Quanto mais distante da capital, maior é a pobreza no Estado do Rio  - Agência Brasil
Quanto mais distante da capital, maior é a pobreza no Estado do Rio Agência Brasil
Por Julia Noia*
Rio - Mulheres negras e periféricas são o retrato das desigualdades existentes na Região Metropolitana do Rio de Janeiro, aponta o Mapa da Desigualdade, desenvolvido pela Casa Fluminense. Dados da Relação Anual de Informações Sociais de 2018 apontam que mulheres negras recebem metade do salário de homens brancos. O levantamento, divulgado ontem, estudou dados governamentais e de estatísticas de geração cidadã para apresentar um panorama da atual situação socioeconômica da população do Rio de Janeiro.
A pesquisa esquematizou 40 indicadores, quatro por eixo temático - Habitação, Emprego, Transporte, Segurança, Saneamento, Saúde, Educação, Cultura, Assistência Social e Gestão Pública -, para observar o panorama geral. Para Vitor Mihessen, coordenador da pesquisa, os dados apontam que, quanto mais nos distanciamos da capital, maior é a pobreza, e esse mapa coincide com a distribuição da população preta e parda na Região Metropolitana.
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Os negros representam 52,78% dos moradores da Região Metropolitana e moram, em sua maioria, na Baixada Fluminense, região com salário médio 42% abaixo do pagamento na capital. No âmbito geral, o Mapa da Desigualdade aponta que negros ganham 41% a menos que brancos em trabalhos formais e, quando se trata também da informalidade, a diferença sobre para 75%. 
"Queremos associar os dados para falar de opressão e racismo, sobretudo no Rio de Janeiro, por conta da sua história. Ao longo da história, os governos foram retirando as moradias de pessoas pobres na área central, e instalação de moradias em terras mais baratas e mais distantes dos centros", explica.
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Muitos moradores da periferia se deslocam diariamente para Rio de Janeiro e Niterói, cidades com maiores oportunidades de emprego - 33,9 e 33,2 pessoas por 100 habitantes, respectivamente - e maiores salários, mas o alto custo do transporte pago diariamente representa mais uma barreira para o acesso paritário a oportunidades.
Segundo Vitor, para alguns moradores, o custeio das passagens chega a 1/3 do salário, e poucos conseguem sustentar o gasto. Nesses casos, observados em municípios como Cachoeiras de Macacu, Rio Bonito e Nova Iguaçu, ele explica que moradores desistem do movimento pendular e ingressam no mercado informal. 
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Negros sofrem mais com desigualdade
Os alarmantes dados de violência na Região Metropolitana retratam as gritantes disparidades entre negros e brancos e, segundo Mihessen, evidencia o conceito de "necropolítica", fundamentado pelo historiador camaronense Achille Mbembe. Dados de 2019 do Instituto de Segurança Pública e do Fórum Brasileiro de Segurança Pública de 2018 apontam que os negros representam 78% de todas as vítimas de violência do Estado na região. Em 5 dos 22 municípios, todas as mortes por intervenção policial foram de pessoas negras.
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"A lógica no Rio de Janeiro é a necropolítica, a política da morte, e não da preservação da vida. Quando há uma série de desigualdades materializadas, temos na segurança a sua face mais mórbida, o genocídio da população negra, também por intermédio do Estado", lamenta Mihessen. 
*estagiária sob supervisão de Gustavo Ribeiro
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