheiro se tornou, desde a infância no subúrbio aos momentos de glória, seja no samba, como presidente da Mocidade Independente de Padre Miguel, ou no futebol, como dirigente do Bangu Atlético Clube.

"É uma grande honra falar sobre o Castor de Andrade, com certeza a nossa escola fará um belo desfile na Marquês de Sapucaí em 2021. Estamos muito confiantes no trabalho do nosso carnavalesco Clécio, que é uma figura bastante popular e querida por todos no bairro de Bangu. Será um ponto primordial em relação ao nosso enredo" , declarou Thiago Oliveira, presidente da Unidos de Bangu.

O carinho dos moradores, principalmente os contemporâneos de Castor, é muito bem justificado. Grande mecenas do Bangu, foi com a sua ajuda que o clube conquistou o Campeonato Carioca de 1966, o segundo e último do Alvirrubro, e chegou à final do Campeonato Brasileiro de 1985 - derrota nos pênaltis para o Coritiba após empate em 1 a 1. Já como presidente de honra da Mocidade, sua escola do coração, foi cinco vezes campeão do carnaval carioca.

O jogo do bicho

A grande contradição em toda a idolatria por Castor de Andrade é que, além de grande mecenas da região, ele era dono de boa parte dos pontos de jogo do bicho do Rio de Janeiro, negócio que herdou da família de sua mãe, Carmen, depois de se formar pela Faculdade Nacional de Direito. A contravenção rendeu ao bicheiro algumas prisões e muito dinheiro, mas também um leque gigantesco de boas histórias para a região. Herói ou vilão, Castor tornou-se uma lenda.

Um sonho realizado
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Morador de Bangu há mais de 40 anos, o carnavalesco Clécio Reis será o responsável por contar na avenida a história de Castor de Andrade. Como cria da Zona Oeste, a sensação de desenvolver o desfile de uma escola do seu bairro será especial, ainda mais com um enredo tão relacionado com a região.
"Este será um carnaval diferente com uma linha estética fugindo totalmente dos padrões tradicionais, logicamente inspirada em carnavalescos que admiro muito. É a realização de um sonho antigo que está se tornando realidade no meu bairro tão querido de Bangu. Estamos vindo para fazer história", contou o carnavalesco Clécio Régis.
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A vida de Castor em livro não publicado
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Referência quando o assunto é Bangu, o historiador Calos Molinari, apaixonado pelo clube, aceitou contar ao DIA um pouco da vida de Castor de Andrade, o "último patrono do Bangu Atlético Clube". E apesar das polêmicas, Carlos não esconde a admiração pela figura do bicheiro.
"O bairro sente falta dele, é óbvio. E sempre que vemos times ruins em campo - como este de 2020 -, a torcida diz assim: "Com Castor isso não aconteceria", explica o historiador, que, em texto de um livro que nunca foi publicado, escreveu resumidamente sobre a vida de Castor. 
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"Nascido em 12 de fevereiro de 1926, formado pela Faculdade Nacional de Direito, filho de um pecuarista - Euzébio de Andrade - e de Dona Carmen, cuja família controlava boa parte do jogo do bicho no subúrbio. Entre herdar o gosto pelo gado ou pelos 25 bichos que compõem o lucrativo sistema de apostas, Castor resolveu seguir os 'negócios' da avó e das tias maternas. Tornou-se o maior e mais conhecido bicheiro do país", relata Molinari.
Mas, ao invés de ocupar páginas policiais dos jornais, Castor se destacava mesmo era nas páginas esportivas. Torcedor do Bangu, a relação com o clube ficou ainda mais estreita quando, em 1963, seu pai assumiu a presidência do clube. Dali em diante, foi um dos pilares da geração mais vitoriosa do clube. Também apaixonado por carnaval, foi presidente de honra da Mocidade nas décadas de 80 e 90. Além disso, era um homem de negócios que ia muito além dos pontos de jogo do bicho. "Era dono de uma metalúrgica, uma corretora de seguros, uma agência de automóveis, uma copiadora, um restaurante, um posto de gasolina, e duas empresas de pesca".
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Adorado no bairro, Castor também era 'mão aberta', mas sabia ser linha dura quando necessário. Foi preso durante a Ditadura Militar e em outras duas vezes, já na década de 90. Faleceu na prisão, em 11 de abril de 1997, vítima de um ataque cardíaco.
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Um ídolo para o bairro
Mesmo sem calçar chuteiras, Castor de Andrade pode ser considerado um dos maiores ídolos da história do Bangu. Sua importância na história do time é tão grande que o mascote do clube é um castor, inspirado justamente na figura do bicheiro.
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Na arquibancada, todo torcedor do clube lembra com carinho a imagem de Castor, mesmo aqueles que conhecem apenas as histórias. Uma das torcidas organizadas mais importantes do clube na atualidade, a Castores da Guilherme também faz clara referência ao ex-patrono do clube e à praça Guilherme da Silveira, que fica ao lado do Moça Bonita (Estádio Proletário Guilherme da Silveira). 
Nas arquibancadas, bandeirões com a imagem Castor de Andrade são comuns não apenas em estádios de futebol, mas também na Sapucaí, mais especificamente na torcida da Mocidade. Detalhes que comprovam que a relevância desse polêmico personagem vai muito além da contravenção.
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