Lopes destacou a importância de haver uma confirmação, no local de crime, do reagente presuntivo, para que não se gaste tempo nem recursos no laboratório de DNA. O novo reagente foi sintetizado em 2014, quando foi pedida a patente ao Instituto Nacional da Propriedade Industrial (INPI), mas a demanda maior surgiu agora em função da pandemia do novo coronavírus, com o aumento de casos de estupro e de violência sexual. A luz ultravioleta também pode ser usada, já que ela identifica as flavinas, também presente no sêmen.
Coleta de provas
De acordo com o professor, o reagente tem funcionado muito bem em simulações de laboratório. O Programa de Apoio a Projetos de Inovação no Campo da Segurança Pública – Ciência Forense, lançado pela Fundação Carlos Chagas de Amparo à Pesquisa em 2018, apoia a pesquisa.
Testes
"No primeiro momento, vamos fazer experimentos controlados com sêmen de origens conhecidas para testar diferentes suportes, diferentes tipos de tecido e diferentes condições de quantidade desse material para ver se isso influenciaria também na sensibilidade do exame". Serão levadas em conta também misturas do material com terra, areia e material molhado.
De acordo com os resultados obtidos, em um segundo momento, será testada a sensibilidade em amostras reais, forenses, que são recebidas pelo instituto para a realização de análises. "O nosso papel [no projeto do novo reagente] é de verificação de possíveis interferências que possam vir a causar no material em função de parâmetros que fazem parte do nosso cotidiano, a questão do tempo, conservação de material, mistura com outras coisas, que fazem parte da realidade da perícia", disse Selma.
A ideia é que, tal como ocorreu com o luminol (reagente que permite detectar sangue), o novo produto possa ser usado também em locais de crimes para aumentar a sensibilidade da detecção do sêmen e permitir ter indícios de determinadas manchas mais difíceis de serem vistas do que o sangue. Segundo a diretora do instituto, essa é a primeira vez que será utilizado um reagente para detecção de sêmen em cena de crime. Ela tem certeza que as duas fases de testes serão concluídas até o final deste ano. A colaboração com a UFRJ nesse projeto é recente. "Casou tudo, a perícia, o projeto, o tema, tudo".
Banco de DNA
O Banco de DNA do Brasil foi criado a partir de convênio de todas as perícias do país, por meio da Secretaria Nacional de Segurança Pública com o FBI (Departamento Federal de Investigação) dos Estados Unidos, firmado em 2009. O banco brasileiro foi implantado no final de 2011 e utiliza um software (programa de computador) do FBI que faz buscas de amostras de DNA para encontrar suspeitos e pessoas desaparecidas.
Antes da criação do Banco de DNA, o IPPGF tinha materiais guardados de casos abertos, ou seja, evidências criminais que não tinham suspeito direto para fazer confronto, ou exame comparativo. Com o banco, essa possibilidade começou a existir.
Desaparecidos
O objetivo é saber se essas amostras ainda servem para serem colocadas no banco, considerando o tempo que estão armazenadas, e se poderão contribuir para a solução de casos passados. "A ideia é que a gente possa resgatar esses casos passados, a maior parte aconteceu entre 2007 até 2012".
O Banco de DNA da Sepol conta, atualmente, com 2.355 amostras de condenados, desaparecidos, familiares de desaparecidos e locais de crimes. Desse total, a maior parte é de desaparecidos que não foram identificados.