Favela da Maré - Cléber Mendes
Favela da MaréCléber Mendes
Por Luísa Bertola*
Rio - As comunidades do Rio de Janeiro em conjunto com a organização Comunidades Catalisadoras (ComCat) lançaram, nesta quinta-feira, o "Painel unificador covid-19 nas favelas", feito com dados de 25 regiões. O levantamento, realizado com diversas organizações independentes, parceiras internacionais e instituições, aponta que os números oficiais da prefeitura da cidade são inferiores ao real. Eles mostram que, atualmente, são 4.057 casos confirmados nas comunidades e 639 óbitos. 
Um exemplo é o Complexo do Alemão, que de acordo com os dados da prefeitura são 12 casos confirmados e cinco óbitos, enquanto o painel das comunidades registra 108 casos confirmados e 37 óbitos.
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Já no caso do Complexo da Maré, oficialmente, há 382 confirmados e 83 óbitos, bem menor que os 1.088 casos e 110 mortes do painel das favelas.
A diretora executiva da ComCat, Theresa Williamson, disse que o projeto vem sendo feito há mais de dois meses com ajuda de parcerias internacionais e tem como principal objetivo unificar os dados levantados por diversas organizações, além de melhorar o mapa da prefeitura, já que o órgão informa os dados na maioria dos casos pelos bairros.
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"Há a necessidade de mobilizar e informar os dados que o poder público não disponibiliza, então, a gente está tendo o esforço porque sentiu a necessidade de suprir isso". Theresa ainda relembrou que as comunidades são as áreas mais vulneráveis para o vírus e que "o poder público precisa focar nessas áreas". 
Em entrevista ao DIA, ela afirmou que no mapa são registradas 25 favelas, mas algumas foram contabilizadas como complexos, como é o caso da Maré — que engloba 16 comunidades, do Lins, do Jacaré, entre outros. Isso representa mais de 100 favelas das mil registradas pela prefeitura. 
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"Até agora, são 25 complexos ou favelas inclusos no mapa. Se fosse contar só favelas, seriam em torno de 120 comunidades. Ou seja, 10% das favelas estão contempladas no painel. Vale ressaltar que o painel possui desde favelas com 30 habitantes até favelas com mais de 100 mil moradores", afirmou a diretora.
Alguns dados são de registros da prefeitura, como o caso de Vigário Geral e outros são de organizações que participam ativamente ao combate a doença nas regiões, como o Redes da Maré, no Complexo da Maré, Favela Vertical, na Gardênia Azul, SOS Providência, na Providência, entre outros.
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Como funciona o mapa
A ComCat se baseou nas recomendações da Organização Mundial de Saúde (OMS), que pede que em países com baixa disponibilidade de testes para a população sejam contabilizados também os dados de casos suspeitos.  
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A diretora executiva explicou que o projeto funciona com os casos sintomáticos (em amarelo), que são feitos pela autodeclaração de moradores por um questionário, que já circula nas comunidades desde segunda-feira.
Além disso, no site, os moradores também podem preencher o formulário e relatarem os sintomas que apresentam e o algoritmo mostra se representa baixo, médio ou alto risco da covid-19. Os casos de baixo risco não são contabilizados pelo sistema, já os casos de médio e alto risco entram na conta. 
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Os casos confirmados (em laranjas) e os óbitos (em vermelho) são registros confirmados por instituições e passaram pelo processo interno de confiabilidade e verificação.
De acordo com Theresa, um dos objetivos do painel é apoiar os esforços de prevenção realizados por movimentos comunitários, para informarem seus vizinhos e pressionarem por políticas públicas necessárias,
além de fornecer uma visão mais precisa do impacto da pandemia nas favelas. 
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Em nota, a Secretaria Municipal de Saúde (SMS) informou que está  atenta e atuante na investigação de casos em comunidades. "Em parceria com o Ibope, a SMS está realizando o primeiro estudo sobre a covid-19 em comunidades do Rio, iniciativa que está na segunda fase de investigação epidemiológica. Os resultados permitirão a ampliação do planejamento de ações para controle, prevenção e diminuição do impacto da doença nas comunidades cariocas", disse a pasta. 
"É preciso que fique muito claro a diferença fundamental entre os métodos utilizados para levantar as informações sobre casos de Covid-19 em comunidades. A Prefeitura do Rio utiliza um sistema de informação oficial, baseado nos casos confirmados por exame feito em laboratório. Este padrão é nacional e tem um critério científico e objetivo", completou a SMS. 
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Segundo a pasta, a Prefeitura - como órgão público responsável por mapear a pandemia e implantar políticas públicas para combatê-la - não pode e não deve trabalhar com métodos como inquérito verbal/autodeclaração, que levam em consideração a informação de sinais e sintomas, o que resulta no levantamento de casos prováveis de infecção - e não de casos confirmados.
*Estagiária sob supervisão de Adriano Araujo