Usuários do BRT sofrem com 40% das estações fechadas
Devido a vandalismo, violência e também à pandemia, 54 estações do modal estão desativadas. Consórcio ameaça parar toda operação em agosto por queda no número de passageiros
Rio - No chão, isqueiros, pinos de cocaína usados e restos de cabos roubados. Os vidros, que protegiam o local, também já não existem mais. O cenário crítico é da estação do BRT Rede Sarah, no corredor Transcarioca. Fechada em abril, devido a vandalismo e furtos, essa é só uma das 54 estações do modal que estão com o serviço interrompido.
Os motivos dos fechamentos, segundo o consórcio, são diversos: nove das estações foram fechadas desde abril, por depredação na pandemia. Para "otimização operacional" no período, 24 também estão inoperantes. E outras 21 estações estão desativadas desde 2018 por vandalismo e violência. O fato é que, ao todo, 40% das estações do BRT encontram-se fechadas.
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O problema afeta o dia a dia de passageiros como Higor Brailko, de 38 anos. Morador de Jacarepaguá, ele utilizava diariamente a estação Recanto das Palmeiras, inativada em razão da pandemia. Ele precisa, então, alongar seu trajeto a pé até a estação seguinte, de Vila Sapê. O local também está depredado e há três meses sem bilheteiro.
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"Fecharam a outra estação, mas essa também está largada. Os ônibus estão andando lotados, mesmo com a regra de distanciamento. Minha preocupação é o BRT parar de vez, do jeito crítico que está", disse ele.
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E a possibilidade de paralisação do sistema não é pequena. Na semana passada, o consórcio emitiu uma nota em que destacou ter acumulado R$ 100 milhões em perdas, devido à queda do número de passageiros após as medidas de isolamento social. Sem auxílio do poder público, a operação pode ser interrompida já no próximo mês, de acordo com o BRT.
"Sinceramente? Eu preferia os ônibus comuns. As pessoas não têm consciência de manter, não pagam passagem. Os ônibus só andam cheios e muitos estão quebrados. Na pandemia, só piorou", desabafou a passageira Renata Leão, 35 anos, moradora de Curicica.
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Em outra estação visitada ontem pelo DIA, Arroio Pavuna, os problemas encontrados não foram muito diferentes: além do acúmulo de lixo, dois moradores de rua dormiam no local.
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Ninguém se responsabiliza
Para o engenheiro de Transportes Márcio D'agosto, da Coppe/UFRJ, é preciso uma intervenção do governo: "Esse sistema que sempre andou sobrecarregado, deteriorou completamente. E cabe à prefeitura exercer o seu papel de gestora pública para garantir a qualidade do transporte. Constitucionalmente, quem deve garantir o transporte para a população é o governo".
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Em nota, a Secretaria Municipal de Transportes informou que "tem agido com rigor para que o BRT Rio, que tem obrigações contratuais a cumprir, empenhe esforços para que as estações fechadas sejam recuperadas e reabertas".
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Além disso, a pasta acrescentou que busca soluções para a queda de receita do consórcio "em benefício da população". Já os casos de depredação, segundo a SMTR, são encaminhados ao governo do estado por se tratar de uma questão de segurança pública.