Vans irregulares invadem rotas dos ônibus e ainda chegam a locais sem transporte convencional: o preço é não aceitar do passageiro benefícios como vale-transporte - Cléber Mendes
Vans irregulares invadem rotas dos ônibus e ainda chegam a locais sem transporte convencional: o preço é não aceitar do passageiro benefícios como vale-transporteCléber Mendes
Por Anderson Justino

'Aqui a gente segue a hierarquia, tem gente grande por trás disso tudo. Não tem ônibus, mas tem a van para atender a população. Além de preço justo, a pessoa vai poder escolher em qual vai andar". Quem diz isso é um homem que se apresenta como um dos fiscais do transporte alternativo na Zona Oeste do Rio. Em um ponto de van, próximo à estação de trem de Bangu, ele deixa bem claro: "A van vai deixar você na porta de casa. Estamos em todas as rotas, quero ver o ônibus trabalhar assim".

Com o desaparecimento de algumas linhas de ônibus, o transporte alternativo ilegal ganhou projeção na capital fluminense, principalmente na Zona Oeste. Moradores de Bangu, Realengo, Senador Camará, Campo Grande e Santa Cruz dizem que o número de vans piratas aumentou durante a pandemia. "São dez vans para cada ônibus. Onde não tem linha, a van está chegando", segue falando o tal fiscal.

O transporte ilegal domina a Av. de Santa Cruz, em Senador Camará. Uma moradora do bairro denuncia que por de trás do serviço está a milícia.

"Elas (vans) dominaram a região. Quem pega transporte diariamente consegue perceber quando é legal ou não. As vans ilegais não aceitam o vale transporte, por exemplo. Algumas circulam com adesivo da prefeitura", denuncia uma moradora de Senador Camará.

Única alternativa

Apesar do medo, o transporte clandestino tem sido a única alternativa para um jovem morador de Realengo, que precisa ir para o centro comercial de Bangu todos os dias: "O 741 - Bangu x Barata - era o único ônibus que passavam perto da minha casa. Os outros, além de longe, demoram. A van passa a todo momento. Tenho consciência de que estou colaborando para o crescimento do crime, mas o poder público deveria ajudar a população", reclama o rapaz. 

Aos 72 anos, o representante comercial Ivo Amaral diz que precisa do transporte público para trabalhar. Como não consegue, se vê obrigado a usar as vans. "As vezes fico por mais de uma hora aguardando o ônibus", reclama. 

O DIA fez contato com a Polícia Civil e o Ministério Público, mas até o fechamento desta edição não houve retorno. 

Rio Ônibus repete as mesmas desculpas e SMTR diz estar 'atenta'
Publicidade
Para o consócio Rio Ônibus, o colapso no transporte público da capital fluminense é um "reflexo do congelamento da tarifa, a concessão de gratuidades sem fonte de custeio, a expansão do transporte alternativo clandestino (notadamente na Zona Oeste da cidade), o aumento do desemprego, entre outros problemas".
Segundo o órgão, a crise põe em xeque 26 mil empregos diretos (rodoviários) e 68 mil indiretos, além de impactar a operação das empresas de ônibus, como a ausência de linhas e o envelhecimento da frota.
Publicidade
"Já o transporte clandestino segue atuando sem controle, fortemente operado pela milícia", conclui a nota.
Em agosto, a Secretaria Municipal de Transporte (SMTR) disse que o numero de vans cadastradas na capital é de 3.358. Ao todo, são 143 linhas de vans. Em Campo Grande, Bangu, Santa Cruz e Realengo, são 1.987 para 76 linhas.
Publicidade
Em nota, a SMTR diz reconhecer que há linhas que deixaram de circular, "à revelia do poder concedente, e está atenta, tomando as providências cabíveis para que os serviços sejam aprimorados pelos operadores". A pasta garante estar realizando estudos para readequar o sistema.
Você pode gostar
Comentários