Botequim Vaca Atolada  - Reprodução
Botequim Vaca Atolada Reprodução
Por LUANA BENEDITO
Rio - Há 10 anos o Botequim Vaca Atolada é o reduto dos amantes do samba, cerveja gelada e, é claro, aglomeração no Rio de Janeiro. No entanto, em março deste ano, o espaço precisou interromper as atividades por causa da pandemia do novo coronavírus. Para minimizar os efeitos da crise no bar, Alain Soares, frequentador do local, também conhecido como a "embaixada carioca", criou uma campanha online para garantir recursos para a manutenção do estabelecimento na Lapa, no Centro do Rio.

"Sou frequentador do Vaca Atolada há muito tempo e soube que o proprietário, Cláudio Cruz, sempre muito próximo de todos os seus clientes, estava passando por grande dificuldades e teria decidido que, mesmo acumulando a dívida que fosse, não mandaria ninguém embora e manteria as portas fechadas em prol da segurança e saúde da população carioca. Nesse cenário, tive a ideia de colocar uma vaquinha no ar para ajudar a manter o bar aberto quando tudo isso passar", conta Alain.

A campanha 'Ajude o Vaca Atolada a sair do atoleiro' tem como meta arrecadar R$ 60 mil. As doações podem ser feitas no link: https://www.vakinha.com.br/vaquinha/ajude-o-vaca-atolada-a-sair-do-atoleiro.

Cláudio Cruz diz que ficou surpreso e feliz com a iniciativa. O dinheiro, segundo o dono do bar, será destinado a pagar parte das dívidas acumuladas nestes quase quatro meses de atividades suspensas. A última roda de samba do Vaca Atolada foi no dia 13 de março.

"No primeiro mês, eu paguei sozinho o salário dos funcionários, já o segundo e terceiro, consegui colocar os trabalhadores no sistema do governo. Mas, eu tô devendo muito. As contas de água e luz não têm leitura, o valor é baseado na média. No entanto, ano passado o Vaca estava funcionando e hoje está fechado. As contas continuam vindo na média de R$ 5 mil", afirma Cláudio.

De acordo com o proprietário, as dívidas estão na casa dos R$ 70 mil. "Já peguei dinheiro emprestado com o banco e com os amigos. Consegui negociar um desconto no aluguel em 40%, mas ainda assim o valor é salgado e difícil de pagar para quem está sem receita", destaca. "Qualquer quantia que entrar da vaquinha será válida, o que entrar já vai aliviar", completa Cruz.
Botequim Vaca Atolada - Reprodução

'Não dá para reabrir com esses recordes de mortes'

Cláudio não esconde o desejo de voltar com a rotina das tradicionais rodas de samba do Vaca Atolada, entretanto, ressalta que sua maior preocupação neste momento é com a segurança dos clientes. "Tenho acompanhado as medidas de flexibilização, mas eu não vou reabrir agora. Eu não sou maluco e não vou carregar esse peso espiritual", comenta.

"A gente vai conviver com isso [coronavírus] por muito tempo e eu tenho consciência disso, mas não dá para reabrir com esses recordes de mortes. Já imaginou quantas pessoas, você conhece e não vai ver mais? Eu bebi com pessoas na concentração da Portela e hoje quatro dessas não está mais aqui. Não quero contribuir com essa estatística", desabafa o também diretor da escola de samba de Oswaldo Cruz.

Segundo Cláudio, ele já avalia estratégias para a volta em um momento mais seguro, com adaptações para público, funcionários e músicos, além de medidas de proteção. 

Um lugar de histórias

O proprietário do bar diz que tem se emocionado com reportagens sobre o fim de estabelecimentos tradicionais durante a pandemia. Após quase 11 anos, Cláudio viu pessoas que se conheceram no Vaca Atolada, se apaixonaram e casaram. Ele também comemorou aniversários e promoções no trabalho de clientes, presenciou despedidas, e também chegadas. "Os lugares têm histórias e lá no Vaca não é uma ou são duas histórias, são muitas e eu não quero que isso se perca."

"Os bares do Rio representam um traço notável de nossa cultura e não podemos deixá-los morrer. Significam muito mais do que um CNPJ, mas uma paixão do povo carioca por sua própria cultura", faz coro Alain, responsável pela vaquinha online.

O Vaca Atolada

Inaugurado em 23 de setembro de 2009, na Rua Gomes Freire, Lapa, o Botequim Vaca Atolada é uma extensão do tradicional bloco Embaixadores da Folia, também fundado por Cláudio Cruz. O bar foi batizado com o nome do prato que era servido nas rodas de samba do bloco no pré-Carnaval, na Rua do Lavradio. O local não cobra ingressos e oferece ainda para os clientes o melhor samba raiz do Rio.