Hospital Estadual Alberto Torres - Google / Reprodução
Hospital Estadual Alberto TorresGoogle / Reprodução
Por Bernardo Costa
RIO - Apesar de a Secretaria de Estado de Saúde (SES) ter divulgado, no início do mês, que iria pôr fim ao modelo de gestão de unidades de saúde por intermédio de Organizações Sociais (OSs), uma nova OS, a Instituto de Desenvolvimento Ensino e Assistência à Saúde (Ideas), foi contratada pelo estado para assumir a gestão e operacionalização dos serviços do Hospital Estadual Alberto Torres (Heat) e a UPA do Colubandê, em São Gonçalo, e o Hospital João Batista Cáffaro, em Itaboraí. A processo de transição teve início ontem.

As mesmas unidades seriam as primeiras, segundo havia sido divulgado pela SES, a serem assumidas pela Fundação Saúde, empresa pública vinculada à secretaria, como parte da estratégia de substituição das OSs e fortalecimento da fundação para a gestão das unidades de saúde estaduais.

A OS Ideas, cujo contrato de gestão não foi publicado no Diário Oficial do estado, assumiu as unidades, ontem, no lugar da OS Instituto dos Lagos Rio, que sai devendo dois meses de salário aos profissionais: agosto e setembro.

"O salário de julho caiu somente na semana passada. Foi como que um cala a boca pra gente. Agora, com a nova OS, ninguém ainda nos falou nada sobre os pagamentos. Não temos nenhuma posição. Achamos que vamos sofrer calote, pois o histórico da OS (Instituto dos Lagos Rio), que está saindo, não é bom. Ela troca de CNPJ e já saiu de outras unidades devendo", disse uma enfermeira do Hospital Estadual Alberto Torres, sem se identificar.

Além dos meses de agosto e setembro, os profissionais afirmam que deveriam receber também pela rescisão do contrato com a OS Instituto dos Lagos Rio. "Estão dizendo que temos que ir até o escritório deles, no Rio, para dar baixa na carteira de trabalho. Mas isso a gente só fica sabendo entre a gente. Não há uma posição oficial", disse uma enfermeira.

Com salários atrasados, parte dos profissionais alega não ter condições de comparecer ao trabalho. Ontem, o setor de emergência pediátrica estava com apenas um técnico de enfermagem.

"Era para ter mais uma pessoa comigo, mas ela não veio", comentou um profissional.

O porteiro Elbert Martins, de 38 anos, não conseguiu atendimento. Ele chegou à emergência do Hospital Alberto Torres, na manhã de ontem, se queixando de dores na coluna. Na classificação de risco, foi encaminhado para a UPA do Colubandê, que o orientou a procurar um ortopedista.

"Não temos a especialidade de ortopedia aqui, só no Hospital Geral (Alberto Torres)", disse a atendente da UPA.

Para Elbert, fica o sentimento de descaso. "É desumano. Estou aqui com dores e tendo que ir de um lugar para o outro, gastando dinheiro de passagem, e sem ser atendido com dignidade. Recebi duas injeções na UPA, mas não ainda não sei qual é o meu problema, nem a gravidade dele. Agora vou pra casa. Estou cansado, pois estou desde cedo nessa correria", disse Elbert.

A Secretaria de Saúde alegou que a troca do modelo de gestão sofreu atraso, em função da substituição do secretário de Saúde. “Como o contrato com a Lagos Rio terminava em 27/09, foi aberto um processo emergencial de escolha de nova organização social para a gestão das unidades. Optou-se por um processo de dispensa de seleção (...) Foi assinado contrato de um ano, mas com cláusula que permite sua rescisão e a substituição da OS assim que um contrato definitivo for assinado”, justificou, em nota.

Segundo a OS Instituto dos Lagos Rio, a empresa aguarda repasse financeiro do governo do estado para quitar os salários atrasados dos funcionários. Sobre o caso de Elbert, a OS alega que o Hospital Alberto Torres é uma unidade de urgência e emergência e não presta atendimento ambulatorial. De acordo com a empresa, na sala de classificação de risco foi constatado que Elbert não era paciente envolvido em trauma, a especialidade da unidade.

Já a OS Ideas informou que vai estabelecer “novos vínculos contratuais com os antigos funcionários das unidades”, mas sobre o pagamento de atrasados, se limita a dizer que “esta questão está sendo tratada entre a SES-RJ e a antiga gestora.