Coluna Por Aí. Reprodução - ALEXANDRE MEDEIROS
Coluna Por Aí. ReproduçãoALEXANDRE MEDEIROS
Por Alexandre Medeiros
Quando eu a conheci, ela tinha seis anos e eu, 18. Fomos apresentados pelo professor Moacy Cirne, que na faculdade de Jornalismo era titular de uma cadeira de nome pomposo: Meios Não Verbais da Comunicação. O Moacy era amante e um dos maiores estudiosos do mundo de quadrinhos. E sempre que tinha uma chance falava de quadrinhos nas aulas. Nem bem fomos apresentados pelo Moacy e já me apaixonei pela menina. Ela era inteligente, irônica, respondona, autêntica, altiva, feminista, ou seja, reunia tudo o que um calouro de 18 anos como eu podia almejar numa paixão. Ainda por cima, quase uma covardia, ela adorava os Beatles. Não deu outra: Mafalda nunca mais saiu da minha vida.
Quem criou a Mafalda foi o Quino, cartunista argentino de origem espanhola batizado Joaquín Salvador Lavado. Ele morreu ontem, aos 88 anos. Eu e milhões de pessoas ao redor do mundo ficamos tristes. Mas a Mafalda está aí mesmo para nos levar adiante. Ela já nos ajudou a superar momentos de tristeza e opressão. Na época da faculdade, quando vigoravam os ares autoritários que hoje parecem emergir, ela sempre era uma voz que se levantada e nos inspirava. Só temos que agradecer ao mestre Quino por isso.
Curioso é que Mafalda foi criada graças a uma campanha desenhada pelo Quino para uma marca de lava-roupas e geladeiras, em 1962. A campanha nem foi lançada mas, ainda bem, o Quino ressuscitou a menina em 1964, já como estrela das tiras publicadas no jornal argentino 'Primera Plana'. Em 1973, Quino decidiu que não desenharia mais a Mafalda. Mas ela então já era eterna. Cansei de dar de presente livros com as tiras da Mafalda para minhas duas filhas, presentes que também eram para mim. Mafalda deve ter ajudado as duas a virarem feministas e respondonas. Graças a Deus. Ah, e a gostarem dos próprios cabelos, que são lindos mesmo.
Só tem uma coisa da qual eu discordo da Mafalda. Ela odeia sopa. Já eu adoro. Inclusive faço uma canja de galinha das mais razoáveis. E se Mafalda provasse da sopa de entulho com músculo bovino de dona Celina, a popular minha mãe, talvez até mudasse de ideia. De resto, concordamos em tudo. Talvez o que mais goste nela seja a capacidade de encerrar uma conversa que já principia avessa com uma tirada lacradora. Tipo certa vez que um vendedor bateu à porta e ela atendeu.
- Bom dia, menina. O chefe da família está?
- Nesta família não há chefes, nós somos uma cooperativa.
E bateu a porta na cara do sujeito. Mafalda, eu já disse que te amo?