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Rafael Alves influenciou na licitação do Autódromo de Deodoro, aponta MP
Diálogos obtidos pelo Dia mostram influência de Alves, apontado como líder do 'QG da Propina' na administração municipal
Por Bruna Fantti
Rio - Rafael Alves, empresário apontando pelo Ministério Público por comandar o 'QG da propina' dentro da Prefeitura do Rio, teria sido o responsável, segundo o MP, por introduzir o empresário José Antônio Soares Pereira Júnior, JR Pereira, na administração pública municipal. JR é dono da Rio Motorpark, companhia que foi declarada vencedora (e única a concorrer) na licitação para a polêmica construção de um autódromo na região de Deodoro, Zona Oeste do Rio. O empresário, através de sua assessoria, nega ter tido, algum dia, influência sobre a prefeitura ou qualquer órgão público.
No entanto, diálogos de WhatsApp, apresentados pelo MP, mostram que Rafael Alves validou a influência de JR na prefeitura. As conversas constam no pedido de busca e apreensão que o Ministério Público fez à Justiça para justificar a apreensão do celular e pendrive do prefeito Marcelo Crivella, na última quinta-feira. Os promotores investigam um suposto esquema de propina que envolve licitações direcionadas.
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A construção do autódromo em Deodoro é palco de embate judicial. Ministério Público estadual e federal afirmam que a obra é ilegal devido ao estudo de impacto ambiental da construção das pistas dentro da floresta do Camboatá, área de Mata Atlântica que comporta espécies em extinção. Mesmo assim, Crivella defende a construção, que será da iniciativa privada, alegando geração de empregos. A prefeitura atua fazendo o asfaltamento que dará acesso ao Autódromo.
Mesmo em meio à pandemia do coronavírus, a Prefeitura não parou de atuar para pedir o licenciamento das obras. Em julho, a procuradoria-geral do Município recorreu ao STF (Supremo Tribunal Federal) para destravar o andamento das obras, que necessitava de um debate público. O Tribunal de Justiça do Rio, na ocasião, havia suspendido a audiência pública afirmando que o foco da administração tinha de ser o combate à Covid-19. A audiência foi realizada de forma virtual.
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As promotorias já investigam, desde 2019, suposto direcionamento na licitação do Autódromo. Isso porque, a Rio Motopark foi criada dias antes do certame, com capital social de R$ 100 mil, valor muito abaixo do necessário para a assinatura do contrato, orçado em R$697 milhões. E, JR Pereira é sócio da consultoria que ajudou a fazer o edital.
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Nos diálogos, os promotores afirmam que o marqueteiro Marcello Faulhaber, responsável pela campanha de Crivella, "deseja que Rafael Alves receba o empresário interessado na construção do autódromo do Rio de Janeiro. Agindo desta forma, Faulhaber revela a indispensável validação e aprovação de Rafael Alves para o avanço das negociações, circunstância que evidencia a expressiva influência perante o executivo municipal, autorizada pelo prefeito Marcelo Crivella".
Faulhaber: Combinei de ir com o investidor do Autódromo para irmos aí 16h30.
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(...)
Faulhaber: Que horas eu posso levar o pessoal do Autódromo na CDA para conversar com você e Marcelo amanhã à tarde?
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Alves: 16h.
No dia 25/01/2018, outro encontro se confirma:
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Faulhaber: O JR do autódromo vai te chamar. Faz uma força para recebê-lo. É meio urgente.
Alves: Já marquei com ele.
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Influência até no Carnaval
Outras mensagens extraídas do celular do empresário Rafael Alves revelam influência no carnaval das escolas de samba do Rio. Ele é irmão de Marcelo Alves, que foi presidente da Riotur, indicado por ele.
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Em uma das mensagens, Alves atuou para que o prefeito Crivella fizesse uma carta pela defesa da Grande Rio e Império Serrano não serem rebaixadas no Carnaval de 2018.
"Assim, todos viram que quem manda sou eu e ponto. A caneta é minha, não de A ou B, e sim só minha", escreveu Alves ao doleiro Sérgio Mizrahy, que fez delação premiada.
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Outro lado:
Em nota, o advogado de Rafael Alves, João Francisco Neto, afirmou que:
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"As precipitadas acusações se amparam em depoimento de delator, que não tem compromisso com a verdade. As conversas em questão são todas privadas e ocorreram há mais de dois anos. O Ministério Público interpreta tais mensagens de forma malévola e enviesada, sem se preocupar com os esclarecimentos do Rafael, que nunca foi ouvido, embora venha requerendo esta oportunidade há mais de 9 meses”.
A Prefeitura negou qualquer irregularidade ou influência no processo licitatório do Autódromo:
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"O processo seguiu todos os trâmites sem nenhum pedido político ou arranjo que beneficiasse alguém", disse, em nota.
Já a assessoria da Rio Motorpark argumenta que JR Pereira sequer foi citado pelo Ministério Público no processo. Leia a nota na íntegra:
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"O diretor-executivo JR Pereira refuta veementemente as afirmações contidas nessa reportagem e esclarece que não foi citado na peça do Ministério Público que embasou a operação do último dia 10 e nem tampouco foi alvo de busca e apreensão.
A leitura da peça, que teve seu sigilo quebrado pela Justiça, deixa muito evidente que o Ministério Público não aponta a existência de qualquer influência na licitação para construção e operação do autódromo, assim como não afirma que quem quer que seja teria sido responsável por introduzir o diretor-executivo na administração pública municipal.
Além disso, os diálogos transcritos na peça mostram tão somente uma solicitação de agenda formal com o Sr. Marcelo Alves, à época Presidente da Riotur, para tratar de assuntos pertinentes ao projeto do autódromo e não há, portanto, elementos que possam resultar na afirmação de que 'Diálogos de Whatsapp mostram que Alves validou a influência de JR na prefeitura'.
JR Pereira não tem nem nunca teve qualquer influência na Prefeitura do Rio ou em qualquer outro órgão público. Como executivo à frente de um empreendimento no modelo Parceria Público-Privada, já mantinha, desde antes das datas que constam nas transcrições de mensagens, interlocuções em caráter profissional com representantes dos órgãos diretamente responsáveis pelo projeto do autódromo, inclusive com o Prefeito Marcelo Crivella, o que é um procedimento natural para quem está à frente de um empreendimento no modelo PPP."