"Sou frequentador do Vaca Atolada há muito tempo e soube que o proprietário, Cláudio Cruz, sempre muito próximo de todos os seus clientes, estava passando por grande dificuldades e teria decidido que, mesmo acumulando a dívida que fosse, não mandaria ninguém embora e manteria as portas fechadas em prol da segurança e saúde da população carioca. Nesse cenário, tive a ideia de colocar uma vaquinha no ar para ajudar a manter o bar aberto quando tudo isso passar", conta Alain.
A campanha 'Ajude o Vaca Atolada a sair do atoleiro' tem como meta arrecadar R$ 60 mil. As doações podem ser feitas no link: https://www.vakinha.com.br/vaquinha/ajude-o-vaca-atolada-a-sair-do-atoleiro.
Cláudio Cruz diz que ficou surpreso e feliz com a iniciativa. O dinheiro, segundo o dono do bar, será destinado a pagar parte das dívidas acumuladas nestes quase quatro meses de atividades suspensas. A última roda de samba do Vaca Atolada foi no dia 13 de março.
"No primeiro mês, eu paguei sozinho o salário dos funcionários, já o segundo e terceiro, consegui colocar os trabalhadores no sistema do governo. Mas, eu tô devendo muito. As contas de água e luz não têm leitura, o valor é baseado na média. No entanto, ano passado o Vaca estava funcionando e hoje está fechado. As contas continuam vindo na média de R$ 5 mil", afirma Cláudio.
De acordo com o proprietário, as dívidas estão na casa dos R$ 70 mil. "Já peguei dinheiro emprestado com o banco e com os amigos. Consegui negociar um desconto no aluguel em 40%, mas ainda assim o valor é salgado e difícil de pagar para quem está sem receita", destaca. "Qualquer quantia que entrar da vaquinha será válida, o que entrar já vai aliviar", completa Cruz.
'Não dá para reabrir com esses recordes de mortes'
Cláudio não esconde o desejo de voltar com a rotina das tradicionais rodas de samba do Vaca Atolada, entretanto, ressalta que sua maior preocupação neste momento é com a segurança dos clientes. "Tenho acompanhado as medidas de flexibilização, mas eu não vou reabrir agora. Eu não sou maluco e não vou carregar esse peso espiritual", comenta.
"A gente vai conviver com isso [coronavírus] por muito tempo e eu tenho consciência disso, mas não dá para reabrir com esses recordes de mortes. Já imaginou quantas pessoas, você conhece e não vai ver mais? Eu bebi com pessoas na concentração da Portela e hoje quatro dessas não está mais aqui. Não quero contribuir com essa estatística", desabafa o também diretor da escola de samba de Oswaldo Cruz.
Segundo Cláudio, ele já avalia estratégias para a volta em um momento mais seguro, com adaptações para público, funcionários e músicos, além de medidas de proteção.
Um lugar de histórias
O proprietário do bar diz que tem se emocionado com reportagens sobre o fim de estabelecimentos tradicionais durante a pandemia. Após quase 11 anos, Cláudio viu pessoas que se conheceram no Vaca Atolada, se apaixonaram e casaram. Ele também comemorou aniversários e promoções no trabalho de clientes, presenciou despedidas, e também chegadas. "Os lugares têm histórias e lá no Vaca não é uma ou são duas histórias, são muitas e eu não quero que isso se perca."
"Os bares do Rio representam um traço notável de nossa cultura e não podemos deixá-los morrer. Significam muito mais do que um CNPJ, mas uma paixão do povo carioca por sua própria cultura", faz coro Alain, responsável pela vaquinha online.
O Vaca Atolada
Inaugurado em 23 de setembro de 2009, na Rua Gomes Freire, Lapa, o Botequim Vaca Atolada é uma extensão do tradicional bloco Embaixadores da Folia, também fundado por Cláudio Cruz. O bar foi batizado com o nome do prato que era servido nas rodas de samba do bloco no pré-Carnaval, na Rua do Lavradio. O local não cobra ingressos e oferece ainda para os clientes o melhor samba raiz do Rio.