É tradição distribuir doces, há mais de 10 anos, na família da engenheira e espírita umbandista Adriana Francisco da Hora (de blusa branca) - Cléber Mendes
É tradição distribuir doces, há mais de 10 anos, na família da engenheira e espírita umbandista Adriana Francisco da Hora (de blusa branca)Cléber Mendes
Por Letícia Moura*
Diante da fé em São Cosme e São Damião, a tradição de alegrar a criançada com a distribuição de saquinhos de doces resistiu aos tempos de pandemia. Mas, diferente dos anos anteriores, a celebração não teve grande movimentação nas ruas da cidade. Ao contrário. Devido à covid-19, muitos optaram por entregar as guloseimas de dentro dos carros mesmo. Outros preferiram distribuir ou esperar nas portas das suas próprias casas.

Na paróquia dedicada aos santos gêmeos, no Andaraí, na Zona Norte, os fiéis participaram de missas pela manhã e à noite. Às 7h, a celebração foi presidida pelo Arcebispo do Rio, Dom Orani Tempesta. Às 9h, uma carreata deixou a igreja e percorreu ruas do bairro.

Há três anos, o especialista em tecnologia da informação, Leonardo Lima, de 38 anos, distribui saquinhos de doces. Segundo ele, tudo após ter sido agraciado — os dois santos foram médicos conhecidos pelas curas milagrosas na Idade Média.

A filha de Leonardo precisou ficar internada quando nasceu, em 2017. "Eu pedi que, se ela saísse do hospital antes do dia 27, eu daria doce. Na época, ela saiu no dia 26 de setembro. E no último dia 21, ela fez três anos", revelou.

Desde então, Leonardo retribui a conquista com a doação anual. Ontem, ele percorreu de carro os bairros de Todos os Santos, Cachambi e Engenho de Dentro, na Zona Norte, para distribuir 100 saquinhos, e sentiu diferença no movimento dos pequenos à procura das guloseimas.

"Eu vi muitas crianças nas portas das suas casas, usando máscaras e com os pais. Em várias casas e prédios, o pessoal estava esperando os carros passarem para pegar os doces. No Engenhão vi várias famílias sentadas. Conforme os veículos iam parando, elas pegavam os saquinhos", disse.

Como precaução, Leonardo explicou que preferiu ir sem a sua esposa para fazer as doações, mas com a máscara como companhia. "Sempre tentava dar o doce pela janela do carona, porque tinha aquele espaço vazio, para não ter tanto contato", contou.
 
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Tradição além da religião
O culto aos santos médicos existe tanto nas igrejas Católica e Ortodoxa, assim como no Candomblé e Umbanda. Na família da engenheira e espírita umbandista Adriana Francisco da Hora, de 29 anos, é tradição doar doces há mais de dez anos, em homenagem aos orixás Ibejis. Ela conta que há pelo menos oito anos, distribui os doces na porta de casa, em frente ao setor Oeste do Engenhão, na Zona Norte. Neste ano, Adriana e parentes entregaram aproximadamente 200 saquinhos e 100 marmitas com bolo e brigadeiro.

Ela e a família redobraram os cuidados com a higiene, em função da pandemia. "Todos distribuímos usando máscaras e sempre passando álcool em gel na mão, a cada vez que entregávamos um saquinho para as crianças", esclareceu.

Adriana também percebeu diferença na busca pelos doces. "A maioria das crianças estava nos carros. Eles passavam e a gente entregava. Mas grupos de crianças nas ruas, como costumava ter nos outros anos, não tinha muito", comparou.
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*Estagiária sob supervisão de Luana Dandara