'O poder público abandonou a Lapa', diz dono do Baródromo
Segundo SindRio, com a queda do turismo e o esvaziamento da circulação das pessoas, região tende a sentir de forma mais intensa o impacto da pandemia
Por Gabriel Sobreira
Mais de três mil bares e restaurantes do Rio terão fechado as portas até o fim do ano. A estimativa é do Sindicato dos Bares e Restaurantes do Município do Rio de Janeiro (SindRio). Segundo a entidade, 10% dos cerca de 10 mil estabelecimentos do setor na cidade já foram fechados. Na Lapa, antigo reduto boêmio carioca, o Baródromo se juntou à estimativa ao anunciar que não reabrirá depois de três anos de funcionamento. Tal episódio incrementa uma outra lista, a de estabelecimentos que ajudaram a fama do bairro como Asa Branca e Enchendo Linguiça, entre outros, que se tornaram história.
Galeria de Fotos
Bairro da Lapa completamente vazio na noite de quinta feira
Ricardo Cassiano/Agencia O Dia
Bairro da Lapa completamente vazio na noite de quinta feira
Ricardo Cassiano/Agencia O Dia
Bairro da Lapa completamente vazio na noite de quinta feira
Ricardo Cassiano/Agencia O Dia
Bairro da Lapa completamente vazio na noite de quinta feira
Ricardo Cassiano/Agencia O Dia
Bairro da Lapa completamente vazio na noite de quinta feira
Ricardo Cassiano/Agencia O Dia
Rio, 16/07/2020 - CORONAVIRUSRIO - Bairro da Lapa completamente vazio na noite de quinta feria, bares e ruas vaizias. Esquina das rua do Lavradio com Av. Mem de Sa. Centro do Rio. Foto: Ricardo Cassiano/Agencia O Dia
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Bairro da Lapa completamente vazio na noite de quinta feira
Ricardo Cassiano/Agência O Dia
Dono do Baródromo, Felipe Trotta acusa: Rua do Lavradio sem iluminação e bueiros entupidos
Ricardo Cassiano/Agencia O Dia
Rio, 16/07/2020 - CORONAVIRUSRIO - Bairro da Lapa completamente vazio na noite de quinta feria, bares e ruas vaizias. Esquina das rua do Lavradio com Av. Mem de Sa. Centro do Rio. Foto: Ricardo Cassiano/Agencia O Dia
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Bairro da Lapa completamente vazio na noite de quinta feira
Ricardo Cassiano/Agencia O Dia
Bairro da Lapa completamente vazio na noite de quinta feira
Ricardo Cassiano/Agencia O Dia
Carlos Maia posa ao lado da cantora Roberta Espinosa em show no Baródromo, na Lapa
Acervo Pessoal
Gravação do clipe 'Honrando a Raiz', do grupo Arruda, no Baródromo, na Lapa
Reprodução
Visão do salão e palco do Baródromo, na Lapa
Reprodução
Último evento realizado no Baródromo, na Lapa: Feijoada em comemoração ao título da Viradouro, no dia 14 de março de 2020
Reprodução
Apresentação da banda Um Amô no Baródromo, na Lapa
Reprodução
Roda de samba com o grupo Arruda no Baródromo, na Lapa
Reprodução
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"A Lapa é um bairro que vive intensamente do turismo. Com a queda desta atividade e o esvaziamento da circulação das pessoas, ela tende a sentir de forma mais intensa os impactos da pandemia. Os governos locais deveriam fomentar políticas de incentivo a estas regiões", afirma André Valle, gerente-executivo do SindRio, que vai além. "O fechamento do Baródromo é uma perda para a gastronomia e para o samba. Felizmente, outros bares e restaurantes, apesar de toda a dificuldade, pretendem manter as portas abertas assim que a situação voltar a melhorar. O bairro concentra importantes empresários do setor de bares e restaurantes que há anos fazem muito pelo Rio de Janeiro, como Plínio Fróes e Thiago Alvim. Eles precisarão ser capazes de resistir e manter a cultura viva. Mas o cenário é desafiador", destaca Valle.
Morador de Realengo, o ator Carlos Maia, 38 anos, foi um dos que foram pegos de surpresa com o fechamento do Baródromo. "Por ser um lugar de samba, com um preço até acessível, boa música, vi gente boa se apresentando ali, Roberta Espinhosa; era um lugar de referência, toda aquela ambientação do Carnaval, a reverência às escolas de samba. Locais assim não podem fechar. Vai fazer falta, vai deixar saudade porque ficará um buraco e já estamos vendo há um tempo o fechamentos de tantos locais importantes”, lamenta ele, que comemorou o último aniversário no local.
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Para o empresário Felipe Trotta, nome à frente do Baródromo, o espaço não é um apenas um bar, mas uma casa de eventos que funcionava bem cheia. “Os cenários que apareciam no futuro cada vez mostravam que a gente ia demorar muito a retornar”, pontua. Tanto que mesmo com autorização para retomar as atividades desde o último dia 2, o estabelecimento nem reabriu. Neste inteirem, foram negociados novos valores de aluguel (R$ 20 mim), já prevendo uma queda no faturamento. “Foi um entrave grande. Ela (proprietária) não aceitou abaixar o valor e eu falei que a gente teria muita dificuldade”, desabafa.
Trotta afirma que os empresários que trabalham na Lapa lutam muito pelo bairro. “A Lapa não está caída por falta de atrativos ou por conta de má gestão das casas. O poder publico abandonou a Lapa. Para se ter uma noção, a Rua do Lavradio sequer tem um bueiro limpo. Uma chuvinha um pouquinho mais forte já alaga a rua. Não tem iluminação. A Lavradio muitas vezes ficava um escura, um breu total. Era iluminação do Baródromo e luz não tinha na rua. Isso tudo ia causando insegurança nas pessoas”, lembra o comerciante.
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Procurada, a Subsecretaria de Conservação informa que mantém as ruas da região da Lapa sob manutenção constante quanto ao serviço de desobstrução de bueiros. Porém, com a chuva que caiu no início dessa semana, uma equipe irá à rua do Lavradio e vias do entorno até a próxima segunda-feira, para vistoriar se a água levou detritos e terra para dentro dos ralos. Assim, caso sejam verificados bueiros obstruídos, o serviço de desobstrução será programado para a próxima semana.
A Comlurb é responsável pela limpeza de caixas de ralo, que faz parte da rotina do gari de varrição, que esvazia as papeleiras, varre as calçadas e sarjetas e verifica se as caixas de ralos estão com detritos. Caso estejam sujas, o gari tira as grelhas e remove os resíduos. O serviço é intensificado durante o período de chuvas.
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Já a Rioluz informa que, em vistoria realizada na noite de quinta-feira (17), não identificou pontos de iluminação pública apagados na Rua do Lavradio. Informa também que mantém rotina regular de manutenção corretiva e preventiva em todo seu equipamento. As equipes da Companhia normalizam pontos identificados por vistorias ou solicitações recebidas pela Central 1746.
FUTURO DO BARÓDROMO?
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Por enquanto, o Baródromo não tem previsão de voltar a funcionar, nem mesmo em outro espaço. Mas Trotta não esconde qual bairro poderia receber o eventual retorno do estabelecimento. “Se eu fosse responder agora de bate-pronto para você, um bairro que eu apostaria, não só feeling comercial/ empresarial, mas um sentimento pessoal e um pouco da experiência vivida pelo Baródromo, seria a Tijuca. Se eu conseguisse um espaço, se eu conseguisse levar o Baródromo, a Tijuca seria o meu bairro preferido”, indica o dono do estabelecimento. “Há um ano fiz uma pesquisa com frequentadores, contratei uma empresa, e dentre as perguntas, uma delas era onde morava. 60% do público que frequentava a casa naquele período era da Zona Norte, muito voltado para a Grande Tijuca”, acrescenta.
Fechando a conta
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O Hipódromo Up, bar e restaurante há 75 anos funcionando no Baixo Gávea, é outro estabelecimento que anunciou recentemente que não abrirá mais as portas. Ele se junta à lista cada vez crescente com nomes como Aconchego do Leblon, quiosque do Leme e Kalango (Praça da Bandeira), todos da chef Kátia Barbosa. Tem também Espírito Santa, em Santa Teresa; Yeasteria, em Vila Isabel; Puro, no Jardim Botânico; Zuka, no Leblon; e Bráz Pizzaria, na Barra, entre outros.
Cerca de 4 mil fecharam no estado, diz Abrasel-RJ
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De acordo com a Associação Brasileira de Bares e Restaurantes no Rio de Janeiro (Abrasel-RJ), ¼ das empresas já fechou no estado do Rio. “Estamos falando de 15 mil estabelecimentos no estado do Rio, sendo que pouco menos de quatro mil já fecharam as portas”, destaca Pedro Hermeto, presidente da Abrasel-RJ.
“A informação que temos é que um milhão, quase um milhão e meio de postos de trabalho foram perdidos em âmbito nacional. Se a gente transpõe isso para o município do Rio, onde são 110 mil empregos diretos gerados, se considerarmos, que mais ou menos ¼ dos estabelecimentos já fechou, a gente tira ¼, vai dar mais de 30 mil empregos já perdidos no município do rio. É realmente muita coisa”, frisa Hermeto. Segundo a entidade, a expectativa daqui para frente é pessimista, uma vez que o público ainda não readquiriu a confiança para voltar a frequentar os estabelecimentos no mesmo volume antes da pandemia. E, segundo, porque bares e restaurantes precisam que o público recupere o poder aquisitivo que foi deteriorado com a crise que afetou diversos setores da economia. “A combinação desses dois fatos acaba gerando essa lentidão na recuperação no setor de bar e restaurante como um todo, e isso faz com que a operação provavelmente se dará no prejuízo pros próximos seis meses. A expectativa é de que 1/3 dos estabelecimentos até o final do ano fechem: 33%. A gente está falando na casa de um 5 mil no estado do Rio”, detalha ele.
Quando o assunto é linha de crédito, o presidente da Abrasel-RJ é categórico. “As linhas de crédito não têm chegado na ponta final. Isso acontece porque os bancos comerciais, que são agentes repassadores dos recursos anunciados pelo governo federal, estabelecem uma série de exigências administrativas e burocráticas, que são impossíveis de ser cumpridas pelos empresários no setor nesse momento. O Programa Nacional de Apoio às Microempresas e Empresas de Pequeno Porte (Pronampe) foi a última linha de crédito anunciada e os recursos se esgotaram em pouquíssimos dias. Foram insuficientes. Estamos lutando para que haja um incremento desses recursos liberados pelo sistema do Pronampe. É uma briga da Abrasel nacional”, diz Hermeto.