Antes da cirurgia bariátrica, em 2018, Carla, de Bangu, pesava 147 kg - ARQUIVO PESSOAL
Antes da cirurgia bariátrica, em 2018, Carla, de Bangu, pesava 147 kgARQUIVO PESSOAL
Por O Dia

Há dois anos, Ingrid Batista, de Realengo, sofreu bullying no trabalho por conta do peso e acabou perdendo o emprego. Com 115 quilos e 1,67 m de altura, não foi a primeira situação constrangedora na vida da cuidadora de idosos, de 29 anos, que mora com a filha Isabella, de 6. "Foi horrível. Minha depressão agravou, eu não queria fazer nada, nem sair de casa. Graças à minha família e aos medicamentos consegui controlar a síndrome do pânico e a ansiedade", relata.

Foi o gatilho para que ela decidisse se submeter à gastroplastia, mais conhecida como cirurgia bariátrica. A data da intervenção tinha sido marcada para março, mas precisou ser adiada devido à pandemia. Mas nesta quarta, depois de quatro meses de espera - e muita ansiedade! - Ingrid finalmente se submeteu à intervenção, dentro do Programa Estadual de Cirurgia Bariátrica, que funciona no Hospital Estadual Carlos Chagas (HECC), em Marechal Hermes, Zona Norte do Rio.

Com a retomada das atividades na unidade, coordenadas pelo médico Cid Pitombo, a jovem pôde, finalmente, realizar este desejo. Além da vaidade, claro, a cirurgia teve como finalidade, principalmente, a melhora na saúde. Devido à obesidade, Ingrid passou a apresentar outros problemas, entre eles hipertensão, dores na coluna e nos pés.

Infância tranquila

Ingrid teve uma adolescência ativa e saudável: fazia trilha, frequentava academia, praticava muay thay, hidroginástica... Nessa época, pesava apenas 65 quilos. Mas por conta da depressão foi ganhando peso ao longo dos anos, o que pode ter sido motivado também por questões hormonais. "Até porque não sou de comer besteiras. Já passei por endocrinologistas mas tive que tomar remédios de farmácia de manipulação porque eu já tomava uma quantidade grande de antidepressivos", conta a moça, que tem como meta pesar 70 quilos.

Retomada com segurança

O Programa Estadual de Cirurgia Bariátrica, que completa 10 anos de existência em dezembro, reiniciou as atividades tanto no ambulatório quanto no centro cirúrgico na última segunda-feira (13). De acordo com o coordenador do programa, o médico Cid Pitombo, nesta primeira etapa haverá restrições quanto ao número de pacientes atendidos e a retomada total será feita de forma progressiva, à medida que os números de casos de covid-19 no Rio de Janeiro estejam reduzindo.

Em pleno funcionamento, o Programa atende cerca de 1.200 pacientes e realiza 40 procedimentos cirúrgicos por mês. Até o momento, mais de 3.200 pessoas já foram operadas pelo Dr. Cid Pitombo na unidade de saúde, 100% por videolaparoscopia. "É o único programa do SUS a adotar o método menos invasivo de cirurgia bariátrica", garante o especialista. Do total de pacientes, 80% são mulheres, por procurarem mais os serviços médicos em comparação aos homens.

Ele reforça que o Carlos Chagas está adotando todas as medidas de segurança necessárias para o retorno das cirurgias bariátricas, de acordo com os protocolos e medidas exigidas pelas autoridades sanitárias nacionais. Entre elas, está a aferição de temperatura de todos os pacientes que chegarem ao HECC, a instalação de tapetes para descontaminação dos pés, uso contínuo de máscaras etc.

Quem quiser se candidatar à cirurgia bariátrica no hospital estadual deve procurar uma unidade básica de saúde ou uma clínica da família e pedir para ser inscrito na Central Estadual de Regulação (CER). A central faz o encaminhamento para o programa. As regras da fila são estipuladas pelo Ministério da Saúde e pela Secretaria de Estado de Saúde (SES).

O programa estadual atende, em média, por mês, de 160 a 200 pacientes de primeira vez. Atualmente, 4 mil estão em preparação para a cirurgia. Há 1,8 mil pessoas à espera da bariátrica apenas no HECC. Em todo o estado, esse número chega a 5.527, de acordo com a CER.

 

Carla: paciente nº 2.000
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Moradora de Bangu, Carla Cristina Jardim da Silva, de 31 anos, foi a paciente de número 2.000 do Programa Estadual de Cirurgia Bariátrica, submetendo-se à intervenção em novembro de 2018. Ela pesava 147 quilos. Hoje, a vida está (literalmente) mais leve: com 86 quilos, Carla está bem mais feliz e isso se reflete na receptividade das pessoas: ela faz sucesso nas redes sociais e serve de inspiração mostrando a boa forma, receitas saudáveis, rotina de exercícios e o cotidiano ao lado do filho Matheus, de 8 anos.
Em seu Instagram (@caca_cristy), com 12,7 mil seguidores, ela contou a trajetória até fazer a cirurgia. O gatilho ocorreu em 2014, quando teve vários problemas de saúde, dentre eles celulite infecciosa. "Esse foi o ano que senti que ia morrer porque, além disso, tive um golpe maior, foram achados dois nódulos no peito direito".
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Durante o tratamento para esses dois problemas, Carla recebeu as primeiras informações sobre a gastroplastia, mas ficou relutante por considerar o procedimento "muito radical". "Até que meu filho, então com 3 anos, pediu pra eu não ir pro céu. Nessa hora eu só consegui chorar. No dia seguinte fui até a clínica autorizar colocar meu nome na lista do SUS para a bariática e resolvi mudar de vida".
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Recuperação e perda de peso rápidas
Em média, em seis meses, o paciente perde de 70% a 80% do peso após a cirurgia. "Em um ano, o paciente perde de 90% a 100% do peso que deveria perder", afirma o Dr. Cid Pitombo, do Programa Estadual de Cirurgia Bariátrica, ressaltando que o paciente precisa seguir as orientações nutricionais e começar a realizar alguma atividade física. "A cirurgia, por si só, é um mecanismo de proteção eterna. Tem que ter acompanhamento para ter uma dieta adequada e realizar exercícios".
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