Prédio centenário também abriga fotos e documentos históricos. Objetos revelam o contexto histórico marcado por episódios, como a Revolta da Vacina, e personagens emblemáticos como Oswaldo Cruz e Carlos Chagas - Reprodução
Prédio centenário também abriga fotos e documentos históricos. Objetos revelam o contexto histórico marcado por episódios, como a Revolta da Vacina, e personagens emblemáticos como Oswaldo Cruz e Carlos ChagasReprodução
Por Julia Noia*

Rio - Medidas de isolamento social adotadas nos estados brasileiros foram essenciais para frear o avanço da covid-19, mas não foram suficientes para garantir o controle da doença. É o que aponta estudo da Rede CoVida, realizada por pesquisadores da Fiocruz. Em 15 de julho, apenas sete das 27 federações tinham a taxa de transmissão abaixo de 1, valor máximo recomendado para atestar o controle da doença, segundo dados do Painel Rede CoVida, desenvolvido pela equipe. Em sete estados, a doença está em expansão. 

O grupo de estudo avaliou 547 decretos de governos estaduais para o combate da covid-19 aprovados entre o começo da pandemia e 22 de maio. A adesão às medidas de isolamento social foi acompanhada a partir de dados de geolocalização de 60 milhões de smartphones, dados disponibilizados pela startup Inloco. A matemática e líder do estudo, Juliane Fonseca, explica que houve uma forte queda de movimentação no primeiro mês das medidas de isolamento, mas começou a cair entre meados de abril e início de maio.

A pesquisadora atribui essa queda rápida a vários fatores, como o desincentivo do governo federal, a falta de educação da população para entender e respeitar etapas de flexibilização e estratégia governamental mal elaborada. "Não é só implementar as medidas, e sim ter o controle para saber onde as pessoas estão se infectando. O objetivo é diminuir a força do contágio, mas tem que ter uma estratégia adequada de isolamento de pessoas contaminadas. Com o tempo, a adesão vai diminuir porque não tem condição de continuar", afirma. 

A partir da análise dos decretos estaduais, os pesquisadores criaram um modelo que utiliza seis variáveis para avaliar a eficácia das medidas adotadas em cada estado - cancelamento de eventos públicos, fechamento de universidades e escolas, home office para servidores públicos, isolamento social, fechamento de serviços não essenciais e espaços públicos, e bloqueio de transportes rodoviários e fluviais. A pesquisadora aponta a maioria dos estados tiveram pontuações baixas no que tange ao lockdown e ao controle de transporte, muito eficazes na contenção do vírus, mas economicamente inviáveis em muitos casos. 

A partir desses critérios, a pesquisa avaliou que o Rio de Janeiro está na 13ª colocação dentre os 26 estados e o Distrito Federal. Juliane avalia que Rio e São Paulo ajudaram a catalisar a transmissão da doença em nível federal devido à tomada tardia de medidas e à grande circulação de pessoas.

"A implementação impactou a população, e conseguimos perceber uma queda na taxa de transmissão como um todo. Ainda assim, não é o suficiente. O estado nunca passou de 60% em isolamento em nenhum momento. Um dos epicentros do país teve medidas fracas e tardias para ter o controle, e vemos a disseminação da doença correndo", alerta, preocupada.

"Pode ser catastrófico abrir as atividades agora sem dados eficientes", destaca Juliana. Segundo ela, ainda não é o momento de abrir porque deve ser observada a ocupação hospitalar e a taxa de testagem, principalmente na população vulnerável, e ressalta a importância dos dados para ter um mapeamento real.

"Pesquisadores brasileiros têm dificuldade de dimensionar a doença por falta de dados para avaliar de vale afrouxar. Não basta apenas ter número de casos", anuncia. A matemática relembra que a reabertura também aumenta a suscetibilidade para outras síndromes respiratórias aguda graves. 

*Estagiária sob supervisão de Bete Nogueira

 

Américas: perigo de surtos recorrentes
Publicidade
A Organização Pan-Americana de Saúde (OPAS) tem alertado que, caso não haja vacina ou medicamento eficaz contra a covid-19, as Américas vão lidar com surtos recorrentes da doença nos próximos dois anos. A organização recomenda que os países-membros pensem em medidas que coordenem bem-estar social, saúde e economia. No Brasil, a realidade é ainda muito distante.
"Infelizmente hoje no Brasil, temos uma dificuldade de liderança maior que não consegue conciliar uma relação harmoniosa entre as pastas da Economia e da Saúde, por exemplo. Então, fica difícil termos uma perspectiva de curto prazo em que haja propostas técnicas nas duas áreas, que são fundamentais para que a gente tenha condição de estrutura básica para bem-estar social e de saúde", lamenta Chrystina Barros, especialista em Gestão de Saúde. Como são medidas a longo prazo, ela acredita que, diante do cenário atual do país, seja inviável uma resposta rápida à demanda da OPAS.
Publicidade
A especialista diz que medidas de distanciamento físico, lavagem das mãos, uso de máscaras e limpeza de superfícies serão rotinas até que haja vacina ou remédio. Outra convivência comum será com a chegada de novos surtos da covid-19, o que possivelmente vai sobrecarregar o sistema de saúde. "A população tem que se conscientizar de que o vírus vai continuar circulando e sempre será uma ameaça à saúde, podendo ser grave em qualquer pessoa, principalmente nos idosos ou aqueles com alguma doença crônica", avisa Chrystina.
Você pode gostar
Comentários