Cresce o número de torcedores que se envolvem com questões políticas não só dentro, como fora das quatro linhas de campo dos seus respectivos clubes, abrangendo assuntos da cidade, do estado e do país. Em São Paulo, times como Corinthians, São Paulo, Palmeiras e Santos deixaram a rivalidade de lado em prol da democracia em um protesto realizado no fim de maio. Aqui no Rio não é diferente.
O DIA conversou com quatro membros desses movimentos (Flamengo Antifascista, Vascomunistas, Tricolores de Esquerda e Botafogo Antifascista), que optaram por terem seus nomes preservados. "O torcedor vale o quanto tem no bolso. Se não pode pagar, fica de fora. Seja das arquibancadas ou, agora, das transmissões televisivas. Por isso, parabenizamos quem ousa defender o Flamengo popular", destaca o grupo flamenguista.
O recente episódio dos muros pichados da Gávea, no último sábado, com escritos como 'O Flamengo é do Povo' é defendido com veemência pelo coletivo Flamengo Antifascista. Formado em meados de 2013, o grupo acredita que o protesto de sábado seja fruto da politização proposta pelo movimento, que entende que tudo é política.
"Somos um movimento de rubro-negras e rubro-negros apaixonados, a fim de pautar e politizar os debates em torno do clube, da arquibancada e da sociedade de maneira geral. Composto majoritariamente por jovens periféricos e de classes abastadas da nossa população, nosso papel é defender as nossas tradições e diretrizes antifascistas, a liberação da festa nas arquibancadas, além da defesa irrestrita das torcidas organizadas", explica.
Quando questionado se existe financiamento no grupo, o integrante confirma, mas afirma que prefere evitar falar sobre. "Estamos discutindo o lançamento de uma plataforma de financiamento coletivo", detalha.
Formado em 2014, o Vascomunistas tem como papel o resgate de lutas como inclusão e igualdade social e racial no clube cruzmaltino. E se posicionam sobre questões políticas. "A direita conseguiu avançar muito desde 2013. Consolidou-se a partir da eleição de Jair Bolsonaro em 2018. As redes sociais são um espaço importante de disputa ideológica e a gente politiza muito as postagens", explica o integrante do Vascomunistas, que tem mais de 35 mil seguidores só no Facebook. "Não há financiamento. Nos organizamos com o dinheiro do próprio bolso", acrescenta.
"Não somos uma torcida organizada, somos um coletivo de torcedores progressistas", reforça o membro do Tricolores da Esquerda, formado em 2014. "Lutamos pelo futebol popular, como manifestação cultural do povo. Somos a favor das questões sociais, contra discriminações, machismo, misoginia, homofobia. Defendemos também a cultura do torcer. Hoje em dia, o futebol ficou muito elitizado, pasteurizado", critica o tricolor carioca.
Um membro dos grupos Botafogo Antifascista, Democracia Botafoguense e Torcedores pela Democracia diz que o papel é servir de integração entre torcedores que se identificam com as lutas defendidas pelos grupos. "A favor da democracia e contra a política defendida pelo atual governo", critica o botafoguense, que pediu anonimato. "As ações variam entre manifestações de rua e virtuais, através de produção de conteúdos e interação nas mídias sociais", detalha. "Não há financiamento. Sequer vaquinha, fazemos", completa.